Em ato de 8/1, Lula agradece a militares em meio a gritos de 'sem anistia'

O presidente Lula (PT) agradeceu à presença dos comandantes das Forças Armadas no evento do 8 de Janeiro no Palácio do Planalto, em meio a gritos de "Sem anistia" por parte do público.

O que aconteceu

Gritos de "sem anistia", em evento oficial no salão nobre do Planalto que marca os dois anos da invasão às sedes dos três Poderes, em Brasília. Com público majoritariamente apoiador de Lula, as autoridades foram recebidas com aplausos e gritos de "sem anistia", após a execução do Hino Nacional, cantado pela ministra da Cultura, Margareth Menezes.

O evento teve diversas referências ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), embora nunca citado pelas autoridades. "Cadeia para o genocida", gritou outro apoiador, após o discurso de Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça.

Lula tentou contemporizar. Último a falar, o presidente fez um aceno os militares presentes logo no início da fala. Tomás Paiva, do Exército, Marcos Olsen, da Marinho, e Carlos Damasceno, da Aeronáutica, foram levados pelo ministro da Defesa, José Múcio, a um certo contragosto, segundo pessoas ligadas ao Planalto.

Senhores comandantes, eu quero aqui agradecer a José Múcio, que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que a gente [tem de] construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional.
Lula, em aceno a militares

O presidente destacou a importância das Forças. "[Na defesa de] os nossos 16 mil quilômetros de fronteira seca, dos nossos quase 5 milhões e meio de quilômetros quadrados de mar sob a responsabilidade do Brasil, da nossa maior floresta de reserva no mundo", disse Lula.

Lula ainda citou o filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, sobre Eunice Paiva. "Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivo e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas de 8 de janeiro de 2023", afirmou. A AGU (Advocacia-Geral da União) lançou hoje o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia, em homenagem a ela.

O público seguiu no mesmo tom. Mesmo após a fala de Lula, seguiram gritando "sem anistia", que foi entoado durante a descida da rampa rumo à praça dos Três Poderes, onde o presidente e representantes dos três Poderes fizeram um gesto simbólico de "abraço à democracia".

Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram, todos, inclusive os que planejaram o assassinato do presidente, do vice-presidente da República e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

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A democracia será sempre uma obra em construção. A democracia será plena quando todos e todos os brasileiros, sem exceção, tiverem acesso à alimentação de qualidade, saúde, educação, segurança, cultura e lazer. Quando tiverem as mesmas oportunidades de crescer e prosperar e os mesmos direitos de sonhar e serem felizes.

Estamos aqui para dizer alto e bom som, ditadura nunca mais, democracia sempre. Para lembrar que, se estamos aqui, é porque a democracia venceu. [...] Ao contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices, e usada para mentir contra ele, espalhar o ódio e incitar a violência diferente.
Lula, em ato sobre o 8/1

Alexandre de Moraes foi ovacionado. A plateia aplaudiu de forma entusiasmada o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) quando o nome dele foi anunciado pela mestre de cerimônias —nem Lula teve uma recepção tão calorosa. O magistrado é responsável pelos inquéritos dos participantes dos atentados.

Lula também fez piada com o ministro. "Eu, 79 anos de idade, já vivi muito a vida da Suprema Corte brasileira e nunca conheci um ministro da Suprema Corte que tivesse um apelido pelo povo chamado Xandão", disse o presidente, arrancando risadas do magistrado e aplauso do público. "E desse apelido você nunca mais vai se libertar, pode ficar sério. E não adianta ficar nervoso que ninguém vai parar de te chamar de Xandão."

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Ausência de chefes do Legislativo e Judiciário

Todos os presidentes dos Poderes foram convidados, mas nenhum compareceu. Os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes representaram Luís Roberto Barroso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e o vice-presidente do Senado, Veneziano do Rêgo (MDB-PB), representa Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

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A deputada Maria do Rosário (PT-RS) fez um discurso cheio de recados. Representando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ele fez diversas referências à não anistia dos envolvidos na tentativa de golpe, sem, também, citar o ex-presidente Bolsonaro.

Não podemos ser tolerantes com os intolerantes. Se estamos aqui, é porque entendemos que aqueles que tentam romper com a democracia não podem ter de nossa parte a leniência.
Maria do Rosário, no 8/1

Quando a deputada explicou por que Lira não veio, inclusive, ouviu ironia por parte da plateia. "Foi isso, sim", gritou uma apoiadora, ao ouvir que ele não havia vindo por causa da saúde do pai, ex-senador Benedito de Lira, internado em Alagoas. Parte do público riu.

"É necessário que façamos justiça", disse Vital do Rêgo, ao falar dos planos de assassinar Lula e Moraes. "Não podemos tratar igualmente os que são desiguais", afirmou o senador, que disse não ser um evento partidário, mas reforçou as palavras de Rosário.

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Como foi o ato

Lula programou um grande evento, com devolução das 21 obras de arte destruídas. Só no Planalto foram três cerimônias com a presença dos outros Poderes, seguidas por um ato público na praça dos Três Poderes, à frente do Palácio, onde também é esperada mobilização social, apesar da chuva.

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O primeiro ato foi a entrega do relógio de Balthazar Martinot, do século 18. Presente da corte francesa a dom João 6º, a peça foi completamente destruída e volta depois de dois anos, após ser enviado à Suíça para reparação, que foi feita sem custos, segundo o governo.

A primeira-dama Janja da Silva abriu a cerimônia. Em discurso lido, ela falou que os vândalos do 8/1 seguem "estimulando falas fascistas", em referência aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), porém sem citá-lo. O ato ocorreu em gabinete fechado no terceiro andar do Planalto.

O Palácio do Planalto, onde estamos hoje, foi vítima do ódio que estimula e continua estimulando atos antidemocráticos, que continua estimulando falas fascistas e autoritárias. Para isso, a nossa resposta é união, a solidariedade e o amor.
Janja da Silva, no 8/1

O segundo ato celebra Di Cavalcanti. A obra "As Mulatas", do pintor brasileiro, foi recolocada no terceiro andar do Planalto, onde fica a sala presidencial. Avaliada em pelo menos R$ 8 milhões, havia sido cortada em sete pontos distintos. Ela representa as 21 obras de arte destruídas e devolvidas integralmente nesta semana.

Por fim, Lula deverá descer a rampa para o ato de "Abraço da Democracia". É neste momento que ele deverá se encontrar com os movimentos sociais, embora, como o UOL mostrou, não há expectativa de que o público seja tão grande.

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