Sem restrição de contatos, coronavírus dobrará a cada 3 dias, diz governo
Resumo da notícia
- Governo e pesquisadores afirmam que covid-19 infectará mais brasileiros; hoje, são 98 casos
- Esforço é para diminuir ritmo das infecções e dar tempo para hospitais absorverem doentes
- Doença se espalha rápido se aglomerações não forem evitadas
- Fim do verão e sintomas leves, que dificultam perceber a infecção, contribuem para doença avançar
Se medidas de restrição de contato social, como cancelamento de eventos, não forem adotadas, o ministério da Saúde estima que os casos de covid-19, doença causada pelo coronavírus, dobrarão a cada três dias no país.
Isso resultaria, partindo-se dos 98 casos confirmados pela pasta hoje (13), em mais de 200 mil infectados daqui um mês, em 15 de abril.
Para evitar esse cenário, documento de hoje do Centro de Operações de Emergências montado pelo ministério recomenda a estados e municípios medidas para "minimizar o contato próximo entre as pessoas antes e durante o pico da epidemia", além de campanhas de conscientização sobre higienização e etiqueta respiratória.
O professor Eliseu Waldman, do departamento de Epidemiologia da USP (Universidade de São Paulo), concorda com as restrições.
"Se não houver nenhuma medida, o aumento será muito rápido. A diminuição dos contatos não impede que um número relativamente alto da população se infecte, mas o esforço é que esse processo de disseminação do vírus seja alongado e evitar pressão sobre hospitais", afirma.
Nesta noite, São Paulo anunciou a suspensão de aulas na rede estadual e de eventos com mais de 500 pessoas, e o governo Rio de Janeiro afirmou que limitará o acesso de banhistas às praias.
Em duas semanas, o Brasil passou de um caso confirmado para quase cem — e o número real deve ser maior, dado o intervalo entre as notificações nos hospitais e nas secretarias estaduais e a contabilização por parte do governo federal, além dos pacientes assintomáticos que não fazem teste.
Aumento rápido visto no mundo
Além do Ministério da Saúde, pesquisadores independentes também projetam aumento da doença no Brasil, repetindo curvas vistas em outras partes do mundo.
Após analisar o histórico recente de 50 nações, o centro de pesquisa clínica do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, calculou que a covid-19 tem a capacidade de se decuplicar (multiplicar o total de casos por 10) a cada 7,2 dias.
Na prática, isso quer dizer que o Brasil deve ter 4.000 infectados 15 dias após o 50º caso — que foi registrado na última quarta (11). Uma semana depois, esse número poderá chegar a 30 mil pacientes com coronavírus.
No Brasil, fim do verão aumenta cautela
Para Flávio Codeço, pesquisador de doenças infecciosas na Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, o coronavírus tem capacidade maior de invadir o corpo humano na comparação com os transmissores das gripes comuns e aponta razões.
"A gente tem gripe todos os anos no inverno, e o vírus que entra em um determinado ano é, vamos dizer, primo do vírus da gripe do ano anterior, então a imunidade adquirida no ano anterior nos dá uma proteção parcial. Com o coronavírus não tem isso, porque ninguém teve nada parecido", comenta.
Ele concorda que a velocidade de novas infecções deve se aumentar nos próximos meses por conta do inverno, período em que as pessoas tendem a se concentrar em ambientes fechados.
"Imagine o metrô de São Paulo na hora do rush. Se uma pessoa estiver com o coronavírus, outros pegarão. É impossível não ter essas trocas de gotículas", diz ele.
Waldman destaca outro fator para o aumento dos casos no inverno: a baixa umidade relativa do ar vista em parte do Sudeste. "Esse ambiente agride os mecanismos de defesa da mucosa respiratória", diz ele.
Ele pondera, ainda, que as infecções podem ser mais volumosas agora e desacelerar no inverno.
"Se tivermos um aumento grande nos próximos dois meses, e entre maio e junho já houver uma parcela elevada de pessoas imunes, possivelmente esse aumento não será tão expressivo [em julho]", afirma.
Sintoma leve contribui para a proliferação
Segundo Waldman, 80% dos infectados têm sintomas leves, semelhantes a um resfriado, o que faz com que muita gente não perceba que está doente e passe adiante a infecção.
O problema, completa Codeco, é que o vírus é mais perigoso para determinados grupos.
"Idosos acima de 60 anos, pessoas que tenham doenças respiratórias crônicas e portadoras do vírus HIV são mais vulneráveis e precisam ter prioridade na atenção à saúde", pontua.
Ainda não há cura nem vacina para prevenir a covid-19.
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