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Segurança suspeito de torturar adolescente em supermercado é preso

Jovem chicoteado por seguranças de supermercado mostra costas após sofrer agressões - 03.set.2019 - Reprodução/TV Globo
Jovem chicoteado por seguranças de supermercado mostra costas após sofrer agressões Imagem: 03.set.2019 - Reprodução/TV Globo

Alex Tajra e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

06/09/2019 18h22Atualizada em 06/09/2019 19h51

A Polícia Civil de São Paulo afirmou hoje que prendeu Davi de Oliveira Fernandes, 37 anos, um dos seguranças suspeitos de terem torturado um jovem negro de 17 anos dentro de um supermercado de São Paulo.

A informação foi confirmada pelo UOL com o delegado do caso, Pedro Luis de Souza, do 80º DP (Distrito Policial), localizado na Vila Joaniza, zona sul da capital. A reportagem apurou que Fernandes não se entregou e foi detido pelos policiais.

O mandado de prisão fora expedido na última quarta-feira (2), após decisão assinada pela juíza Tatiana Saes Valverde Ormeleze. Para sustentar a prisão dos seguranças, a juíza citou "a imprescindibilidade da segregação para o sucesso da persecução penal" e que, os seguranças, cientes das suspeitas que recaem sobre eles, buscariam "apagar pistas e ocultar provas."

Ontem, o UOL mostrou que a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar se ocorreram outros casos de tortura dentro do estabelecimento. Além do caso de agressão do estudante, que veio à tona nesta semana, há suspeita de que seguranças tenham torturado outras duas pessoas.

A equipe do 80º DP está tentando confirmar onde e quando as vítimas foram vítimas das torturas física e psicológica. Não havia, até então, nenhum registro de ocorrência.

Em um dos novos casos que estão sendo apurados, seguranças empilharam produtos que a vítima teria tentado roubar no supermercado Ricoy, embalagens de linguiça e frango congelados, chicletes, desodorante e um xampu. Depois, a mesma vítima aparece com o rosto machucado, encostado em uma estrutura com o logotipo do supermercado.

A terceira vítima seria uma criança. Em um vídeo, um dos seguranças fala a ela: "Você vai ficar em uma cela cheio de moleques da sua idade, ou mais velho, tem uns lá que gostam de abusar de outro moleque. Olha que legal. Tem uns que vão te dar uma surra bem dada. Olha que legal".

O caso entrou em segredo de Justiça na tarde de hoje.

Jovem torturado vai ao Conselho Tutelar

O adolescente de 17 anos torturado no mercado Ricoy esteve ontem, acompanhado de seu irmão Wagner Bispo de Oliveira, 30, no conselho tutelar da Cidade Ademar.

Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), o conselho tutelar encaminhará o adolescente para acompanhamento psicossocial junto ao Cras (Centro de Referência da Assistência Social) e ao Caps (Centro de Apoio Psicossocial).

Início das investigações

O caso veio à tona na última segunda-feira (2), quando o estudante denunciou o caso na Polícia Civil. Em uma manhã de julho, conforme o Boletim de Ocorrência registrado, ele teria tentado furtar quatro barras de chocolate quando fora abordado na saída do supermercado pelos seguranças.

O jovem foi levado a uma sala dentro do estabelecimento, amordaçado, despido e chicoteado com fios elétricos. No depoimento, consta ainda que o jovem não quis registrar a denúncia naquele momento, "pois temia pela sua vida".

"Na saída do supermercado, ouviu S. [um dos seguranças acusados] dizer que, caso falasse algo para alguém, iria matá-lo", diz o documento. Os seguranças gravaram em vídeo as agressões. O UOL teve acesso à filmagem e confirmou sua veracidade com o delegado Pedro Luis de Souza.

No vídeo, o jovem aparece quase inteiramente nu, com as calças abaixadas na altura do joelho, enquanto é agredido com uma espécie de chicote por um homem. No local onde o jovem fora torturado, é possível notar caixas lacradas e caixotes de plástico com frutas, no que aparenta ser um depósito.

O supermercado disse já ter afastado os seguranças, que prestavam serviço por meio de uma empresa terceirizada. Em nota, a rede Ricoy afirmou que "repudia todos os casos de violência que ocorreram dentro e nos arredores de suas lojas por funcionários ou terceirizados."

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou à reportagem que os seguranças envolvidos no crime contra um adolescente não são policiais. "Os autores tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias pela Justiça e estão foragidos. As investigações seguem para localizá-los assim como apurar novas denúncias envolvendo o supermercado."