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Mandetta posta versículo e alfineta: "não basta citar, tem que praticar"

Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

08/06/2020 07h40Atualizada em 08/06/2020 09h36

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta postou um versículo da Bíblia citado com frequência pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para questionar a conduta do governo em relação à mudança na divulgação dos dados do coronavírus no Brasil. No último sábado, a ministério disse que não iria mais divulgar o número acumulado de mortes e casos confirmados da doença no Brasil. Ontem, o governo recuou, mas apresentou dois balanços diferentes, com uma variação de mais de 800 mortos.

"Não basta citar, tem que praticar", escreveu Mandetta, transcrevendo antes o versículo encontrado em João 8;32 que diz: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". A mensagem foi compartilhada no Twitter por outro ex-ministro do Governo, Sergio Moro, que deixou o comando da pasta de Justiça e Segurança Pública após divergências com Bolsonaro.

Mandetta fez o comentário em cima de uma postagem que indicava uma declaração na qual o ex-ministro dizia que a omissão de dados na Saúde era "burra' e "tacanha".

Em entrevista à GloboNews, Mandetta ainda disse que a medida "é uma infantilidade absurda e uma infantilidade que vai trazer consequências".

O Brasil registrou 37.312 mortes causadas pelo coronavírus e acumulou 685.427 casos. O Ministério da Saúde divulgou os dados oficiais na sexta-feira e sábado sem o total de casos confirmados e óbitos. A medida foi criticada por parlamentares, juristas e cientistas. Neste domingo, as estatísticas completas voltaram a ser reveladas.

Divergência

A postagem de Mandetta ocorreu depois de o Ministério da Saúde divulgar dados divergentes sobre o número de novos casos e óbitos registrados nas últimas 24 horas. Em um primeiro momento, a pasta anunciou 1.382 mortes por covid-19 no país, mas mais tarde alterou o número para 525, uma diferença de 857.

Houve ainda uma mudança no número de infectados. O primeiro balanço divulgado pelo ministério informava um total de 12.581 novos casos, contra 18.912 casos atuais.

A mudança ocorreu entre as 20h37, quando o balanço diário foi enviado à imprensa, e às 21h50, quando o site oficial foi atualizado. Procurado pelo UOL, a pasta confirmou os dados enviados no início da noite, mas não retornou os pedidos para explicação do ocorrido ou confirmou qual dos índices deve ser considerado como o oficial para o dia de hoje.

Dados atrasados e omitidos

A divulgação de dois dados completamente diferentes num mesmo dia é um novo capítulo de uma semana de polêmicas na divulgação dos dados diários do coronavírus no Brasil. Durante a semana, sem explicações prévias, o governo passou a publicar os números apenas depois das 21h30. O presidente Bolsonaro chegou a ironizar que a mudança acabaria com as reportagens do Jornal Nacional.

Na sexta-feira, além do atraso na divulgação, o Ministério da Saúde passou a omitir os dados totais de casos e mortes, divulgando apenas os números registrados nas 24h anteriores. No Twitter, o presidente escreveu que "ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país. Outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica".

Entidades e autoridades criticaram as mudanças na divulgação dos números, atacando sobretudo a falta de transparência. Na noite de sábado, o MPF (Ministério Público Federal) obrigou o governo a apresentar, dentro de 72h, explicações para as alterações no protocolo de apresentação dos dados.

Ontem, o Ministério da Saúde voltou a mostrar os dados completos, mas com as divergências acima citadas.