Coronavírus: Em cruzeiro à Europa, brasileiros temem não conseguir voltar
Resumo da notícia
- Um navio com aproximadamente 1.200 turistas a bordo partiu do Rio de Janeiro para a Europa, mas enfrenta problemas por conta do coronavírus
- No itinerário constavam sete cidades europeias, porém restou apenas Lisboa como destino final. As demais paradas foram canceladas
- Os passageiros brasileiros temem não conseguir retornar ao país e ficar expostos ao contato com o coronavírus no aeroporto de Lisboa
- A MSC Cruzeiros afirmou que fornecerá aos passageiros um voucher de crédito no valor do pacote total do cruzeiro, para ser usado até o fim de 2021
Um navio com aproximadamente 1.200 turistas a bordo, cerca de 600 brasileiros entre eles, está neste momento no Oceano Atlântico, a dois dias de chegar ao seu destino final, em Lisboa.
A capital de Portugal é o único destino europeu que restou do itinerário de sete cidades do continente. O navio MSC Fantasia deixou o Rio de Janeiro em 9 de março, com destino final em Gênova, na Itália — país que, naquele mesmo dia, já havia confirmado mais de 7 mil infectados e 300 mortos pelo coronavírus.
O cruzeiro, no entanto, seguiu viagem. A primeira mudança aconteceu com a retirada de Gênova como destino final, que passou a ser a cidade de Marselha, na França. Na última terça (17), todas as paradas foram finalmente canceladas, com o desembarque sendo confirmado para Portugal.
Passageiros brasileiros se reuniram e redigiram um manifesto pedindo providências à MSC Cruzeiros, alegando problemas na remarcação dos voos, em virtude da crise que atinge os aeroportos da Europa. Eles reclamaram de descaso por parte da companhia, que não teria informado os turistas adequadamente sobre os problemas envolvendo o coronavírus. Além disso, temem não conseguir retornar ao Brasil e ficar expostos ao contato com o coronavírus no aeroporto de Lisboa.
Em resposta ao UOL, a MSC Cruzeiros afirmou que fornecerá aos passageiros um voucher de crédito no valor do pacote total do cruzeiro, para ser usado até o fim de 2021, além de outras medidas para amenizar os problemas dos turistas (veja nota na íntegra abaixo).
O empresário Cláudio Ferreira, de Salvador, relatou ao UOL os problemas que está enfrentando junto aos outros brasileiros no navio. Ferreira, de 56 anos, está viajando com a esposa, Isabela Maria.
A companhia aérea portuguesa TAP, citada no relato do brasileiro, não respondeu aos questionamentos da reportagem, até o momento, sobre as dificuldades e as taxas de remarcação dos voos — se a empresa se manifestar, a resposta será publicada neste espaço. Em nota publicada em seu site oficial, a TAP informou que está reduzindo sua operação e "assegurará os voos em todas as rotas em que os mesmos sejam possíveis, de modo a dar resposta à missão de transportar os seus clientes para junto das suas famílias".
Veja o depoimento de Cláudio Ferreira:
"Estou aqui no meio do Oceano Atlântico. O sinal está ruim, e a internet, muito fraca. Estamos eu e minha esposa, em nossa terceira lua de mel. Nossa maior vontade era visitar o Vaticano e Fátima, em Portugal, pois somos católicos.
Saímos do Rio de Janeiro no dia 9 de março. Nosso itinerário seria Tenerife (Espanha), Funchal e Lisboa (Portugal), Cádiz e Barcelona (Espanha), Marselha (França) e Gênova (Itália). Nos informaram que tudo estava certo e garantiram que não teríamos problemas para desembarcar nos portos.
Ao longo da viagem, a Itália fechou a fronteira. Quando chegamos a Maceió, no dia 13, houve um terror de desinformações. Amigos e familiares dos passageiros falaram para desembarcarmos por causa das informações sobre o avanço do coronavírus na Europa. Do outro lado, a MSC continuou garantindo que o navio seguiria viagem em segurança.
Tudo estava confirmado: trajeto, portos, passeios etc. A única mudança foi que o destino final seria Marselha, porque a Itália estava fechada. Entre 1.200 e 1.500 passageiros desembarcaram em Maceió, num tumulto e correria. A MSC obrigou aqueles que desceram que assinassem um termo dizendo que estavam desembarcando por sua vontade, isentando a MSC de responsabilidade na decisão.
Não concordamos com esse termo e, também por isso, não desembarcamos. Outros 600 brasileiros e 500 estrangeiros, mais ou menos, fizeram o mesmo e continuaram a bordo, porque a MSF garantiu as paradas nos portos e o final em Marselha.
Depois disso, começou a travessia do oceano — seis dias de navegação sem internet, sem sinal, sem TV... nada. Nos informaram que o navio não pararia mais em Tenerife nem em Funchal, mas as outras paradas continuavam previstas, inclusive o desembarque em Marselha — inclusive, teve gente que mudou a passagem de Gênova para Marselha.
