Contra covid-19, ex-presidente da Anvisa sugere lista única de leitos
O combate à pandemia do novo coronavírus exige a inclusão de leitos da rede hospitalar privada. A opinião é do médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em entrevista ao jornal O Globo, Vecina pediu a formação de uma fila única de leitos, somando esforços públicos e privados, para acelerar os cuidados com os pacientes com a covid-19.
"É um compromisso com a dignidade, uma questão ética ou moral, não tem saída para isso. Você tem quatro vezes mais leitos por habitantes no setor privado do que no setor público. Se põe todo mundo junto, duplica a capacidade do sistema. Isso vai significar um novo ordenamento durante a excepcionalidade de uma crise. O que diferenciará as pessoas não é o dinheiro e sim o estado clínico delas", disse Vecina, que não vê alternativas para a cessão de leitos privados. "Seria um milagre, mas eu não quero falar isso."
O médico — que já foi secretário municipal de Saúde de São Paulo (2003-2004) e superintendente do Hospital Sírio-Libanês — criticou ainda a falta de coordenação nacional para o combate à pandemia. E foi claro ao dizer que a hora de unir as filas de leitos é agora.
"Vai ter que ter ressarcimento, vai ter que pagar, mas tem tempo para negociar. Os hospitais privados sabem quanto custa o leito e o setor público sabe que não tem saída. É preciso organizar em cada estado, que vai dizer quantos leitos são necessários, se vai requisitar ou contratar", disse o médico.
"Faz como fez com os transplantes, o paciente entra na fila. Eu acho que temos capacidade e inteligência de montar essa fila — não sou o gestor, mas se fosse, seria capaz de fazer isso de um dia para o outro. É um software simples, quem diz que não dá para fazer é porque não quer fazer."
Gonzalo Vecina Neto cobrou a realização de mais testes e de mais isolamento. No primeiro ponto, ele projetou ser possível a realização de 60 mil testes por dia até o final de maio, o que "é bastante". No segundo, pediu atenção às periferias.
"A pandemia está indo para a periferia, os prefeitos têm que acordar. Nas favelas, é preciso pegar as escolas e transformar em hotéis para colocar as pessoas. Se não tiver escola, tem que requisitar hotel para fazer o isolamento. A pessoa identificada com coronavírus precisa de uma quarentena de 14 dias", sugeriu.
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