Termina quarentena em navio do Japão; mortes por coronavírus superam 2.000
Os passageiros do cruzeiro Diamond Princess começaram a desembarcar no Japão na manhã desta quarta-feira após o fim do período de quarentena decretado pelas autoridades, devido à epidemia do novo coronavírus.
Hoje, enquanto os primeiros tripulantes deixavam o navio, as autoridades japonesas confirmaram mais 79 casos no navio, que já havia confirmado 540 pessoas infectadas pela doença que já provocou mais de 2.000 mortes na China.
Quase 500 passageiros sem sintomas, com resultados negativos nos exames e que não tiveram contatos com pessoas portadoras do vírus, devem desembarcar ao longo do dia, após o isolamento de 14 dias, informou o ministério japonês da Saúde. A operação deve demorar três dias.
Ontem, os passageiros receberam uma carta informando sobre a saída. "Se você e sua companhia de cabine apresentam resultados negativos e não apresentam sintomas respiratórios ou febre podem se preparar para desembarcar", dizia o comunicado.
"Estou aliviado. Quero descansar", declarou um japonês de 77 anos, que pretendia usar o transporte público para voltar para sua casa. "A vida a bordo era cômoda, estou bem", respondeu ao ser questionado sobre a quarentena.
Vários ônibus da cidade de Yokohama e alguns táxis aguardavam os passageiros. Alguns acenaram para as pessoas obrigadas a permanecer no navio.
Na China, berço da epidemia do novo coronavírus, o balanço da doença supera 2.000 mortos e 74.000 infectados.
As 3.711 pessoas de 56 países a bordo faziam um cruzeiro pela Ásia que virou um pesadelo, entre o medo de contrair uma pneumonia viral que pode ser fatal e o tédio do confinamento em suas cabines, algumas delas sem janela, e com uma caminhada curta no convés como única distração.
"Mais uma vez nosso reconhecimento para a tripulação e o capitão por sua incrível atenção durante esta crise épica", tuitou Yardley Wong, confinado com seu filho de seis anos.
"Preocupação"
David Abel, um passageiro britânico que ganhou fama com os vídeos publicados no início da quarentena, descreveu o estado de ânimo dos passageiros confinados.
"O mais duro é não saber o que vai acontecer. Começa a nos afetar mentalmente. É muito difícil se concentrar em algo", disse Abel. Algumas horas depois, o britânico anunciou que o exame de sua esposa Sally deu positivo.
Fora da província chinesa de Hubei, "a epidemia afeta uma proporção muito pequena da população", afirmou na segunda-feira Michael Ryan, diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fora da China continental foram registrados 900 casos e apenas cinco mortes (na França, Japão, Filipinas, Taiwan e Hong Kong).
O Diamond Princess é, ao contrário, o principal foco de portadores do vírus depois da China, com mais infectados que o restante do planeta.
A cada dia são detectados dezenas de novos casos a bordo, o que provocou críticas à eficácia da quarentena, durante a qual os passageiros eram autorizados a caminhar em pequenos grupos pelo convés, de máscaras. Os tripulantes distribuíam comida pelas cabines.
Kentaro Iwata, professor do departamento de doenças infecciosas da Universidade de Kobe, entrou no navio e chamou de "totalmente caótica" a gestão da quarentena por parte do governo. O professor disse que teve medo como nunca havia sentido em sua carreira, uma crítica pública pouco habitual no país. Depois de batalhar por uma autorização das autoridades, Iwata subiu no cruzeiro na terça-feira.
"Este navio é totalmente inapropriado para o controle da propagação de infecções. Não há distinção entre zonas verdes (saudáveis) e vermelhas (potencialmente infectadas) e os funcionários podem circular de um lugar para outro, comer, usar o telefone", relatou.
"Eu estive na África para trabalhar durante a epidemia de ebola. Estive em outros países afetados pelo cólera, na China em 2003 para tratar a Sars (...) Nunca tive medo de contágio", afirma em um vídeo em inglês.
"Mas dentro do Diamond Princess tive medo, porque não há nenhuma forma de dizer onde está o vírus". Ele ficou tão preocupado que decidiu permanecer em quarentena por 14 dias pelo medo de contagiar sua família.
Iwata lamenta que a gestão da crise tenha ficado inicialmente nas mãos de burocratas, sem a presença de um especialista em gestão de infecções.
O ministro japonês da Saúde, Katsunobu Kato, rebateu as críticas. "Médicos especialistas que integram uma equipe de prevenção de infecções monitoram o navio", afirmou. Ele disse ainda que os especialistas que assessoram o governo consideram a situação "sob controle".
Vários países decidiram enviar aviões para repatriar seus cidadãos. A tripulação será submetida a um período de quarentena depois que o último passageiro deixar o navio.
Hong Kong registra segunda morta
Um idoso de Hong Kong que contraiu o novo coronavírus morreu hoje, anunciaram as autoridades locais, a segunda morte no território provocada pela doença.
"O estado de um paciente masculino de 70 anos infectado com o novo coronavírus piorou e ele morreu no Princess Margaret Hospital", afirma um comunicado. O homem foi hospitalizado no dia 12 de fevereiro depois de desmaiar em casa.
*Com informações da AFP
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