Na terça (17), nos informaram, por carta, que teríamos de ficar em Portugal, onde chegaríamos no dia 23, em Lisboa. E só desembarcaríamos com a passagem aérea já confirmada. A internet, ainda que precária, foi liberada para que tentássemos remarcar nossos voos. A MSC também disse que vai dar um crédito para utilizarmos em um novo cruzeiro — o valor total não será reembolsado.
Nenhum brasileiro conseguiu confirmar o voo de retorno, e fomos informados de que já havia centenas de brasileiros no aeroporto de Lisboa sem conseguir embarcar. Por fim, nos reunimos por conta própria e solicitamos uma posição do comandante, pois ele não falou mais nada e nem deu retorno às cobranças.
Dissemos que não poderíamos desembarcar sem garantia de retorno para o Brasil, para não ficarmos acampados no aeroporto de Lisboa — vale lembrar que tem muitos idosos entre os passageiros. O comandante apareceu, disse que só Portugal liberou nosso desembarque e contou que seríamos escoltados pela polícia. Eu falei que só iria sair do navio algemado e deportado.
Todos os voos foram cancelados e ninguém sabia o que fazer. Não queremos ficar dormindo no aeroporto sem notícias de data de volta e sem recursos para alimentação. Sugerimos que o navio retornasse ao Brasil; somos mais de 600 brasileiros para tentar pegar esses voos lotados.
A TAP, companhia pela qual eu e outros brasileiros voltaríamos, não está remarcando as passagens e, em alguns casos, está cobrando 1.500 dólares de taxa. Eles não estão ajudando em nada; nem as agências de turismo estão conseguindo contato com a companhia. Fiquei sabendo pela agência que o meu voo, de Roma para Salvador, foi cancelado, e não nos realocaram em nenhum outro.
Temos três problemas, na verdade: 1) Não temos segurança para desembarcar em Portugal e pegar um voo, porque alguns estão sendo cancelados de última hora, sem realocar os passageiros; 2) Ficamos sem destino devido à insegurança e ao fechamento de aeroportos em todos os outros países, exceto Portugal; 3) A permanência em aeroportos e aviões colocam a população do navio sob risco de contágio com o vírus.
Nesta quinta (19), tivemos outra reunião, somente com os brasileiros, e redigimos um manifesto, que foi assinado por todos. Solicitamos alguma providência da MSC, garantindo a nossa estadia a bordo e uma opção e ajuda no retorno ao Brasil, sem mais custos adicionais. O responsável pela hotelaria do navio — oficial abaixo do comandante — recebeu e assinou o documento. Estamos aguardando uma resposta, que deve chegar hoje.
Enquanto não houver resposta da MSC sobre as seguranças e garantias, fica um ar de descaso e irresponsabilidade com os passageiros. Essa também foi a postura da TAP, que cancelou voos sem realocar passageiros em novas datas, além de ter todos os canais de comunicação ocupados. No fim, é uma grande história de "pague para entrar, reze para sair".
Vale ressaltar que ninguém no navio está doente, e temos comida suficiente. Nesta quinta, eu e minha esposa conseguimos comprar uma passagem da LATAM para o dia 27 de março. Nosso objetivo é chegar ao Brasil a salvo e depois verificar sobre reembolsos e créditos. Só não sabemos se vamos conseguir embarcar."
Resposta da MSC Cruzeiros
"Há mais de um mês, estamos realizando um grande número de ações positivas e preventivas globalmente para garantir a saúde e a segurança de nossos hóspedes e tripulantes e implementamos uma política de embarque muito mais rigorosa, bem como uma rigorosa triagem de doenças antes do embarque.
À medida que essa emergência de saúde pública continua evoluindo, as autoridades de todos os países do itinerário da Grand Voyage do MSC Fantasia fecharam efetivamente seus portos para todos os navios de cruzeiro. Devido a isso, o navio está navegando em direção a Lisboa, que será o seu destino final, e chegará no dia 23 de março, onde todos os hóspedes desembarcarão.
As operações de desembarque ocorrerão nos dias seguintes, até 26 de março, com o objetivo de oferecer maior flexibilidade para a escolha do voo de retorno pelos hóspedes. Os hóspedes que reservaram seus voos com a MSC Cruzeiros, a companhia remarcará automaticamente o voo de volta. Os hóspedes que reservaram seus voos de forma independente devem entrar em contato com sua agência de viagens ou com a companhia aérea para remarcá-lo ou com o seguro de viagem.
Além disso, para maior comodidade dos hóspedes, fornecemos a todos eles acesso gratuito à internet até o final do cruzeiro.
Os passageiros receberão uma carta de crédito no valor do pacote do cruzeiro, que poderá ser resgatado em um cruzeiro futuro, a qualquer momento até o final de 2021, e um crédito a bordo de 200 Euros/Dólares, por cabine, reembolsável, a ser utilizado no futuro cruzeiro.
Quaisquer pacotes pré-pagos (bebidas, excursões, etc.), proporcionais aos dias não usufruídos do cruzeiro, também serão automaticamente reembolsados.
Pedimos desculpas a todos os hóspedes afetados por essa situação, que não está sob o nosso controle."
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