"Iam enterrar meu filho como indigente", diz mãe sobre Hospital do Servidor
Era 10h45 de domingo, 13 de dezembro, quando o visual merchandising Diogo da Silva Paz, 30, desembarcou no HSPM (Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo) trazido pelo Corpo de Bombeiros depois de encontrado caído em uma rua na Liberdade, no centro. Embora tenha conseguido informar seu nome, endereço e os dados da mãe antes de morrer naquela mesma tarde, o rapaz quase foi enterrado na última sexta-feira (18) como indigente, denuncia a família e amigos.
O hospital não ajudou a gente. Ia enterrar meu filho como indigente. Não fosse o amigo do meu filho, até hoje eu estaria sem saber."
Dalva Gonçalves da Silva Paz, 56, diarista
De acordo com o Boletim de Ocorrência a que o UOL teve acesso, "a síntese da história clínica diz que o paciente foi recepcionado pelo HSPM, vítima de agressão por terceiro, trazido por bombeiros". O prontuário do hospital não informa a agressão relatada. Diz apenas que a causa da morte foi um "edema pulmonar" (excesso de líquido no pulmão).
Coube ao melhor amigo de Diogo, o empresário Jared Baungartner, 32, encontrar o rapaz no IML (Instituto Médico Legal) após quase uma semana de buscas.
"Achei que ele tivesse viajado, desligado o celular, mas quando liguei pra família e disseram que ele não estava lá, comecei a procurá-lo em hospitais", diz o rapaz. "Foi quando a mãe de um amigo que trabalha no Hospital do Servidor descobriu que ele tinha dado entrada lá e que o corpo estava no IML."
Ele estava há 5 dias numa gaveta. O reconhecemos pelas tatuagens porque o rosto estava irreconhecível. Ele teria sido enterrado como indigente naquele mesmo dia se eu não tivesse encontrado ele na sexta (18)."
Jared Baungartner, 32
Dona Dalva diz que esperava ter sido contatada pelo hospital, já que seu nome e documento são informados no B.O, lavrado por membros do HSPM.
"Eu não sei quanto tempo meu filho ficou jogado nessa rua, não sei se ele foi atendido direitinho no hospital. Morreu de falta de ar com problema no pulmão, com a boca aberta", diz ela, chorando ao telefone.
Em nota, o HSPM afirma que o rapaz era branco, "informação dada pelo paciente", e que a sala de emergência "realizou avaliação completa, seguindo protocolo de suporte avançado de vida no trauma, sem evidências de lesões focais, exceto por ferimento na face". Diz ainda que Diogo estava "agitado, recusou-se a proceder à sutura do ferimento e retirou inadvertidamente a imobilização cervical".
"O paciente foi submetido a exames laboratoriais e de imagens que não evidenciaram a necessidade de conduta cirúrgica de emergência", diz. "Permaneceu em observação por cerca de quatro horas, quando o quadro evoluiu com parada cardiorrespiratória em assistolia."
Sobre o contato com a família, afirma ter tentado em dois telefones diferentes, "infelizmente sem sucesso".
O hospital notificou a Polícia Civil para a investigação do caso. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e a equipe médica do HSPM está à disposição para o que couber."
Hospital do Servidor Público Municipal, em nota
Investigação
Para dona Dalva e Baungartner, o rapaz — negro e gay — pode ter sido vítima de racismo ou homofobia. Para o empresário, a polícia também teria sido negligente ao se recusar a transferir o caso do 5º Distrito Policial, na Aclimação, para o DHPP, o braço da Polícia Civil responsável por investigar assassinatos.
A polícia se isentou. Estou temendo pela minha vida porque não sei quem fez, mas houve negligência do Estado na apuração e do funcionalismo público no hospital. Como era um gay, negro, não deram tratamento que daria a um playboy caído na esquina dos Jardins."
Jared Baungartner, 32
Segundo o ativista Robhério Limma, do movimento LGBTQI+ Lute como Ele, "o delegado respondeu que a morte foi lesão pulmonar, e que o jovem poderia ter morrido decorrente de ter pego uma doença. Como assim?"
Questionada, a Secretaria de Segurança Pública não respondeu as acusações. Afirmou em nota que o caso "segue em investigação".
"A equipe médica que atendeu o paciente será ouvida e a autoridade policial aguarda laudos periciais para análise", informa o comunicado.
Para dona Dalva, a vida nunca mais será a mesma.
"A gente se falava por telefone toda a semana. Agora não vai mais ter Natal, aniversário. Ninguém vai ligar pra mim no meio da semana", diz ela, que não pôde velar o filho.O enterro ocorreu no sábado (19), rapidamente em razão do estado do corpo, já em decomposição.
Se tivessem esfaqueado o meu coração estaria doendo menos."
Dalva Gonçalves da Silva paz, mãe de Diogo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.