Homem é internado com febre amarela após passar Natal em serra paulista
O paulista Adilson Tadeu Esteves Cipriano, 48, foi passar o Natal com a família na casa da irmã na Serra da Cantareira, na zona norte de São Paulo. Quatro dias depois começou a passar muito mal --dor no corpo, dor de cabeça e diarreia. Chegou a pensar que se tratasse de algo que tivesse comido. Mas os sintomas progrediam dia a dia até que procurou um pronto-socorro, onde foi medicado por uma suposta intoxicação alimentar e liberado. Ainda assim de nada adiantou. As dores de cabeça se intensificaram e ela já não conseguia andar direito. O jeito foi voltar ao hospital e, dessa vez, foi parar direto na UTI por causa do seu fígado que estava bastante comprometido. Os exames descartaram as suspeitas de hepatite, mas indicaram febre amarela.
"Foi tudo muito rápido", conta Élio Esteves, 41, primo de Cipriano. "Esse vírus é muito agressivo e já atingiu o fígado e o rim dele. A pressão e a saturação também estão péssimas. O quadro é muito grave, mas, segundo os médicos, ainda há esperanças de uma reversão."
A sorologia de febre amarela de Cipriano foi confirmada pelo Hospital Leoforte, onde o comerciante está internado desde 5 de janeiro com hepatite aguda grave e insuficiência renal aguda. "Ele segue na UTI em estado gravíssimo e instável", segundo o boletim médico.
Ao menos 13 pessoas morreram infectadas pelo vírus desde o ano passado no Estado de São Paulo. Três desses casos ocorreram nesse início de ano --o último ainda não foi confirmado pela Secretaria de Saúde do Estado, mas foi anunciado pela Secretaria Municipal de Guarulhos.
Duas das vítimas, de acordo com a pasta, foram passar as festas de fim de ano em Mairiporã --região que está em alerta para a doença há um mês. A terceira morte do ano era um homem de 69 anos que morava na capital, mas que tinha uma chácara em Nazaré Paulista, na Grande São Paulo, próximo de Mairiporã.
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Esse tipo de vírus é transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados. A doença não é passada de pessoa a pessoa. Em regiões de campo e floresta, os transmissores são os mosquitos Haemagogus e Sabethes, que costumam viver em copas de árvores. Mas o vírus também pode ser transmitido pelo Aedes aegypti, na forma urbana da doença, que não ocorre no país desde 1942.
A febre amarela é classificada como uma doença infecciosa grave. Provoca calafrios, dor de cabeça, dores nas costas e no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Os primeiros sintomas aparecem de 3 a 6 dias depois da infecção. Para maior parte dos pacientes, os sintomas vão perdendo a intensidade a partir do 3º ou 4º dia da infecção. Em alguns casos, no entanto, a doença entra em sua fase considerada tóxica.
Cerca de 10% dos pacientes desenvolvem a forma grave da doença. Ela geralmente ocorre depois de um período breve de melhora dos primeiros sintomas da doença. A febre reaparece, há hemorragias, insuficiência hepática, insuficiência renal. Um dos sintomas é a coloração amarelada da pele e do branco dos olhos. Também não é incomum pacientes apresentarem vômito com sangue, um sintoma da hemorragia. Cerca de 50% dos pacientes que desenvolvem a forma grave da doença morrem num período entre 10 e 14 dias.
De acordo com Esteves, o primo está inconsciente desde sábado (6). "Com o fígado necrosado, os médicos recomendaram a realização de um transplante do órgão. Ele era o número um na fila de espera. Mas diante do frágil estado de saúde dele a opção já não é mais viável". Segundo o hospital, não há condições clínicas para a realização do transplante.
Recentemente a brasileira Gabriela Santos da Silva, 27, foi a primeira pessoa no mundo a passar por um transplante de fígado em caso de hepatite fulminante provocada por febre amarela. O procedimento aconteceu no último sábado (6) no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Segundo especialistas, não há um tratamento específico para febre amarela. A medida mais eficaz é a vacinação, para evitar a contaminação da doença.
"Se ele tivesse tomado a vacina nada disso teria acontecido", lamenta o primo, que diz desconhecer os motivos pela qual Cipriano não tinha sido imunizado. "Talvez por negligência mesmo", acredita. Mas, desde o diagnóstico do comerciante, todos os integrantes da família que não eram vacinados buscaram a imunização.
Vacinação apenas nas áreas de recomendação
A vacina contra a febre amarela é recomendada para as pessoas que moram em uma área endêmica ou pretendem viajar para um dos 20 Estados --além do Distrito Federal-- em que o vírus circula.
Após macacos infectados com a doença terem sido encontrados mortos, o Estado de São Paulo, recentemente, expandiu a campanha de vacinação nas zonas Norte e Sul da capital paulista, bem como nas regiões de Alto Tietê, Osasco e Jundiaí. E, a partir de fevereiro, pretende passar a aplicar doses fracionadas de vacina em todo os municípios paulistas.
A dose fracionada, porém, é mais fraca do que a oferecida hoje: protege por até nove anos, enquanto a atual dura para a vida toda.
Os dois tipos de imunização, no entanto, não são indicados para gestantes, mulheres amamentando crianças com até 6 meses e imunodeprimidos, como pacientes em tratamento quimioterápico, radioterápico ou com corticoides em doses elevadas (portadores de Lúpus, por exemplo).
Maior surto desde 1980
O surto de febre amarela que atingiu o Brasil em 2017 foi o maior com número de casos em humanos desde 1980. De dezembro de 2016 a junho de 2017, foram confirmados 777 casos e 261 mortes pela doença no país. Em setembro, o governo federal deu o surto como encerrado. O último caso tinha sido registrado em junho, no Espírito Santo.
No Estado de São Paulo, de 2017 até o momento, foram 27 casos do vírus em humanos confirmados nos municípios de Águas da Prata, Américo Brasiliense, Amparo, Batatais, Campinas, Itatiba, Jundiaí Mairiporã e Mococa.
Desde outubro, parques municipais e estaduais da capital onde foram achados macacos mortos, como o Horto Florestal, na zona norte, foram fechados como medida preventiva. Questionada, a Secretaria de Saúde de São Paulo não informou o número de casos de febre amarela em humanos em investigação no Estado.
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