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Covid: Bolsonaro diz que nº de mortes na Índia foi 'lá embaixo'; país é 5º

Do UOL, em São Paulo

06/08/2020 20h29

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em live semanal no Facebook, afirmou que pedirá ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, dados sobre o uso da hidroxicloroquina pela população da África e da Índia — que, segundo ele, utilizaram o medicamento no combate ao novo coronavírus.

Bolsonaro, entretanto, errou ao apontar que o número de mortes pela doença foi "lá embaixo" nos países. Estudos indicam que há casos de subnotificação tanto na Índia quanto na África.

"Eu pedi pro Ernesto Araújo me informar de verdade, junto com embaixadores nossos na África, qual foi a quantidade de mortes em cada estado, porque lá o pessoal tomou isso aqui [a cloroquina] direto. Pedi também, junto ao nosso embaixador na Índia, o número de óbitos. Pessoal pobre, sem energia, sem muitos anticorpos, e o número de mortes foi lá embaixo", afirmou o presidente na live.

Índia

A Índia, o segundo país mais populoso do mundo com mais de 1.3 bilhão pessoas, superou na segunda (3) os Estados Unidos e o Brasil em novos dados de mortes e casos em 24 horas — o primeiro e o segundo no mundo, respectivamente na lista.

O país tem uma taxa de mortalidade por coronavírus de cerca de 2,9 a cada 100 mil pessoas — são mais de 1,9 milhão de casos e quase 41 mil mortes, segundo dados oficiais. Já os EUA e o Brasil têm uma taxa de mortalidade de 47,5 e 45,2, respectivamente.

Entretanto, os números mais recentes mostram que o surto na Índia não está perdendo força e que há muitas subnotificações. O país ainda apresenta uma curva ascendente segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Conforme artigo recente da revista Nature, a verdadeira escala da epidemia pode não ser aparente, já que o país possui um sistema incompleto de registro de óbitos — ou seja, nem todas as mortes são registradas e a causa documentada geralmente está incorreta.

O epidemiologista Jayaprakash Muliyil explicou à publicação que a única maneira de comprovar que um paciente morreu por covid é fazendo o teste de RT-PCR. "E com uma população de 1,3 bilhão de pessoas, qual você acha que é a proporção de pessoas que têm acesso a esse tipo de teste? É muito baixo."

Para Muliyil, não há como contar todas as mortes pela doença, "a menos que testes rápidos se tornem mais amplamente disponíveis".

Ele lembrou também que pelo menos metade de todas as mortes ocorreram em aldeias rurais — que representam cerca de 66% da população total do país. "Não existem mecanismos reais para determinar as causas das mortes nessas aldeias."

África do Sul

A situação do país africano é semelhante ao que ocorre na Índia, segundo especialistas. Um estudo do Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul (SAMRC) indica que o número de mortes pela doença pode ser muito maior do que as 9,2 mil apontadas pelo governo.

No período o crescimento de mortes consideradas naturais foi de 17 mil — 59% maior do que nos anos anteriores. Segundo o número, a África do Sul tem pelo menos 11 mil mortes sem explicação.

A professora Debbie Bradshaw, responsável pelo levantamento, indicou que esses relatórios "revelaram uma enorme discrepância entre as mortes confirmadas de covid-19 no país e o número de excesso de mortes naturais".

Não está claro se a alta do número de mortes registradas recentemente se resume à pandemia, mas pesquisadores acham que isso pode ser um fator. Pelo site da OMS, é possível identificar que as curvas de casos e mortes de covid ainda são altas na África do Sul.

Segundo a BBC, há também preocupações de que as pessoas estejam morrendo porque ficam longe dos hospitais, por medo de serem infectadas ou por falta de espaço.

A presidente do SAMRC, Professora Glenda Gray, disse que o aumento pode pode ser atribuído tanto às mortes por covid-19 quanto por outras doenças, como tuberculose e HIV e doenças não transmissíveis, já que os serviços de saúde são reorientados para apoiar a crise sanitária.

Já o continente africano superou hoje o milhão de casos do novo coronavírus oficialmente declarados, dos quais mais da metade foram registrados na África do Sul.