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Pazuello diz que testagem não é essencial e critica protocolo inicial

O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, acredita que diagnóstico médico é fundamental para controle da doença - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, acredita que diagnóstico médico é fundamental para controle da doença Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

17/07/2020 08h12

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse, em entrevista à revista Veja, que a testagem não é essencial para o diagnóstico durante a pandemia do novo coronavírus. A afirmação vai na contramão da recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde), que coloca a aplicação de testes como um dos pilares da estratégia de enfrentamento à covid-19.

Na avaliação de Pazuello, o diagnóstico da doença pelo médico, com análise clínica e auxílio de outros exames, permite um tratamento antecipado que, em sua opinião, pode ser mais eficaz. Por isso, ele fez críticas à estratégia inicial do ministério, quando ainda era comandado por Luiz Henrique Mandetta, de não recomendar a busca por atendimento médico a quem tinha sintomas leves.

"Não [testagem não é essencial]. O diagnóstico é clínico, é do médico. Pela anamnese, pela temperatura, por um exame de tomografia, por uma radiografia do pulmão, por exame de sangue, podendo até ter um teste. Criaram a ideia de que tem de testar para dizer que é coronavírus. Não tem de testar, tem de ter diagnóstico médico para dizer que é coronavírus. E, se o médico atestar, deve-se iniciar imediatamente o tratamento", disse.

Na última semana, o ministério da Saúde mudou o protocolo de combate à pandemia no Brasil, orientando pacientes a procurarem médicos mesmo com sintomas leves. Em um primeiro momento, a recomendação era esperar o agravamento dos sintomas para atendimento e assim evitar uma corrida aos hospitais e sobrecarregar a testagem, na época ainda escassa.

"No início, a população foi orientada a permanecer em casa mesmo com os sintomas da covid. E era para ficar em casa até sentir falta de ar. E, quando você tivesse falta de ar, ainda diziam para segurar mais um pouquinho. Matamos quantas pessoas com isso? Loucura. O porcentual de morte sobe para 70% ou 80%. E isso não está dito em lugar nenhum, principalmente por quem agora nos critica", disse Pazuello.

Questionado diretamente se a referência era a Mandetta, Pazuello disse que a postura pode ter relação com uma "curva de aprendizagem" da doença e que não diria que "ele estava errado ou teve dolo".

"Ele imaginava que a melhor coisa era ficar em casa até passar mal. Não vou dizer que ele estava errado ou que teve dolo. Na época era o que tinha de certo. Isso é a curva de aprendizagem. É uma doença nova, o Ministério da Saúde não tinha conhecimento do tratamento precoce, dos medicamentos que davam certo ou não e sobre quais medidas funcionavam. Ele fez um protocolo, e isso teve de ser modificado. Agora é tratamento imediato, nada de ficar em casa doente. E o diagnóstico é do médico, não do teste", disse.

Testagem

Desde março, no início da pandemia, a OMS adota em suas recomendações a testagem como ponto central. O diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, disse na ocasião: "Nós temos uma mensagem simples para os países: testar, testar, testar. Teste todo caso suspeito."

Casos bem-sucedidos de países que em um primeiro momento controlaram o avanço da doença, como Coreia do Sul e Alemanha, tiveram a aplicação de testes como uma das prioridades para identificar casos, isolar pacientes e rastrear a expansão do vírus.

"Brasil será exemplo"

Na entrevista publicada hoje, Pazuello também avaliou a situação atual da pandemia no Brasil e disse que o país está seguindo um protocolo que será exemplo mundial, apesar das críticas frequentes que tem recebido de organizações como a OMS e de epidemiologistas.

"Nós fazemos sempre consultas com comitês internacionais, e o que dizem é que a gente está com o protocolo número 1. O Brasil vai ser um exemplo positivo para o mundo. Usamos o que tem de mais moderno. Criamos critérios técnicos e seguimos em cima deles. Vamos ganhar essa guerra", disse.

O país superou ontem a marca de dois milhões de casos e é o segundo com mais infectados no mundo, atrás apenas dos EUA, segundo dados da OMS.