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Aprenda a viver no frescor do ar condicionado sem atrapalhar a saúde

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Imagem: Getty Images

Por Luciana Alvarez

Do UOL, em São Paulo

01/03/2014 07h00

Nos dias de temperaturas elevadas, só mesmo um aparelho de ar-condicionado para dar um alívio duradouro à sensação de calor. Quem pode, fica praticamente o tempo todo sob o ar gelado: em casa, no trabalho, na academia e dentro do carro. Até na hora de lazer ele se faz uma presença constante, seja em shoppings ou cinemas.

Muitas pessoas, porém, sentem que tanta exposição ao ar frio prejudica a saúde. Espirros, coriza, garganta irritada, sinusite e tosse são sintomas comuns. Nada disso é culpa do frio em si - em geral, são quadros agravados pelo uso inadequado do aparelho, dizem os médicos. Com uma manutenção periódica e cuidados simples, é possível aproveitar só o que o ar-condicionado tem de bom.

Brisa à domicílio

Em casa, com aparelhos pequenos, a manutenção costumar ser fácil – limpar e trocar o filtro conforme indicação do fabricante. Mas ela deve ser levada muito a sério. “Passamos de 90% a 98% da vida em ambientes fechados. Por isso é importante que cuidemos da qualidade do ar nesses locais”, afirma Fábio Morato Castro, presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

Quem sentir que o ar está muito seco, recomenda o médico, deve usar uma bacia de água para devolver um pouco da umidade ao ambiente (os umidificadores costumam deixar o ambiente com umidade em excesso, o que também é ruim).

Dessa forma, o ar-condicionado pode ser usado sem outras restrições. E ele oferece vantagens extras, além de aplacar o calor. “O ressecamento torna o ambiente hostil aos ácaros e fungos, o que é positivo para quem tem alergia a eles. Outra vantagem é que o frio afasta os pernilongos”, disse Castro.

Friozinho compartilhado

Em ambientes coletivos, como nos escritórios, em geral é preciso cobrar dos chefes ou dos responsáveis pela segurança do trabalho por uma boa manutenção. Se for um sistema central, além de trocar os filtros é preciso limpar as tubulações para garantir um ar de qualidade e livre de contaminações.

“Hoje já existem filtros muito potentes. Os aviões, por exemplo, usam filtros do tipo Hepa e têm uma taxa de recirculação do ar (o ar interno é trocado pelo ar externo) de 50%. Se estiver tudo em ordem, alguém gripado pode sentar a duas poltronas de distância e o vírus não chega a você”, afirma Jairo Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Outro problema comum nos ambientes coletivos é encontrar uma temperatura que agrade a todos. O recomendado pelo pneumologista é fixar a temperatura entre 20 ºC e 24ºC. Não que sentir um pouco de frio provoque algum problema de saúde para a maioria das pessoas, mas há, sim, gente que é extremamente sensível a mudanças de temperatura. “Há casos de pacientes que começam a espirrar só de tomar um copo d’água gelada. Essas pessoas devem ser abordadas de forma diferente”, recomenda Araújo.


Segundo o médico, o ideal é posicionar as pessoas mais sensíveis longe das saídas de ar. “Para não se tornar a ‘chata’ do escritório, ela pode procurar um supervisor de segurança do trabalho, alguém com autoridade para pedir uma redistribuição”, afirmou.

A academia também inspira atenção especial com a hidratação. “A pessoa se sente confortável por causa do ar-condicionado, mas o ar fica seco e ela está perdendo água com o exercício. Beber água é fundamental”, alerta Araújo.

Conheça as principais doenças relacionadas ao uso inadequado do ar-condicionado:

Infecções respiratórias: o ar-condicionado pode levar a um ressecamento das mucosas do sistema respiratório, o que prejudica a defesa contra vírus e bactérias que causam resfriados e gripes, por exemplo. Isso pode ser contornado com uma boa hidratação, uso de soro fisiológico nas narinas e colocando uma toalha molhada ou bacia de água por perto para devolver a umidade ao local. Quando há alguém doente no ambiente, a pouca circulação do ar também aumenta os riscos de os demais serem contaminados. O ideal é evitar ficar próximo a pessoas doentes e usar aparelhos de ar-condicionado que promovam a renovação do ar.

Alergias: doenças alérgicas pré-existentes, como rinite e asma, podem ser agravadas, sobretudo se elas não estiverem sendo tratadas adequadamente. Mais uma vez, o ressecamento das vias aéreas é um dos vilões, mas a mudança brusca de temperatura, ao entrar e sair de ambientes com ar-condicionado, também prejudica o sistema de defesa do organismo. Portanto, deve-se evitar usar o ar-condicionado em temperaturas muito baixas. Outro problema comum é a falta de limpeza dos filtros e, no caso de sistemas centrais de ar-condicionado, das tubulações. Se estiverem sujos, eles espalham os elementos alérgicos por todo o ambiente.

Legionelose: é um tipo de pneumonia potencialmente grave, causada por uma bactéria chamada Legionella pneumophila. A doença foi descoberta em 1976, quando um grupo de veteranos de guerra – ou legionários – adoeceu após um encontro na Filadélfia, Estados Unidos, por causa de um aparelho de ar-condicionado com a bandeja de água contaminada. Portanto, a limpeza regular dos filtros e tubulações, conforme as indicações do fabricante, é fundamental para evitar a proliferação de ácaros, fungos, mofo e bactérias patogênicas.

DPOC: a doença pulmonar obstrutiva crônica é uma inflamação progressiva dos pulmões que interfere na respiração normal da pessoa; ela acomete principalmente fumantes. Como esses pacientes já são debilitados, infecções por vírus ou bactérias podem agravar o quadro. O problema com o ar-condicionado é o ressecamento das mucosas, o que facilita a entrada dos agentes patogênicos.