Coronavírus no mundo: onde os casos estão subindo e onde estão caindo
Em meio à marca de 10 milhões de casos confirmados de covid-19 ao redor do mundo, o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre uma nova fase perigosa da crise de saúde pública.
Enquanto muitos países da Europa Ocidental e da Ásia conseguiram manter o vírus sob certo controle, outras regiões do mundo estão vendo agora a doença se espalhar a uma velocidade acelerada.
A título de comparação, demorou três meses para o mundo atingir a primeira marca de 1 milhão de infectados e oito dias para passar de 9 milhões para 10 milhões de casos.
Como esses números refletem apenas quem foi testado e recebeu diagnóstico positivo, eles possivelmente são a "ponta do iceberg", segundo parte das autoridades e dos cientistas.
Onde os casos estão avançando rapidamente?
Os gráficos indicam situações alarmantes em partes da América - como o Brasil -, do Sudeste Asiático e da África.
Os Estados Unidos, que detêm o recorde global de pessoas infectadas (2,5 milhões) e mortas (125 mil) pela covid-19, estão enfrentando um avanço acelerado da doença em alguns Estados.
O número de casos confirmados atingiu o recorde de 40 mil notificações em 24 horas e não para de subir, sendo puxado por explosões de casos na Flórida, no Texas e no Arizona.
Isso não representa uma "segunda onda" de infecções, mas o ressurgimento da doença, principalmente em Estados que decidiram flexibilizar as medidas de distanciamento social - cedo demais, como se vê.
O Brasil, segundo país a atingir a marca de 1 milhão de casos, também tem registrado situações perigosas. Grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro foram as mais atingidas até agora, mas muitas regiões do país têm feito poucos testes, o que indica que os números reais da pandemia são muito maiores que os oficiais.
Algo parecido está ocorrendo na Índia. O país registrou recentemente seu maior número de infecções em 24 horas até agora, cerca de 15 mil, mas a falta de testes em parte dos Estados mais populosos indica que a escala real da crise também é muito maior do que os registros oficiais.
Condições precárias
Por que isso está acontecendo? Grandes comunidades carentes em países em desenvolvimento são bastante vulneráveis, e o coronavírus se tornou "doença de pobre", afirmou David Nabarro, enviado especial da OMS para covid-19.
Em lugares onde famílias inteiras se amontoam em residências de um cômodo apenas, o distanciamento social é impossível e a higiene das mãos é precária por falta de água encanada. Onde as pessoas precisam de ganhos diários para sobreviver, interações em ruas e mercados são inevitáveis.
Para populações na Floresta Amazônica e em outras áreas remotas, por exemplo, o atendimento de saúde é restrito ou mesmo inexistente.
A taxa de infecção nesses países é assustadoramente alta. No México, metade das pessoas testadas para covid-19 está infectada com o vírus. Esse patamar é muito mais alto que o ocorrido em Nova York e na Itália em seus piores momentos.
A falta de equipamentos de proteção para os profissionais de saúde, na linha de frente do combate ao vírus, se agrava onde o dinheiro é escasso.
No Equador, onde corpos ficaram nas ruas em um dado momento da crise porque as autoridades não davam conta da coleta, um laboratório importante do país está sem o material necessário para testar as pessoas.
Além disso, impor bloqueios severos à circulação de pessoas para conter o vírus em economias já fragilizadas pode potencialmente amplificar os riscos.
Para Nabarro, ainda há uma chance de desacelerar o ritmo das infecções, mas somente com apoio internacional urgente. "Eu não gosto de passar uma mensagem desanimadora, mas eu estou preocupado sobre a chegada de materiais e recursos para quem mais precisa."
Embate político
Mas essas não são as únicas coisas que impulsionam a ascensão da doença. Muitos políticos optaram, cada um com seus próprios motivos, por não seguir o conselho de seus especialistas em saúde.
