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Se parte deixar de tomar vacina, coronavírus continuará, diz diretor da OMS

Tedros Adhanom alertou para o risco de que mais pobres sejam "atropelados" na corrida pela vacina - Denis Balibouse/Reuters
Tedros Adhanom alertou para o risco de que mais pobres sejam "atropelados" na corrida pela vacina Imagem: Denis Balibouse/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

24/11/2020 16h19Atualizada em 24/11/2020 16h46

O diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou hoje que, se parte da população não tomar uma futura vacina contra a covid-19, o coronavírus vai continuar a circular e a recuperação global sofrerá atraso.

"No nosso mundo interconectado, se algumas pessoas deixarem de ser vacinadas, o vírus vai continuar circulando e a recuperação global será atrasada", declarou, em evento online sobre a covid-19 promovido pela Comissão de Epidemiologia da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Ele disse que todo governo quer fazer o que puder para proteger o próprio povo e tem esse direito. No entanto, alertou, há um risco real de que as pessoas mais pobres e vulneráveis sejam "atropeladas nessa corrida pelas vacinas".

Segundo Tedros, a sociedade científica estabeleceu um novo patamar para o desenvolvimento de vacina - imunizantes chegaram à fase final de desenvolvimento em meses, em vez de anos, como costuma ocorrer - e, agora, é a vez de a comunidade internacional estabelecer um novo patamar para seu amplo acesso.

"Uma vacina segura e aprovada deve levar ao uso eficaz, e a melhor maneira de fazer isso é pela vacinação de algumas pessoas em todos os países em vez de todas as pessoas em apenas alguns países. Compartilhar é do interesse de cada país e todos eles. Não é caridade. É a maneira mais rápida e inteligente de acabar com a pandemia e acelerar a recuperação econômica global", afirmou.

O diretor-geral da OMS ressaltou que a iniciativa Covax, em busca da distribuição ampla de uma vacina segura, conta com a participação de 187 países, incluindo o Brasil. Porém, chamou a atenção de que as vacinas vão complementar outras medidas de saúde pública para o combate da pandemia e é preciso continuar com cuidados para evitar a propagação do vírus.

Tedros reforçou que o fornecimento de vacinas contra a covid-19 deverá ocorrer primeiro a profissionais de saúde, idosos e pessoas em grupos de risco. Essa é a melhor maneira para que se rompa a cadeia de transmissão do coronavírus, poupar vidas e restaurar confiança, informou.

Segundo o etíope, embora haja uma esperança real de se trazer a pandemia sob controle diante das notícias positivas de testes de vacinas em desenvolvimento, "ainda temos um caminho longo pela frente e todos os países devem continuar tendo uma abordagem equilibrada".

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu declarações críticas sem fundamento científico à vacina CoronaVac, sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo estadual de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB) - atualmente, seu rival na política nacional. Entre idas e vindas, falou que o governo federal apoiará as vacinas credenciadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Bolsonaro também já indicou que não adotará medida que obrigue todos os brasileiros a se vacinarem contra o coronavírus. Hoje, a esposa do filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Heloísa Bolsonaro criticou o movimento antivacina, que questiona a necessidade de imunização de crianças e adultos. A declaração foi uma resposta a um seguidor que perguntou a Heloísa se Geórgia, sua filha recém-nascida, tomará todas as vacinas.

Após repercussão, Heloísa Bolsonaro reclamou da mídia e disse que "não se referia à vacina contra covid", e sim "aos pais que, às vezes, querem poupar os filhos de vacinas".

Economia e saúde andam juntos, diz Tedros

Em fala, Tedros disse que a pandemia demonstrou que a saúde não é simplesmente um produto derivado do desenvolvimento econômico, mas a "base essencial de economias resilientes e produtivas", estando "profundamente interligadas".

Ele citou que, quando as pessoas estão saudáveis, podem aprender, trabalhar e inovar. Quando as pessoas estão doentes, todos acabam sendo afetados e sofrendo. Em caso de pandemia, então, a base da economia de um país pode ruir.

O diretor-geral da OMS afirmou que o Brasil tem uma "história longa e orgulhosa em saúde pública" e defendeu investimentos no setor.

Sem se referir a um país especificamente, ele falou que, a cada ano, milhões de pessoas entram na pobreza porque não têm acesso ou não podem pagar por serviços sanitários essenciais. Disse ainda que, em anos recentes, muitos países investiram no desenvolvimento da medicina, mas acabaram por negligenciar o sistema público de saúdo, mais voltado à prevenção.