Doenças que passam pelo sexo estão mais fortes e podem virar superbactérias
Pegar uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) nunca esteve na lista de desejos de ninguém, mas também não costumava causar grandes preocupações. Agora, isso deve mudar.
A clamídia, a gonorreia e a sífilis estão mais fortes do que nunca, em crescente resistência aos antibióticos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) até divulgou um alerta sobre isso.
As três são infecções sexualmente transmissíveis causadas por bactérias e geralmente curáveis com antibióticos. Mas a falta de diagnóstico, o mau uso de medicamentos e a prescrição excessiva dos mesmos remédios resultaram na resistência aos efeitos dos antibióticos e reduziram as opções de tratamento.
Para entender o fortalecimento das bactérias, imagine a situação: Você fica doente e centenas de bactérias aparecem no seu organismo. Ao tomar antibiótico você mata as bactérias. Mas algumas vezes, antes do fim dos dias do remédio você já se sente melhor e para de tomá-lo. Ao interromper o uso você pode deixar de matar algumas bactérias. As "teimosas" sobreviventes se tornam resistentes ao antibiótico.
"E não é porque você nunca tomou um antibiótico errado na vida que não precisa se preocupar. Você pode ser infectado de primeira por bactérias mais resistentes que foram selecionadas em outro organismo", afirma Ana Cristina Gales, infectologista e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
E agora, como enfrentar as DSTs?
A estimativa da OMS é de que, a cada ano, 131 milhões de pessoas são infectadas com clamídia; 78 milhões com gonorreia; e 5,6 milhões com sífilis.
Das três doenças, a gonorreia foi a que desenvolveu a maior resistência aos medicamentos. Foram identificadas cepas de N. gonorrhoeae multirresistentes que não reagem diante de nenhum dos antibióticos existentes. No caso da sífilis, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu que o Brasil está vivendo uma epidemia.
Para tentar conter o avanço, a solução sugerida no guia da OMS é o uso de antibióticos mais eficazes e reforçar a necessidade do paciente usar na dosagem correta, pelo período correto e no horário determinado.
"Um remédio mais eficaz vai resolver o problema agora. Mas podemos entrar em um ciclo vicioso", explica Gales. Os antibióticos mais comuns deixarão de ser usados já que não matam mais as bactérias. Assim, os medicamentos mais eficazes serão distribuídos em larga escala e daqui alguns anos as bactérias também podem ficar resistentes a eles. E então será preciso outro antibiótico ainda mais eficaz.
Todos os tratamentos com antibióticos em doenças bacterianas favorecem para uma seleção de bactérias mais resistentes. Para acabar com as DSTs não temos que discutir sobre um remédio melhor e sim sobre a prevenção"
Ana Cristina Gales, infectologista e professora da Unifesp
Para a infectologista, o melhor caminho para prevenir e frear infecções sexualmente transmissíveis é lembrar daquele famoso conselho: use camisinha.
"Parece que todo mundo já sabe da importância do preservativo, mas precisamos repetir para que todos realmente usem. Em um cenário em que bactérias estão ficando resistentes aos antibióticos a camisinha impede a infecção e pode pôr um fim na transmissão."
Outra ajuda no controle da infecção é a criação de uma base de dados para as DSTs.
A professora afirma que antigamente o Ministério da Saúde não recomendava que os médicos fizessem exames mais aprofundados nos pacientes. Caso apresentassem os sintomas da DST, deviam receber o medicamento direto.
"O esquema antigo impediu a criação de um banco de dados para analisar a resistência das bactérias. Porém, o novo protocolo de 2016 recomenda o exame físico e teste laboratorial. Com isso conseguiremos criar um dado nacional para acompanhar de perto a resistência das bactérias", explica. Assim, será possível saber quais bactérias estão circulando no país e quais são resistentes a que remédios.
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