O presidente da Tanzânia decidiu declarar que seu país havia derrotado o vírus em grande parte do território. Desde o início de maio, ele barrou a divulgação de dados adequados sobre o assunto, embora os sinais sejam de que a covid-19 ainda é uma ameaça no país.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump minimizou a gravidade da doença, culpou a China e a OMS pelo avanço da pandemia e cobrou a pronta reabertura da economia americana.
Ele enalteceu o colega de partido e governador do Texas, Greg Abbott, por ser um dos primeiros Estados a levantarem restrições à circulação de pessoas. Mas agora com a explosão de casos o republicano foi obrigado a recuar na reabertura.
Mesmo o uso de máscaras em público, que se tornou uma recomendação oficial do governo americano em abril, virou um símbolo de polarização política.
O governador do Texas não tem permitido que prefeitos adotem máscaras como medidas de saúde pública porque infringiria liberdades individuais. Por outro lado, o governador da Califórnia, membro do Partido Democrata, afirmou que a "ciência mostra que máscaras e outros equipamentos de proteção funcionam". Trump, por sua vez, tem se recusado a usá-las.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem seguido a mesma linha de Trump. Ele já classificou a covid-19 de "gripezinha", atua contra qualquer medida de combate à doença que tenha impacto econômico e frequentemente aparece em público sem máscara.
A politização da pandemia levou o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a afirmar que a maior ameaça não é o vírus em si, mas a falta de solidariedade e liderança globais.
Onde os casos estão sob controle?
Como um conjunto de ilhas remotas no oceano Pacífico, a Nova Zelândia é capaz de se isolar facilmente, e o governo de Jacinda Ardern foi amplamente exaltado por sua resposta agressiva à pandemia que levou a um período de 24 dias sem novos casos.
Essa fase foi interrompida com a chegada de cidadãos que estavam no exterior, alguns deles infectados, o que levou a mais medidas de monitoramento de quem chega ao país. Longe de significar um revés para as pretensões de erradicação da Nova Zelândia, os novos casos representaram para especialistas uma prova de que o sistema de vigilância do país está funcionando de modo eficaz.
Do mesmo modo, a Coreia do Sul tem sido elogiada pelo uso de tecnologia e rastreamento de contatos sociais para derrubar o número de infecções no país, que já passou três dias sem novos casos.
Autoridades sul-coreanas afirmam que o país está enfrentando uma segunda onda da doença, com aglomerados de casos ligados a casas noturnas da capital Seul, mas o número absoluto ainda é relativamente baixo.
O prefeito de Seul afirmou que se o país passar de 30 novos casos em três dias, medidas de distanciamento social serão impostas novamente. A título de comparação, o Reino Unido tem 1.000 casos novos por dia e o Brasil, mais de 30 mil.
O Vietnã também está nesse grupo seleto. A estratégia que associa quarentena rápida e controle rígido de fronteiras, entre outros pontos, manteve baixo o número de infecções. Segundo o país, ninguém morreu da doença em seu território, até agora.
O que mais? Há uma grande incógnita sobre o que está acontecendo na maioria dos países da África, que não têm apresentado o cenário devastador que alguns temiam.
Uma possibilidade é que a falta de infraestrutura para testes em massa ofusca o real espalhamento do vírus. Uma outra hipótese é que os números podem ser mais baixos que a média global porque muitos desses países têm populações relativamente jovens.
Uma terceira possibilidade é que comunidades com poucas conexões com o restante do mundo serão as últimas a serem atingidas pela pandemia.
Em países bem-sucedidos no controle do vírus, o desafio é se manter vigilante enquanto tenta permitir uma certa volta à normalidade.
Mas a realidade para muitos outros países será, segundo previsão de Nabarro, da OMS, "aumento contínuo do número de pessoas infectadas e dos sofrimentos associados".
Por isso ele e muitos outros esperam que países desenvolvidos possam dar a ajuda que essas outras nações precisam, antes que a crise escale ainda mais.
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