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Brasil confirma transmissão comunitária de coronavírus; entenda o que é

Pessoas usam máscaras de proteção para o coronavírus enquanto compram álcool gel em loja da Avenida Paulista, em São Paulo - Paulo Guereta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Pessoas usam máscaras de proteção para o coronavírus enquanto compram álcool gel em loja da Avenida Paulista, em São Paulo Imagem: Paulo Guereta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

13/03/2020 15h51

O Ministério da Saúde confirmou hoje que já há casos de transmissão comunitária do novo coronavírus nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O último boletim nacional da pasta, atualizado nesta tarde, indica 98 casos confirmados no país, sendo 56 nos estados de São Paulo e 16 do Rio de Janeiro.

O número é apenas um dado oficial compilado pelo ministério com muitas horas de atraso. Há mais casos no país, alguns já notificados. Apenas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, foram confirmados 98 pacientes com o vírus na noite de ontem. As secretarias estaduais têm divulgado os números atualizados no final da tarde, quase 23 horas antes de o Ministério da Saúde publicar o balanço.

Outros estados, como o Amazonas, já tiveram casos confirmados e ainda não computados pelo governo federal. A Bahia confirmou sete casos —na conta do Ministério da Saúde, são dois.

Foram identificados dois casos no Rio e dois casos em São Paulo de transmissão comunitária, quando não é possível identificar a origem da infecção.

A transmissão comunitária ocorre quando não é mais possível identificar a fonte de transmissão de pacientes que contraem a doença, o que indica que o vírus já circula entre a população.

O infectologista David Uip, que coordena a resposta ao coronavírus em São Paulo, já havia afirmado ontem que esse tipo de transmissão estava ocorrendo no país. Até o momento, o Ministério da Saúde só confirmou a transmissão comunitária nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.

A transmissão comunitária é diferente da transmissão local. São considerados casos de transmissão local aqueles em que a infecção ocorreu no Brasil, mas foi possível identificar qual paciente transmitiu o vírus.

A terceira classificação utilizada pela área de saúde é a de caso importado, quando o paciente infectado contraiu o vírus em viagem a um outro país.

Ministério atualiza número de casos suspeitos

Em todo o país, são 1.485 casos suspeitos. Esses pacientes, em sua maioria, apresentam febre e sintomas respiratórios (como tosse ou dificuldade de respirar), voltaram de viagem ao exterior recentemente ou tiveram contato com algum caso confirmado da doença. Nesses casos, é preciso aguardar o resultado do exame de detecção do vírus para que a suspeita possa ser confirmada ou descartada.

Outros 1.344 casos já tiveram a suspeita descartada. O número apontado no boletim pode ser menor que o total de casos já confirmados pelas autoridades de saúde nos estados e municípios. Isso porque a plataforma nacional é atualizada com atraso em relação às informações locais.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, na fase de transmissão comunitária o foco se volta para o tratamento dos pacientes graves, e não para a identificação de novos casos, como ocorre quando há apenas a transmissão local e os casos importados.

Na primeira etapa de propagação do vírus, quando há apenas transmissão local e casos importados, o objetivo é o de limitar a transmissão do vírus. Já na segunda fase, quando há a transmissão comunitária, o foco do sistema de saúde é evitar casos graves e mortes.

"Se eu tiver transmissão comunitária eu paro de fazer investigação de casos leves e passo a fazer o monitoramento de casos internados", diz Oliveira. "Ou seja, a gente começa a tratar o vírus como se fosse um vírus comum naquela localidade", afirma o secretário.

Novas recomendações

Apesar de a nova forma de transmissão ter sido identificada apenas no Rio e em São Paulo, o Ministério da Saúde passou hoje a adotar novas recomendações para todo o país.

São algumas das recomendações:

  • Isolamento domiciliar por sete dias para pessoas que voltaram de viagens internacionais, mesmo que não apresentem nenhum sintoma de gripe.
  • Cancelamento ou adiamento de grandes eventos esportivos, artísticos, comerciais ou religiosos. Caso não seja possível cancelar ou adiar, a recomendação é que o evento ocorra sem público.
  • Isolamento de pacientes com suspeita do vírus.
  • Que pacientes com casos leves de gripe procurem postos de saúde e não hospitais.
  • Uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras, para doentes, familiares e profissionais de saúde.
  • Lavagem das mãos e cuidados ao espirrar em público, cobrindo o rosto com o braço.
  • Campanhas de esclarecimento na mídia para conscientizar sobre cuidados na higiene respiratória e a necessidade de isolamento caso apareçam sintomas.
  • Adiar a realização de cruzeiros turísticos.
  • Fornecer locais para lavar as mãos em locais públicos e privados, além de toalhas de papel descartável e álcool gel.
  • Estimular a prescrição de medicamentos de uso contínuo por um período maior de validade, para evitar retornos desnecessários ao médico ou postos de saúde.

Essas medidas têm o objetivo de reduzir o contato entre as pessoas e, consequentemente, diminuir a velocidade de transmissão do vírus.

O Ministério está preocupado que um aumento exponencial nos casos do coronavírus possa superlotar os hospitais, reduzindo a capacidade de atendimento dos casos graves.

Também foram apresentadas hoje recomendações do Ministério da Saúde para as áreas em que há a transmissão comunitária, como Rio e São Paulo:

  • Reduzir os desolamentos para o trabalho, incentivando reuniões virtuais e o trabalho de casa.
  • Estimular a adoção de horários alternativos de trabalho para reduzir o movimento nas cidades nos horários de pico.
  • Antecipar as férias nas instituições de ensino.
  • Declaração de quarentena, em áreas definidas, após atingir 80% da ocupação de leitos de UTI disponíveis para os pacientes com o coronavírus.

Segundo Wanderson de Oliveira, a determinação de quarentena "é uma medida de exceção, é a última medida que vamos adotar."