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Família soube pela TV que primeira vítima morreu de covid-19

Entrada do hospital em que ocorreram as quatro mortes em São Paulo - Felipe Pereira
Entrada do hospital em que ocorreram as quatro mortes em São Paulo Imagem: Felipe Pereira

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

19/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Família da primeira vítima que morreu de covid-19 soube pela imprensa a causa
  • Manoel Messias Freitas Filho era porteiro e sofria de trombose e diabetes
  • A mãe e o pai não puderam ir ao enterro porque estão doentes com problemas respiratórios
  • A irmã de Manoel apela para que as pessoas fiquem em casa e lavem as mãos com frequência

O que mais entristece Maria da Graça Freitas, 53 anos e irmã da primeira vítima que morreu com covid-19 — doença causada pelo novo coronavírus — do Brasil, é o choro e a tristeza da mãe por não ter podido ir ao enterro do filho. O pai e os outros três irmãos também faltaram. Todos têm doenças respiratórias. Ela disse que quase faltou gente para segurar a alça do caixão.

O que mais indigna Maria da Graça foi a falta de informação do hospital. Ela contou que soube pela imprensa que o irmão Manoel Messias Freitas Filho, 62 anos, morreu de covid-19. "Cheguei em casa depois que enterrei meu irmão e foi na televisão que vi a causa da morte. Falta de respeito e humanidade com a gente."

O UOL procurou a assessora de imprensa da rede Prevent Senior, mas não obteve retorno. Caso o hospital se manifeste, o conteúdo será incluído na matéria.

Maria da Graça declarou que ninguém imaginou se tratar de coronavírus. O irmão era porteiro aposentado e tinha trombose, diabetes e erisipela, um problema de pele. Manoel não se cuidava e sofria as consequências, por isso todos acreditaram se tratar de uma complicação desses problemas de saúde quando falou que não estava sentindo as pernas.

O porteiro aposentado não tinha tosse ou coriza. Ele procurou o hospital da rede Prevent Senior na terça-feira da semana passada e foi enviado de volta para casa. O quadro piorou e, no sábado, retornou à unidade de saúde se queixando de falta de ar. Maria da Graça contou que a respiração era curta, quase ofegante.

Desta vez, foi internado na mesma hora. Ainda no sábado, entubaram Manoel. A irmã se espantou com a rapidez da evolução da doença. No domingo, foi informada que os exames apontaram que os pulmões estavam comprometidos. Pouco tempo depois, os familiares foram avisados que havia risco de ele morrer.

No dia seguinte, a família nomeou Maria da Graça para ir atender à solicitação do hospital de que um familiar se apresentasse na unidade Sancta Maggiore do bairro Paraíso. Ela chegou às 11 horas e foi informada que tentavam reanimar Manoel de uma parada cardíaca. Ele resistiu durante 25 minutos.

"A evolução da doença foi uma coisa muito rápida. O que eu queria alertar é que se cuidem, porque espalha muito rápido. Só tem que sair de casa por pura necessidade. Fiquem dentro de casa e lavem bem as mãos. A coisa está feia. Falo pela minha família."

Maria da Graça não tem ideia de onde ocorreu a contaminação. O irmão não saia muito porque tinha problemas de circulação e passava boa parte do tempo de meias especiais com as pernas para cima. Ela disse que chorou muito a perda, mas está precisando lidar com a realidade.

O pai de Maria da Graça está internado e o caso inspira cuidados porque ele tem 83 anos. A mãe tem 82 anos e recebeu alta nesta quarta. Dois irmãos estão internados. Todos com problemas respiratórios.