O Ministério da Saúde admite a impossibilidade de contabilizar o número real de casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus no País e afirma que isso não interfere na tomada de decisões ou na definição e aplicação de políticas públicas para a contenção da crise.
Segundo a pasta, após a confirmação de contaminação comunitária no país, deixou de fazer sentido a contagem de casos um a um, e os números passaram a ser determinados por amostragem.
"Não faz mais sentido testar pessoas que têm caso leve. O importante agora é testar os casos graves para entender como o vírus se comporta", justificou o ministério ao UOL.
De acordo com o infectologista do Hospital Emílio Ribas, Natanael Adiwardana, a restrição de testes a um determinado grupo é uma estratégia de vigilância epidemiológica utilizada quando não se sabe mais a origem das contaminações. "Quando você não tem mais esse link epidemiológico, a estratégia muda e você faz a contagem por amostragem", explica.
Além de contabilizar todos os casos graves internados, são criados hospitais sentinelas onde são feitos testes em pacientes considerados não graves e, a partir do resultado daquele grupo, é determinado, por dados estatísticos, qual é a média de contaminação da população como um todo.
Além disso, também são considerados para contagem os profissionais de saúde que são testados e apresentam resultado positivo. Essa soma de casos graves, sentinelas e profissionais de saúde permite criar um cenário aproximado da população.
"Você consegue, sim, ter uma ideia bem aproximada da quantidade de casos que estão ocorrendo", afirma o especialista.
Ao UOL, a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro explicou que é com base no resultado por amostragem que as políticas públicas que serão adotadas são determinadas. De acordo com os números de contaminados que são calculados diariamente, a pasta tem projetado como esses números irão crescer em algumas semanas e a, partir disso, as decisões de recomendar a quarentena, o fechamento de estabelecimentos e a suspensão de ônibus foram tomadas, disseram.
"Como os casos já são esperados, estamos tendo que elencar prioridades. Os pacientes graves e do grupo de risco, que têm maior tendência a terem complicações, são os que a gente realmente está escolhendo para fazer os testes. Por isso e para isso a gente vem tomando as ações de medidas restritivas que o governador tem anunciado desde a semana passada", diz a pasta.
Questionado pelo UOL no dia 14 de março, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a defasagem nos dados oficiais não afeta a tomada de decisões do governo federal. O secretário-executivo do Ministério, João Gabbardo dos Reis, também garantiu não haver prejuízo. "Não muda nada o fato de o caso ter sido notificado agora e entrar amanhã [na plataforma do governo], não vai mudar absolutamente nada", afirma o secretário.