Recebi ligação até do jornal britânico The Guardian, você acredita?
O delegado Pedro Luis de Souza, 62, chamou a atenção pela sensibilidade com que se posicionou sobre a tortura de um jovem negro de 17 anos, que foi amordaçado e chicoteado por dois seguranças de um mercado da zona sul de São Paulo porque tentou furtar quatro barras de chocolate.
O adolescente foi amarrado, despido e agredido com fios elétricos. As imagens da tortura foram registradas pelos agressores e repercutiram nas redes sociais durante a última semana. O caso entrou em segredo de Justiça na tarde de ontem.
Titular do 80º DP (Distrito Policial), responsável pelas investigações, Souza foi o responsável por pedir a prisão temporária, válida por 30 dias, dos seguranças Davi de Oliveira Fernandes, 37, e Valdir Bispo dos Santos, 49, suspeitos de terem torturado o jovem. Fernandes foi preso na noite de ontem; Santos permanecia foragido até a publicação desta reportagem.
Além da investigação contra os funcionários do supermercado, a equipe da delegacia apura se os mesmos seguranças torturaram outro homem e uma criança que também tentaram furtar objetos do estabelecimento.
"Nunca investiguei algo parecido. Já estive em vários casos graves. Já atendi na delegacia de homicídios e vi corpos mutilados, sem cabeça. Pai que mata filho, filho que mata pai. Infelizmente, essas ocorrências existem. Mas, sobre o fato do menino torturado, talvez a maior gravidade seja que vivemos num país em que o período escravocrata vigorou durante anos. O Brasil foi o último país que aboliu a escravidão. E isso se reflete até os dias de hoje", afirmou o delegado ao UOL.