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Coronavírus: o que se sabe sobre o primeiro paciente diagnosticado com doença no Brasil

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Imagem: EPA

26/02/2020 06h29

Autoridades de saúde do Brasil anunciaram que um homem de 61 anos de São Paulo, que retornou de viagem à região norte da Itália, recebeu um diagnóstico preliminar de infecção pelo novo coronavírus (Covid-19).

De acordo com o Ministério da Saúde e as pastas da saúde do município e do Estado de São Paulo, o hospital Albert Einstein enviou amostra para o laboratório de referência nacional, o Instituto Adolfo Lutz, que fica na mesma cidade. Ali seria realizada a contraprova do exame, e só depois a confirmação será divulgada oficialmente pelas autoridades.

Segundo os jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, essa contraprova deu positivo, mas essa informação ainda não foi confirmada oficialmente pelas autoridades.

O paciente, cujo nome não foi divulgado, está em quarentena. Ele esteve sozinho a trabalho, de 9 a 21 de fevereiro, na região italiana da Lombardia, que vive uma explosão de casos nos últimos três dias.

O caso foi notificado pelo hospital às autoridades por volta de meio-dia de ontem. Esse paciente apresentou sintomas associados à doença, como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza. Não está claro, porém, se ele apresentou esses sinais, considerados brandos até agora, durante a viagem à Itália ou quando já estava no Brasil.

A doença pode ser transmitida mesmo durante o período de incubação, que varia de 1 a 14 dias.

O Ministério da Saúde deve divulgar mais informações nesta quarta-feira sobre esse caso, que ainda não aparece nos sistemas de monitoramento online produzidos pela Organização Mundial da Saúde e pela Universidade Johns Hopkins, nos EUA.

Em reação a esse caso, as autoridades passaram a tentar identificar todas as pessoas com as quais ele teve contato, a fim de monitorá-las.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou ter solicitado à companhia aérea a lista de todos os passageiros e tripulantes que estavam no voo no qual o paciente infectado viajou.

"Se você esteve nos países com casos confirmados e apresentar febre, tosse, dificuldade em respirar ou outros sintomas respiratórios, procure atendimento médico de imediato e informe ao profissional de saúde a viagem feita para o exterior", afirmou o órgão.

Autoridades e especialistas recomendam precauções básicas para evitar espalhar doenças: lavar as mãos constantemente e higienizá-las com álcool gel; cobrir a boca ao tossir ou espirrar; evitar contato próximo com pessoas com tosse e febre; e, para pessoas que estejam com febre, tosse e dificuldade em respirar, buscar atendimento médico e relatar seu histórico de viagens.

O que muda com a confirmação oficial do caso no Brasil?

Caso a contraprova no Instituto Adolfo Lutz dê positivo, o Brasil inicialmente deve elevar seu alerta para a doença de nível 2 (perigo iminente) para 3, no qual se declara emergência de saúde pública de importância nacional, segundo o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson Oliveira.

Nessa situação, disse Oliveira, há uma mobilização conjunta de governos federal, estaduais e municipais "para que o vírus não se disperse", para ampliar a conscientização da população e para adotar dispositivos normativos para "acelerar a organização dos serviços de saúde e ampliar a capacidade de atendimento da população", a depender do possível avanço da doença.

Oliveira afirmou que já "há um plano de contingência elaborado para a resposta coordenada" à doença.

Não está claro ainda se o Brasil adotará algum tipo de restrição a viagens a regiões onde o vírus tem circulado, como Coreia do Sul, Irã e Itália. A Organização Mundial da Saúde não recomenda esse tipo de medida.

Os dados mais recentes apontam que o vírus já provocou 81 mil infecções e 2.762 mortes ao redor do mundo (mais de 95% delas na China). Ao todo, 38 países e territórios já confirmaram casos da doença.

O Brasil seria o primeiro país da América Latina a ter um caso confirmado.

E a lei que o Brasil aprovou para conter o avanço do surto?

No dia 7 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei elaborada pelo governo federal e aprovada pelo Congresso sobre as medidas que podem ser adotadas no país em meio ao surto.

O texto determina que, diante de uma situação de emergência, o governo poderá colocar cidadãos em isolamento ou quarentena, sob condições estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Também poderá realizar compulsoriamente exames e testes laboratoriais, coletar amostras para análises e aplicar vacinas e tratamentos médicos específicos.

A lei prevê que quem descumprir as normas poderá ser responsabilizado "nos termos previstos em lei", mas ainda não existe uma previsão das possíveis punições que serão aplicadas.

O texto só vigorará enquanto durar a emergência internacional da epidemia, decretada pela Organização Mundial da Saúde no fim de janeiro.

Quão grave é o novo coronavírus?

É importante destacar que os infectologistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que é preciso evitar o pânico, uma vez que, embora o coronavírus seja transmitido com facilidade (em média uma pessoa infectada transmite o vírus para até três pessoas), ele não provoca um número proporcionalmente alto de mortes.

A taxa geral de mortalidade da doença é de 2,3% — mas em pessoas com mais de 80 anos chega a 14,8%, de acordo com um estudo realizado pelo CCDC (Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças).

A pesquisa do CCDC com dezenas de milhares de casos afirma que cerca de 80,9% das novas infecções por coronavírus são classificadas como leves, 13,8% como graves e apenas 4,7% como críticas, o que inclui quadro de insuficiência respiratória, falência múltipla dos órgãos e sepse.

Até agora, portanto, o Covid-19 não é tão mortal quando comparado a outros coronavírus previamente registrados, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).

O risco de morte no caso da Sars, por exemplo, que eclodiu em 2003 e tinha uma taxa de mortalidade de quase 10% — foram contabilizados 8 mil casos, sendo 774 mortes. A da Mers girava em torno de 20% a 40%, dependendo do local.

Já a influenza, vírus da gripe, infecta todos os anos 26 milhões de pessoas apenas nos Estados Unidos (ou 8% da população). Desse total, aproximadamente 14 mil morrem, ou seja, a taxa de mortalidade gira em torno de 0,05%.

Estudos globais sugerem que a taxa de mortalidade por influenza no mundo (e não só nos EUA) é de apenas 0,01%.