SP atende 3 mil pacientes por dia e estuda enviar doentes para o interior
Resumo da notícia
- Até 23 de abril, média de atendimentos na cidade era de 812 por. Nos três dias seguintes, subiu para 3.355
- Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde, que defende não flexibilizar a quarentena na capital
- A cidade tem cinco hospitais com UTIs lotadas. A média de ocupação da rede estadual é 81% e, na rede municipal, 75%
- Um professor da USP de Ribeirão Preto prevê colapso do sistema na próxima semana ou, na melhor das hipóteses, na segunda semana de maio
São Paulo viveu uma explosão de casos suspeitos de covid-19 nos últimos dias e o número de pessoas procurando atendimento médico quadruplicou. Dados da Secretaria Municipal mostram que, até 23 de abril, a média era de 812 pacientes por dia. Nos três dias seguintes, cresceu para 3.355. O motivo citado para a escalada é a baixa adesão ao isolamento social.
"É um salto muito grande. Significa dizer que o isolamento social segurou um pouco, mas, com volta circulação das pessoas o índice de contaminação acelerou brutalmente", avalia Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde.
Ele diz que as estatísticas refletem a queda de adesão à medida de restrição de circulação desde a quinta-feira anterior à Páscoa. A partir de então, a quarentena não foi obedecida por nem metade da população durante sete dias. Mais gente nas ruas, UTIs mais cheias.
Os hospitais da rede estadual têm 81% de ocupação nos leitos de tratamento intensivo. No município, o percentual é de 75%.
"Nossa curva tinha velocidade controlada, mas agora está crescente e em velocidade descontrolada. Vai refletir cada vez mais no sistema todo. Na atenção básica [AMA, UBS] e no hospital. Os estabelecimentos não podem voltar a funcionar. A gente sempre teve posição muito clara porque não podemos piscar", declarou o secretário municipal de Saúde.
Aparecido fez questão de ser enfático e afirmou que em duas semanas a pressão sobre o sistema será muito maior. Por este motivo, não vê espaço para a afrouxar a quarentena na cidade de São Paulo.
"Não há hipótese de ter flexibilização na capital dia 11 de maio."
Hospitais operam perto do limite ou mais que isso
A planilha se traduz em excesso de trabalho por quem toca os hospitais: os profissionais de saúde. As estatísticas viram fila e sofrimento para quem necessita dos hospitais: os pacientes.
O relato de uma médica do Hospital Geral Vila Penteado, zona Norte, coincide com as datas do secretário municipal de Saúde.
Ela disse que desde o sábado sempre há setor lotado. Um dia é UTI, no outro, enfermaria ou centro de triagem de suspeitos de covid-19.
Um boletim interno ao qual o UOL teve acesso mostrou que, no sábado, havia 33 pessoas no setor "observação covid", que tem 12 leitos — ou seja, 175% de procura além da capacidade.
Na enfermaria, eram 29 vagas e 42 pessoas, o que representa 44% acima da capacidade. No sábado, havia somente um leito semi-intesivo disponível e dois de UTI.
Ontem, várias pessoas exercitavam a paciência na calçada ao redor do contêiner onde funciona o centro de triagem. No interior, idosos sentados em cadeira de rodas aguardavam até serem chamados.
Mas Shirley Aparecida da Silva, 53 anos, não controlou a irritação quando a mãe, Maria Aparecida da Silva, 73 anos, ameaçou deitar no chão. A idosa estava sentindo muitas dores no corpo, não havia mais posição na cadeira de rodas. A respiração difícil multiplicava o desconforto. Ela chorava com medo de morrer e os médicos explicavam que no centro de triagem não há camas para pacientes.
"Na hora eu tive de contar até 10 para não fazer um barraco. Ameacei chamar a polícia, porque paciente no chão de hospital é caso de polícia", contou.
A mãe aguentou mais um pouco na cadeira de rodas. Ela estava no Hospital Geral Vila Penteado desde as 10 horas da manhã, e os médicos decidiram que Maria Aparecida necessitava de internação na enfermaria. Mas, às 4 horas da tarde, a idosa ainda aguardava junto a outras quatro pessoas. Ontem, foi dia justamente de enfermaria lotada. Desde que Shirley chegou, ela viu seis pessoas serem internadas neste setor.
Na zona Leste também há muita demanda. Enquanto bares, salões de beleza, imobiliária e até um chaveiro estão de portas abertas na Cidade Tiradentes, um motorista de ambulância fazia a segunda viagem em menos de uma para levar paciente com suspeita de covid-19 ao hospital.
Ao mesmo tempo, Gabriel Ferreira Sousa, 23 anos, deixava a unidade de saúde com a mãe depois de ouvir dos médicos que deve ser coronavirus, mas que era para tratar em casa e ficar de quarentena.
"Voltamos sem resposta que dê tranquilidade. Médico falou que não é grave, mas minha mãe está sem comer. É minha mãe, né? Tenho medo, medo de ela morrer", afirmou.
A explosão no número de casos fez as UTIs lotarem. O município de São Paulo tem quatro hospitais sem vagas de terapia intensiva. A rede estadual continua com o Emílio Ribas com 100% de ocupação.
O UOL procurou a Secretaria Municipal de Saúde para comentar os casos, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
São Paulo não descarta levar pacientes para o interior
A situação é crítica na avaliação do professor de Medicina Social da USP de Ribeirão Preto, Domingos Alves, um dos pesquisadores que integra a iniciativa Covid-19 Brasil, que monitora dados sobre a doença em todo o país.
Ele afirmou o colapso da rede está próximo e não haverá vagas de UTI na região metropolitana de São Paulo já na próxima semana ou, na melhor das hipóteses, na segunda semana de maio. A única forma de frear a disseminação do novo coronavírus seria aumentar a adesão ao isolamento social.
O presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde de São Paulo, Geraldo Reple Sobrinho, também está preocupado. Ele disse que a taxa de ocupação de 81% dos leitos de UTI da rede estadual é um alarme. Além de colocar em dúvida o fim da quarentena, ele teme que faltem vagas.
A prefeitura de São Paulo e o governo estadual têm consciência do desafio e trabalham para abrir leitos. O município esperar passar dos atuais 623 para 1.361 até o final de maio. Mas, mesmo com a expansão da rede, pode faltar vaga. Tanto que a Secretaria estadual de Saúde não descarta enviar pessoas para o interior.
Um estudo do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo mostra que fora da região metropolitana a disseminação da pandemia está duas semanas atrasada. Isto significa disponibilidade de leitos. O secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, explicou que o gargalo é a capacidade de transporte, algo que considera São Paulo bem equipado.
Ele disse que é possível enviar pacientes para até 400 quilômetros de distância da capital. Mas ressaltou que espera não precisar adotar a medida porque gera muito incomodo para as famílias. Contudo, desde que o isolamento diminuiu, as autoridades de saúde estão preocupadas e os profissionais dos hospitais, com mais serviço.
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