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Bolsonaro atendeu AM, mas é responsável por muitas mortes, diz Virgílio

Thaís Augusto, Felipe Oliveira e Arthur Stabile

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

15/01/2021 15h12

O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) afirmou hoje que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) socorreu o Amazonas, mas é responsável por muitas mortes por covid-19 no Brasil. A declaração foi dada durante o UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Diogo Schelp e pelo repórter Nathan Lopes. A capital do estado convive com colapso no sistema de saúde com o fim do estoque de oxigênio disponível aos doentes, entre eles os infectados pelo novo coronavírus.

"O Bolsonaro é responsável por muitas mortes no país. Essas caminhadas ridículas, o jeito teatral dele de falar, agir, me lembra muito o Mussolini", disse ao comparar o presidente ao líder fascista italiano. "Ele desfilava sem máscara e as pessoas ficaram sem máscara também. Ele boicotou o atendimento a covid como pôde. Em Manaus, não posso me queixar do ponto de vista do estado porque ele nos socorreu e deu uma verdadeira assistência".

Virgílio também criticou Bolsonaro por dizer que não vai se vacinar contra o novo coronavírus, bem como provocar aglomerações em meio à pandemia e tirar as máscaras durante estes eventos. "Ele nega a vacina. Diz que não entregará seu precioso braço para se vacinar. É uma coisa complicada porque ele leva muitas pessoas a dizerem algo parecido. Ele tem seguidores, não sei se tantos, mas tem".

Ontem, Virgílio criticou o governador do Amazonas pela falta de oxigênio para o tratamento da covid-19 no estado: "O nome disso é assassinato", afirmou em vídeo publicado nas redes sociais. "Como é assassinato comprar respirador falso, respirador que não serve para curar ninguém, ainda mais em loja de vinho e com preços superfaturados".

O ex-prefeito se referia à compra, revelada em abril de 2020 pelo UOL, de 29 ventiladores pulmonares para tratar infectados com o novo coronavírus, feita pelo governo do AM em uma loja de vinhos. O governo do Amazonas pagou R$ 2,9 milhões, valor quatro vezes acima do preço de mercado dos aparelhos na época, para uma loja de vinhos por respiradores considerados "inadequados" pelo Cremam (Conselho Regional de Medicina do Amazonas).

Em outubro, Rodrigo Tobias, ex-secretário de Saúde do AM, disse em depoimento prestado à Polícia Federal que Wilson Lima era quem comandava a operação de compra dos respiradores. "Eu não estou vendo que falte oxigênio em nenhum outro lugar [do Brasil], mas está faltando em Manaus, está faltando no Amazonas", acrescentou Virgílio Neto.

Hospital de campanha 'parecia câmara de gás'

Durante o UOL Entrevista, Arthur Virgílio comparou os hospitais de campanha durante o tratamento da covid-19 com as câmaras de gás usadas pelos nazistas contra judeus na 2ª Guerra Mundial. "A equipe de saúde está cansada, estressada e traumatizada com esse episódio. Parecia uma câmara de gás. Parecia Hitler matando judeus naqueles tempos que a história não pode nunca esquecer", afirmou o ex-prefeito.

Para o tucano, a explicação para o momento atual está no governo do estado. "Dos hospitais, que eu saiba, [a situação] não pode ter mudado tanto de 15, 20 dias para cá. Foi coisa de hospitais estaduais, que nunca funcionaram bem", afirmou.

Questionado se poderia ter tomado ter evitado o colapso há um mês, o político garantiu que não e delegou a tarefa para o prefeito eleito, David Almeida (Avante). "Para decidir sobre se fazia ou não um hospital de campanha a poucas semanas de entregar a prefeitura, aí eu me sentia claramente um lemi duck e eu tinha um desconfiometro. Tinha que passar essa decisão para quem o povo tinha consagrado para assumir meu lugar", justificou.

Segundo ele, não existia a garantia local de que teria ajuda da iniciativa privada e de uma empresa para administrar as unidades, como aconteceu no início da pandemia. "Em dezembro, era inútil falar comigo. Eu não teria como operar um hospital de campanha tão rapidamente e não imaginava que iríamos chegar aos números de antes", disse ele. "Eu tinha essa convicção. Tudo isso me levava a dizer 'não tenho tempo'. Eu não podia imaginar".

Vítima de armação

A entrevista abordou a acusação feita pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PV), de ter encoberto o assassinato de um engenheiro com "a máquina da Prefeitura", o ex-prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) diz ser vítima de uma armação.

O crime ocorreu em 2019, quando a Polícia Civil do Amazonas indiciou dois enteados de Virgílio, Alejandro e Paola Valeiko, e um funcionário da segurança da prefeitura, Elizeu da Paz, pela morte do engenheiro Flávio Rodrigues, 41, no dia 29 de setembro —um carro da Prefeitura de Manaus foi usada para retirar o corpo de Flávio do local do crime, segundo inquérito ao qual o UOL teve acesso.

"Depois de um ano, o MP [Ministério Público] se dignou a nos dar o laudo que comprova a inocência do rapaz [que dirigia o carro oficial]. O rapaz é viciado em drogas e estava numa rodada de pessoas como ele. Há dois réus confessos, isso é um fato, insistiram em fazer dele o culpado porque o visado era eu", afirmou Virgílio.

Ele comentou sobre o carro da Prefeitura no local do crime: "O rapaz foi chamado por uma pessoa que estava na casa. Não fui eu que mandei o carro oficial lá nem fui eu que determinei que o carro oficial ficaria com a pessoa".

Segundo o inquérito, de 2019, a pessoa flagrada dentro do carro da prefeitura é o lutador de MMA Mayc Parede, amigo de Elizeu. Mayc teria confessado o assassinato e também foi indiciado no caso. "Eu era o alvo", voltou a enfatizar Virgílio. "Queriam descobrir algum defeito em mim".