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Em "guerra mundial" por itens contra covid-19, Brasil restringe exportações

Máscaras de proteção facial produzidas pela Prefeitura de São Paulo - Divulgação/ Prefeitura de São Paulo
Máscaras de proteção facial produzidas pela Prefeitura de São Paulo Imagem: Divulgação/ Prefeitura de São Paulo

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

26/04/2020 04h06

Resumo da notícia

  • Escassez de produtos utilizados no combate à covid-19 gerou disputa internacional
  • Após compras frustradas, o Brasil passou a proibir ou dificultar venda de itens ao exterior
  • Isenção de impostos, facilitação de importações e "malabarismos logísticos" viram estratégia

Após sofrer revezes na "guerra mundial" por insumos utilizados no combate à pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, governos federal e estaduais, Justiça e Congresso recorrem à proibição de exportação de dezenas de itens produzidos no país, malabarismos logísticos para trazer o que foi comprado no exterior, isenção de impostos e facilitação da importação.

Remédios, máquinas como respiradores, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e insumos em geral têm sido progressivamente bloqueados e não podem ser enviados livremente para outros países enquanto durar a crise.

Ao mesmo tempo, nesta semana a Anvisa simplificou os procedimentos para registro e autorização de uso de novos equipamentos de saúde prioritários no combate ao coronavírus.

Na sexta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou projeto de lei aprovado pelo Congresso que proíbe a exportação de EPIs e respiradores durante a crise mundial.

Na semana passada, diversas publicações no Diário Oficial da União ampliaram a lista de produtos proibidos para exportação, iniciada há algumas semanas. Na contramão, a isenção de impostos sobre importação tem sido concedida para os mesmos tipos de itens.

No dia 17, foi publicada a isenção de impostos sobre a importação de 131 produtos, a maioria medicamentos e equipamentos utilizados em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). Antibióticos, máscaras e eletrônicos estão na lista.

Um dia antes, outra lista com 130 itens, entre remédios e kits de testes para a doença, já havia sido publicada pelo governo federal. A isenção de impostos, que também dispensa os produtos da burocracia aduaneira, vale até setembro.

Sem comprovação de eficácia

Entre as substâncias, estão a cloroquina e a hidroxicloroquina, fármacos em teste contra a covid-19 alardeados pelo presidente Bolsonaro como possível cura contra a moléstia, e a nitazoxanida, nome do remédio vendido com nome comercial de "Annita" — anunciado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, como potencial medicamento contra a virose.

Nenhum dos três medicamentos possui ação comprovada contra a doença. Encontram-se em fase de testes em doentes para comprovar se de fato possuem alguma ação contra o novo coronavírus.

Em todo o mundo, mais de 300 substâncias com potencial de ação contra a covid-19 estão em teste. Até o momento, não existe remédio ou vacina.

A cloroquina e hidroxicloroquina, assim como o antibiótico associado em testes azitromicina e dezenas de outros medicamentos como anestésicos utilizados em UTIs, já tinham sido proibidos de ser livremente vendidos a outros países pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no dia 14.

Na semana anterior, a agência havia restringido a venda para o exterior de máscaras, luvas e respiradores mecânicos, mas voltou atrás.

Drone filma regiões de São Paulo para monitorar quarentena do coronavírus

Diversos países, como os Estados Unidos, também têm tomado medidas nas últimas semanas para restringir a exportação de produtos essenciais no combate à covid-19, como EPIs e respiradores.

Exportação proibida

No final da semana passada, o presidente sancionou projeto de lei aprovado no Congresso que proíbe a exportação de respiradores e EPIs enquanto durar a pandemia.

O texto aprovado na Câmara e no Senado diz que fica proibida a exportação de produtos médicos, hospitalares e de higiene essenciais ao combate à pandemia no Brasil.

O dispositivo determina a proibição de venda para fora do país de equipamentos como ventilador pulmonar mecânico, luvas, avental impermeável, óculos de proteção, gorro, máscaras cirúrgicas, protetor facial, camas hospitalares e monitores.

Maranhão dribla EUA e governo federal

O governo do Maranhão conseguiu driblar países europeus, os Estados Unidos e a Receita Federal brasileira para receber respiradores mecânicos comprados na China.

A operação de guerra foi montada depois de o governo maranhense ter sido atravessado três vezes em tentativas de comprar respiradores, uma delas pelo próprio governo federal, enquanto o sistema de saúde do estado, um dos mais pobres do país, corria o risco de entrar em colapso nos próximos dias por falta de equipamentos.

Os equipamentos estavam retidos a mando do Ministério da Saúde, mas o STF decidiu que o estado deve receber o lote.

O Ministério da Saúde distribuiu 40 milhões de EPIs aos estados, e agora está sem estoque. De acordo com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, uma compra dos Estados Unidos fez com que empresas chinesas cancelassem uma encomenda brasileira de milhões de EPI.

Equipamentos em falta

O governo federal, por sua vez, montou uma verdadeira operação de guerra, com apoio de empresas brasileiras, para trazer máscaras e outros equipamentos para a luta contra a covid-19 comprados na China. Estão previstos quase 50 voos.

O UOL mostrou que em meio a dificuldades de abastecimento dos estoques ao redor do país, cancelamento de compras internacionais do governo, racionamento e falta de itens essenciais em hospitais, profissionais da saúde organizam-se e recorrem ao mercado "paralelo" para comprar EPI (Equipamentos de Proteção Individual) do próprio bolso.