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Eu não teria como levantar hospital de campanha em dezembro, diz Virgílio

Do UOL, em São Paulo

15/01/2021 15h28

Prefeito de Manaus até 2020, Arthur Virgílio Neto (PSDB), afirmou hoje que não conseguiria levantar um hospital de campanha em dezembro. Segundo Virgílio, ele tinha "convicção" de que a situação de Manaus não chegaria aos níveis de abril, no início da pandemia da covid-19. A declaração foi dada hoje no UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Diogo Schelp e pelo repórter Nathan Lopes.

"Em dezembro, era inútil falar comigo. Eu não teria como operar um hospital de campanha tão rapidamente e não imaginava que iríamos chegar aos números de antes", disse ele. "Eu tinha essa convicção. Tudo isso me levava a dizer 'não tenho tempo'. Eu não podia imaginar".

O ex-prefeito ainda disse que fez "mais do que podia" para lidar com a pandemia da covid-19 em Manaus. "Os hospitais de campanha não eram minha obrigação, mas tomei a iniciativa".

Questionado se poderia ter tomado mais alguma atitude no fim de seu mandato para evitar o colapso, o político garantiu que não, pela burocracia que envolve a reabertura de hospitais de campanha e delegou tal tarefa para o prefeito eleito, David Almeida (Avante).

"Para decidir sobre se fazia ou não um hospital de campanha a poucas semanas de entregar a prefeitura, aí eu me sentia claramente um lemi duck e eu tinha um desconfiometro. Tinha que passar essa decisão para quem o povo tinha consagrado para assumir meu lugar", justificou.

Nesta segunda onda da covid-19, Manaus é uma das capitais mais afetadas do Brasil. Com população de cerca de 2,2 milhões de habitantes, a capital amazonense soma 91.461 casos confirmados da doença desde o início da pandemia, além de 3.856 mortes, segundo dados recentes divulgados pela prefeitura.

Ontem, Virgílio criticou o governador do Amazonas pela falta de oxigênio para o tratamento da covid-19 no estado: "O nome disso é assassinato", afirmou em vídeo publicado nas redes sociais. "Como é assassinato comprar respirador falso, respirador que não serve para curar ninguém, ainda mais em loja de vinho e com preços superfaturados".

O ex-prefeito se referia à compra, revelada em abril de 2020 pelo UOL, de 29 ventiladores pulmonares para tratar infectados com o novo coronavírus, feita pelo governo do AM em uma loja de vinhos.

O governo do Amazonas pagou R$ 2,9 milhões, um valor quatro vezes acima do preço de mercado dos aparelhos na época, para uma loja de vinhos por respiradores considerados "inadequados" pelo Cremam (Conselho Regional de Medicina do Amazonas). Em outubro, Rodrigo Tobias, ex-secretário de Saúde do AM, disse em depoimento prestado à Polícia Federal que Wilson Lima era quem comandava a operação de compra dos respiradores.

"Eu não estou vendo que falte oxigênio em nenhum outro lugar [do Brasil], mas está faltando em Manaus, está faltando no Amazonas", acrescentou Virgílio Neto.

Colapso em Manaus

O aumento nos casos e internações por covid-19 em Manaus provocou um novo colapso no sistema de saúde do município. Hospitais enfrentam falta de cilindros de oxigênio, usados, principalmente, em pacientes que necessitam de intubação.

Na manhã de hoje, a FAB (Força Aérea Brasileira) realizou o primeiro embarque de pacientes com covid-19 em Manaus que serão levados para outros estados. Nove pacientes e cinco médicos embarcaram no voo com destino a Teresina.

Duas aeronaves C-99 do Primeiro Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte (1º/2º GT - Esquadrão Condor) cumprem as missões de transporte dos pacientes com o objetivo de minimizar os impactos no sistema de saúde da capital amazonense.

Diversos estados e municípios e até o governo da Venezuela ofereceram ajuda ao Amazonas. O país vizinho afirmou que vai disponibilizar oxigênio para atender os hospitais amazonenses.

O governo brasileiro chegou a pedir ajuda aos Estados Unidos para tentar socorrer a rede de saúde do Amazonas após o estoque de oxigênio acabar em vários hospitais da capital, Manaus, hoje. A situação levou pacientes internados à morte por asfixia, segundo relatos de profissionais da saúde.

Ontem, os cemitérios de Manaus registraram 186 sepultamentos. Desse total, 134 foram em cemitérios públicos, enquanto 52 foram realizados em espaços particulares. Entre as causas das mortes dos sepultamentos nos cemitérios públicos, 58 foram declaradas como covid-19, e um caso suspeito. Já nos espaços privados, foram 29 registros de óbitos pelo novo coronavírus.

'Fizemos nossa parte', diz Bolsonaro

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a situação do Amazonas em relação ao coronavírus está "terrível", mas isentou o governo federal e declarou que "fez sua parte, com recursos, meios".

O governante também lembrou que as Forças Armadas estão mobilizadas na região para dar assistência ao sistema público de saúde, que se encontra em colapso e enfrenta problemas graves como falta vagas em UTI e insuficiência de cilindros de oxigênio. O equipamento é fundamental no tratamento de casos de covid-19.

"A gente está sempre fazendo o que tem que fazer, né? Problema em Manaus: terrível o problema lá, agora nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios", declarou ele. "O ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] esteve lá na segunda-feira, providenciou oxigênio, começou o tratamento precoce, que alguns criticam ainda."

Em ação civil pública ajuizada ontem na Justiça Federal de Manaus, cinco órgãos públicos federais e estaduais afirmam que a responsabilidade por dar uma solução ao colapso no fornecimento de oxigênio no Amazonas é do governo federal.

Ontem, ao lado do presidente Bolsonaro em live semanal, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello admitiu que Manaus vive um colapso no atendimento de saúde. Segundo ele, 480 pessoas estavam na fila para receber atendimento na capital.

"Manaus teve o pior momento da pandemia em abril do ano passado. Houve um colapso no atendimento, que foi revertido. Agora, estamos novamente numa situação extremamente grave em Manaus. Considero que, sim, há um colapso no atendimento de saúde em Manaus. A fila para leitos cresce bastante".