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Casos de ebola podem superar os 20 mil em 6 semanas

23/09/2014 08h24

Os casos de ebola podem superar os 20 mil em questão de cinco a seis semanas se não forem reforçadas de forma imediata as medidas para controlar a epidemia, segundo a opinião de cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Imperial College London.

A Libéria, Serra Leoa e Guiné são, por ordem de gravidade, os países onde o vírus do ebola circula de forma mais intensa.

De acordo com as projeções dos especialistas, incluídas em artigo publicado nesta terça-feira (23) no "New England Journal of Medicine", quase metade dos casos estarão na Libéria, 5.700 na Guiné e 5.000 em Serra Leoa, se a situação atual for mantida.

A professora de estatística epidemiológica do Imperial College London e coautora do artigo, Christl Donnelly, indicou que essas estimativas foram obtidas por meio de duas metodologias diferentes e coincidem com as antecipadas por outras organizações médicas.

A diferença, no entanto, está em que até poucas semanas atrás se acreditava que os 20 mil casos seriam alcançados entre fevereiro e março do próximo ano e não em pouco mais de um mês.

Os dados mais recentes fornecidos pela OMS indicam que os casos chegam aos 5.800, com 2.800 mortos entre eles.

Os cientistas levaram em conta para sua projeção que, há uma semana, o número de pessoas infectadas tinha se duplicado na Guiné em apenas 15,7 dias, em 23,6 dias na Libéria e em 30,2 dias em Serra Leoa.

O estudo destaca que as dimensões de desastre que a epidemia do ebola  tomou não se devem a nenhuma mudança em suas características clínicas, na gravidade da infecção ou em seu modo de transmissão, que são similares aos de surtos passados.

"O período de incubação, a duração da doença, a taxa de mortalidade e o número de reprodução (pessoas infectadas por cada doente) estão dentro das categorias reportadas surtos anteriores", descreve o artigo.

O caráter excepcionalmente amplo desta epidemia se deve então, segundo os pesquisadores, às características da população infectada, às condições dos sistemas de saúde e ao fato de os esforços para frear a transmissão terem sido insuficientes.

O fato de que as povoações dos três países afetados estejam altamente interconectadas, o amplo trânsito além da fronteira no epicentro do surto, as conexões viárias relativamente fáceis entre os povos e as cidades, assim como a densidade demográfica destas últimas, contribuíram para rápida propagação do vírus letal.

Outro fator determinante foi o fato de que os sistemas sanitários dos três países sejam extremamente precários após anos de conflitos armados.

O exemplo de que isto exerceu um papel determinante é que a Nigéria, com um melhor sistema de saúde, pôs rapidamente sob controle um limitado número de casos e aparentemente conseguiu deter a transmissão, apesar de o vírus ter chegado em Lagos, uma cidade de 20 milhões de habitantes, e em Puerto Harcourt, outra grande cidade.

Sobre a situação neste último país e no Senegal, onde um só caso foi detectado, o diretor de Estratégia da OMS e coautor do estudo, Christopher Dye, disse com muita prudência que é possível que se tenha conseguido pôr a situação sob controle total.

Dye detalhou que não se reportou nenhum caso adicional em nenhum dos dois países nos últimos 21 dias (considerado o período máximo de incubação do vírus), mas insistiu que "ainda é muito cedo para ficar confiante".