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'Espero que o Brasil não fique no fim da fila', diz cientista sobre vacina

David Quammen no Conversa com Bial - Reprodução/vídeo
David Quammen no Conversa com Bial Imagem: Reprodução/vídeo

Colaboração para o UOL

29/05/2020 02h17

Nesta madrugada, o "Conversa com Bial" recebeu o cientista e escritor norte-americano David Quammen e o consultor científico Stevens Rehen para analisarem a situação do coronavírus e opinarem como a sociedade poderá funcionar no novo mundo pós-pandemia. Ambos falaram também da tão aguardada vacina, que pode demorar para surgir.

Quammen, autor do best-seller "Contágio", disse que o caminho para a vacina será longo, pois depois de descoberta e aprovada, a fabricação em grande quantidade e mais a estratégia de distribuição demandará tempo: "Ninguém sabe quando teremos uma vacina, nem qual país terá sucesso no desenvolvimento dela. Eu só espero que o Brasil não fique no fim da fila [para recebê-la]".

O Brasil não tem participação ativa na produção de vacinas organizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e está contribuindo apenas com pesquisas.

"O mundo está trabalhando com uma diversidade grande de candidatos desenvolvedores de vacina e isso abrange diferentes técnicas e possibilidades", acrescentou Rehen na conversa. "É provável que as primeiras amostras da vacina venham dos EUA, Europa e China", opinou ele.

Se a vacina for descoberta nos EUA, para Quammen, isso será um grande problema. "Quando desenvolverem a vacina, haverá muita pressão para quem irá recebê-la primeiro. Se os países ricos receberem primeiro, isso será uma péssima ideia. E, com o presidente que temos [Donald Trump], que propaga a ideia de 'América primeiro', imagino que ele vai querer que os EUA recebam antes do resto do mundo".

Política vs. coronavírus

O livro de não-ficção de Quammen, lançado em 2012, já alertava o mundo que um vírus mortal poderia surgir em breve. No entanto, o jornalista científico afirma que a política é o principal fator que fez com que os governos não se preparassem para a chegada da pandemia, além de atrapalhar a evolução da ciência e da tecnologia.

"Os líderes não queriam gastar dinheiro nem capital político para preparar os países para a pandemia que ia acontecer em algum momento", explicou Quammen. "Eles ouviam os alertas, mas o cálculo político foi: 'Por que gastar bilhões de dólares se essa pandemia pode não acontecer durante o meu mandato?"', completou.

A covid-19 já matou mais de 300 mil pessoas ao redor do globo. O Brasil contabiliza 26.764 óbitos e, pelo terceiro dia consecutivo, apresentou mais de 1 mil mortes em 24h.

O "Conversa com o Bial" vai ao ar de segunda à sexta-feira após o Jornal da Globo.