Bahia: Secretaria de Saúde acusa deputado do PSL de invadir hospital
A Secretaria de Saúde da Bahia informou que registrou um boletim de ocorrência para apurar uma suposta invasão do deputado estadual Capitão Alden (PSL) a um hospital de campanha que atende pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, no município de Lauro de Freitas, na Grande Salvador. Segundo a pasta, o caso ocorreu na manhã de hoje.
Ao UOL, o deputado negou ter invadido o local. Filiado ao ex-partido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Capitão Alden afirmou que o próprio secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, teria autorizado a entrada no local em uma conversa por WhatsApp.
A suposta invasão ocorreu menos de uma semana após Bolsonaro pedir aos seus seguidores nas redes sociais que filmem o interior de hospitais públicos e de campanha para averiguar se os leitos de emergência estão livres ou ocupados.
Um vídeo (veja acima) divulgado por Vilas-Boas mostra o deputado na área interna da unidade de saúde. Ele aparece acompanhado de outras duas pessoas, uma delas segurando uma filmadora.Nas imagens é possível ver os funcionários tentando convencê-lo a não entrar no hospital e, possivelmente, violar o direito de imagens dos pacientes.
Devido ao alto risco de contaminação, o espaço foi concebido como uma área de isolamento respiratório, onde não são permitidas visitas, nem a presença de acompanhantes.
Capitão Alden, por sua vez, insiste dizendo que filmaria o local. "Pode chamar quem você quiser. Nós vamos adentrar, porque o nosso papel é esse."
Em seguida, acrescenta: "Se você, como cidadão, verificar sua imagem sendo veiculada em qualquer outro canto, sem os devidos mosaicos, você vai me processar. É simples. Agora a filmagem vai ser feita. Ela vai ser editada, o rosto vai ser coberto e pronto, não há o que se falar em direito a imagem".
Segundo versão da Secretaria Estadual de Saúde, um dos seguranças do parlamentar posicionou-se na porta de um dos quartos e acabou tendo acesso a uma paciente que tomava banho e tinha as partes íntimas expostas. A pasta diz que o deputado também teria ameaçado dar voz de prisão aos funcionários do hospital e demonstrava estar armado.
"É lamentável que o deputado e os seus seguranças coloquem em risco a própria saúde, sob risco de serem infectados com a covid-19, bem como a de pacientes e profissionais", diz uma nota divulgada pela pasta.
Em sua conta no Twitter, o secretário Vilas-Boas diz que a atitude do deputado "traz vergonha e indigna toda a Bahia".
"A invasão do Hosp. de Campanha Riverside pelo Deputado PM Capitão Alden, ocorrida hoje, indigna toda a Bahia e traz vergonha ao parlamento e à corporação. Melhor se usasse de suas prerrogativas para ajudar a encontrar soluções para o quadro que vivemos", escreveu.
"Nossos profissionais da saúde já estão sofrendo bastante para fazer o que podem para salvar vidas durante a pandemia e agora ainda têm de se preocupar com a própria integridade física durante o trabalho", completou Vilas-Boas.
Deputado diz que foi autorizado
O deputado acusa Fábio Vilas-Boas de boicotá-lo, após ele questionar, na Assembleia Legislativa, valores de contratos firmados pela pasta por ocasião da pandemia.
"Estão dizendo que eu teria invadido a unidade hospitalar. Isso não procede. Desde o dia 20 de abril eu encaminhei um ofício à Secretaria da Saúde, endereçadas ao secretário da Saúde, Fábio Vilas-Boas. Minha intenção, como deputado, é visitar hospitais de campanha e todas unidades de saúde", justifica o Capitão Alden.
Ele afirma que, após enviar o primeiro ofício, encaminhou outras duas versões do mesmo documento, no qual apresentava um cronograma com datas e horários para as visitas às unidades, incluindo o hospital de campanha em que esteve hoje.
O deputado também rechaça a versão de que teria atendido a uma "ordem" de Bolsonaro e negou que estivesse armado. "Isso não procede. Eu desde o dia 20 de abril tenho tentado formalizar a visita."
"Disseram que eu estava armado. Isso também não procede. Mandaram quatro viaturas. Eu estava com meus seguranças e um cinegrafista. Eu levantei a camisa e mostrei que não estava armado. Nem eu nem meus seguranças. Não pulei muro, não entrei ameaçando ninguém. Falei com o segurança e pedi para chamar o diretor do hospital", defendeu-se o parlamentar.
Capitão Alden disse que enviaria ao UOL um print da suposta conversa em que teria sido autorizado pelo secretário e do ofício com o pedido das visitas. Até a publicação da reportagem, nenhum material foi encaminhado.
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