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"Olho foi feito para durar 40 anos": glaucoma atinge 900 mil no Brasil

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Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

26/05/2017 09h52

"É uma doença assintomática, não dói. Com o tempo, esse nervo que leva as imagens ao cérebro, para a gente poder enxergar, vai sendo degenerado", explica Emílio Suzuki, secretário-geral da SBG (Sociedade Brasileira de Glaucoma). O glaucoma atinge cerca de 3% da população brasileira acima dos 40 anos, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

A doença atinge 900 mil pessoas no país, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). A doença é responsável, segundo estimativas do órgão, por 10% dos casos de cegueira. 

"A pessoa vai perdendo a visão aos pouquinhos e, geralmente, a perda não é aguda, não é de imediato. Nem é central também. É periférica e lenta. Por isso, é muito difícil ser percebida nos estágios iniciais", diz Suzuki. Daí a importância do diagnóstico precoce para a prevenção do glaucoma.

Ele explicou que o nervo óptico sofre degeneração que, em geral, ocorre por aumento da pressão ocular, e a pessoa não tem sintomas. Um dos fatores de risco para o glaucoma é a idade. Pessoas acima de 40 anos são mais suscetíveis à doença.

O olho foi feito para durar bem até os 40 anos. Depois dessa idade, já começa a dar alguns sinais de fraqueza, como a visão cansada para perto."

O sistema de drenagem ocular fica mais lento e falha com mais frequência em pessoas acima de 40 anos. "Quarenta anos é uma idade importante para ter, pelo menos, uma consulta básica ao oftalmologista por ano", recomendou.

O glaucoma tem também uma característica genética e hereditária. Existe uma associação grande entre parentes, e a chance de desenvolver a doença é mais intensa entre irmãos. Segundo Emílio Suzuki, o fato de o pai ou a mãe ter glaucoma não condena o filho a ter glaucoma.

"E o fato de ninguém ter na família também não exclui você da possibilidade de aparecer. Mas os casos familiares te colocam no grupo de risco maior". A incidência de glaucoma entre irmãos é, às vezes, de seis a nove vezes maior do que em uma pessoa que não tem ninguém na família.

O governo brasileiro tem um programa de assistência aos portadores de glaucoma. Quase 500 mil pessoas cadastradas no programa recebem remédios de graça, destacou o especialista.

olho e colírio - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Hipertensos e diabéticos devem estar mais atentos

Têm mais chance ainda de desenvolver a doença os hipertensos e diabéticos, que apresentam muitas vezes problemas de vascularização do nervo óptico, além dos afrodescendentes.

Em relação a esses últimos, Suzuki disse que ocorre no mundo inteiro maior chance de os afrodescendentes terem glaucoma mais agressivo e avançado. No Brasil, a miscigenação da população aumenta a incidência da doença. Não se sabe ainda a razão de indivíduos da raça negra terem glaucoma, mas estima-se que é um fator ligado à genética. Por isso, a raça negra funciona como um fator de alerta e influencia muito no diagnóstico, afirmou.

A única maneira de descobrir o glaucoma é o médico oftalmologista, porque não é só a pressão do olho que está envolvida. No início da doença, não há sintomas. Crises de glaucoma agudo, em casos esporádicos e raros, podem deixar o olho vermelho.

Suzuki esclareceu, entretanto, que a vermelhidão do olho é sinal de uma gama infinita de doenças. "Pode ser uma simples irritação, uma conjuntivite, uma úlcera de córnea, uma uveíte. Por isso é o médico que vai saber se é glaucoma ou não. De maneira geral, não é".

Exames periódicos

Segundo o oftalmologista Eduardo Mariotonni, da Rede Dr. Consulta, o exame de rotina é importante porque a maioria dos pacientes com glaucoma não sente nada até que a doença esteja avançada.

"Quando o médico descobre no início, antes de o paciente ter qualquer sintoma, o tratamento é mais fácil e com mais chance de dar certo", afirmou. Segundo ele, a visão perdida devido ao glaucoma não pode ser recuperada, mas a doença pode ser controlada, diminuindo a pressão do olho como uso de medicamentos.

Por isso, a recomendação é que sejam feitos exames periódicos com um médico oftalmologista. O tratamento, segundo o Ministério da Saúde, pode variar de acordo com o caso detectado: desde o uso de colírios até cirurgias. Quando os exames preventivos não são realizados, a doença pode avançar silenciosamente e causar cegueira.

A OMS lembra que, a cada ano, são registrados 2,4 milhões de novos casos de glaucoma no mundo.

(Com informações da Agência Brasil)