Covid-19: Fim da transmissão local na China indica eficiência de medidas
Resumo da notícia
- Fim da transmissão local na China indica eficiência de medidas restritivas, mas casos importados de Covid-19 podem gerar nova epidemia
- O país anunciou que não registrou nenhum novo caso por meio de transmissão local nas últimas 24 horas
- Para especialistas, a notícia indica que medidas sociais restritivas funcionaram na contenção da disseminação do vírus
- Por outro lado, a continuação de casos externos (foram 34 hoje) também mostra que há uma limitação no método
A China anunciou que não registrou nenhum novo caso de Covid-19 (o novo coronavírus) por meio de transmissão local nas últimas 24 horas. Dos 34 novos pacientes infectados, todos os casos foram "importados".
Para especialistas, a notícia indica que medidas sociais restritivas funcionaram na contenção da disseminação do vírus. Por outro lado, a continuação de casos externos também mostra que há uma limitação no método. A solução ideal seria uma vacina, mas isso ainda está distante.
"A China está diagnosticando cada vez menos [novos casos]. Isso significa que o número segue aumentando, mas a velocidade está diminuindo, então ela tende a zerar ou estabilizar em algum momento", explica o virologista Rômulo Neris, pesquisador visitante da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. "Se as medidas de restrição continuarem, a tendência é vermos uma melhora nos índices."
O país começou a adotar quarentena no dia 23 de janeiro, quando isolou a região de Wuhan, onde surgiu o paciente zero. Com o tempo, a medida foi tomada em outros locais. Essa é a primeira vez que não há registro de transmissão local, desde que a contagem foi iniciada, em meados de janeiro.
"Isso mostra que a China efetivamente controlou a disseminação do vírus com suas medidas restritivas. É uma indicação de eficiência do método", afirma o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Casos "importados" podem gerar nova epidemia
O dado não significa que o país mais populoso do mundo esteja livre do vírus. Embora a transmissão local tenha zerado, a "importada" teve o maior crescimento nas últimas duas semanas — o que acende o sinal de alerta para um novo ciclo epidêmico no país.
"Por outro lado, ainda ter casos importados demonstra que há uma dúvida em relação a qual é o número de chineses que efetivamente foram infectados. Significa que há um percentual muito grande de pessoas que ainda está suscetível, e isso pode gerar uma nova epidemia no país, um novo ciclo", pontua Stanislau.
"Pode ser que o vírus se perpetue por meio das populações não imunizadas. Pode haver um, dois, três ciclos de epidemia. Esta é a má notícia, o jeito de olhar o copo meio vazio", avalia o infectologista.
"Uma vez que o vírus entra, ele não é extinto. Isso significa que o país vai ter de adotar outras medidas para lidar com tráfego de indivíduos, visto que há uma população ainda não infectada", concorda Neris.
Vacina seria solução ideal
A continuação de casos importados comprova que o isolamento social pode se mostrar eficiente em um primeiro momento, mas não resolve a questão. A solução de fato seria uma vacina.
"Adotar só medidas restritivas já vimos que tem efetividade, mas não é tão duradouro. Não é suficiente para um controle absoluto, pois sempre haverá pessoas que não estão imunes", argumenta Satanislau. "É preciso uma vacina."
Além disso, lembra o infectologista, ainda não há garantia de que pessoas infectadas fiquem imunes. "A gente trabalha com a expectativa de que a imunidade seja suficiente, mas houve casos em que voltaram a apresentar o vírus."
Neris concorda que a saída final para o vírus seja a prevenção. "A Inglaterra falou que iria adotar essa medida de deixar todo mundo pegar para que todos tenham imunidade natural, mas já voltou atrás", lembra o virologista.
"A gente precisaria de um método efetivo para prevenir o aparecimento de novos casos", continua. Infelizmente, ele estima que uma nova vacina só saia no final do ano, "no melhor dos casos".
Brasil pode seguir caminho da China
Se continuar a adotar as medidas restritivas, e até torná-las ainda mais rígidas, é provável que o Brasil siga o mesmo caminho da China — para o bem e para o mal.
"O caminho que a China tomou é muito estrito, a ponto de proibir a circulação total de pessoas que não fizessem parte do quadro essencial de trabalhadores. A princípio, o Brasil ainda não adotou quarentena, está recomendando. Se adotar medidas de quarentena real, é provável [que siga o mesmo caminho", afirma Neris.
"O que está acontecendo lá sinaliza o que pode acontecer aqui", concorda Stanislau. "Por isso precisamos avaliar outras frentes. A informação científica sobre o Covid-19 ainda está em formatação, recebemos artigos todos os dias. Neste momento, não existem verdades absolutas."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.