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'Nenhum médico coloca o CRM em cloroquina', diz Kalil

Do UOL, em São Paulo

25/01/2021 14h20Atualizada em 25/01/2021 16h13

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), disse hoje que nenhum médico arriscaria o CRM (registro profissional) para receitar a cloroquina como tratamento precoce contra a covid-19. A declaração foi dada hoje durante o UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Josias de Souza e pela repórter Amanda Rossi.

"Tenho médico na família, meu filho me disse: 'Pai, ninguém coloca CRM em cloroquina. Não vão arrumar um médico para isso. Para eles [os médicos], é uma coisa muito importante, motivo de orgulho. [O governo federal] não vai arrumar nem no exército. O corpo médico do exército é um corpo preparado e importante. Nem lá conseguiram'".

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) vem defendendo o uso da cloroquina e outros antimaláricos para o tratamento da doença, mesmo sem comprovação científica de sua eficácia.

Não é a primeira vez que Kalil critica o presidente Bolsonaro. Em novembro, ele disse que o presidente "derramou dinheiro" e que lhe "faltou liderança" durante o combate à pandemia do coronavírus.

Kalil participava do programa "Roda Viva", da TV Cultura: "Vamos ser muito sinceros: ele derramou dinheiro na pandemia. E negar a pandemia era verbalizar, foi de graça, não custou nada. Então, o mais difícil ele fez. Não economizou na pandemia. Se ele não tivesse negado e liderado a nação, teria gasto a metade do que ele gastou [porque mais pessoas teriam aderido a protocolos de segurança, como o isolamento social]. Faltou a liderança que a gente está vendo na Europa. Faltou um líder para nos guiar", ressaltou o prefeito.

Pressão por cloroquina

Kalil disse ter enfrentado a pressão para adotar o "kit covid" em BH e insinuou resiliência para lidar com as cobranças.

Pressão é de cada ser humano, não é uma coisa. É igual temperamento, caráter, isso é pressão.
Alexandre Kalil, prefeito de BH

"Os que buzinavam, passavam, xingavam, iam para a porta da minha casa domingo... Eu disse para a minha mulher: 'Isso aí só quando começar a empilhar caixão vai acabar, porque nós nos prevenimos, nós fomos a primeira cidade a fechar'. Então, quando começou aquela tragédia em Manaus, acabou a buzina. A pressão vem muito da pessoa. Eu sou daquela teoria: Não empurra não que é pior."

Confiança na vacina

No início de janeiro, Kalil decretou que o comércio da cidade fosse fechado em função do aumento de casos e mortes por covid-19. Mas durante a entrevista declarou que pode reabrir a cidade se as internações caíssem em 60% como em Israel, que, proporcionalmente, é o país que mais vacinou no mundo.

A vacina está aí. Em Israel, as internações caíram 60%. Se em BH, cair 60% eu abro a cidade amanhã.
Alexandre Kalil, prefeito de BH

Utilizando Israel como exemplo, Kalil afirmou também ter 200% de confiança na eficácia da vacina contra a covid-19.

'Presidentes foram presos por menos'

Kalil também criticou a gestão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). "Nós fomos muito mal conduzidos no caso da pandemia. Seria uma cretinice muito grande achar que o governo do Brasil levou essa pandemia como deveria ser levada".

Presidentes foram desrespeitosamente levados à prisão por muito menos. Nada é mais importante que uma vida
Alexandre Kalil, prefeito de BH

"Acho que todos [gestores envolvidos] devem ser investigados. Esse negócio de pegar governador e prefeito que compraram respirador superfaturado é muito pouco para o que aconteceu nesse país. [A pandemia] é a maior tragédia que aconteceu aqui", declarou o prefeito.

As críticas se estenderam à escolha do general Eduardo Pazuello como Ministro da Saúde.

Nos governos militares, em todos os governos militares, os ministros eram médicos.
Alexandre Kalil, prefeito de BH

'Vitória do governo de SP é nítida'

Kalil avalia que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), saiu vitorioso na queda de braço com o governo federal a respeito da política de vacinação.

Que a vitória do governo de São Paulo foi nítida e clara, isso ninguém tem dúvida né. O que eu disse no inicio: Esse jogo já acabou, está todo mundo no vestiário tomando banho. Essa taça já levaram.
Alexandre Kalil, prefeito de BH

'Não vou fazer a festa com dinheiro dos outros'

Kalil também declarou que não tirou fotos junto dos primeiros vacinados de Belo Horizonte "por coerência": "Não fui eu que forcei a barra para a vacina", declarou ele.

Vou fazer festa com dinheiro dos outros, fazer festa para quem estimulou mesmo, que foi o governo de São Paulo?

No entanto, o prefeito de BH disse não descartar a possibilidade de divulgar amplamente quando for a sua hora de se vacinar, publicando vídeos e fotos.

Pretendo ajudar com a credibilidade da vacina. Acho que é um ato importante [divulgar o prefeito tomando vacina], porque não está furando fila, fazendo nada de errado e você pode levar algumas pessoas. Você tem uma liderança que ganhou uma eleição no primeiro turno, tem que imaginar que o povo tenha um pouco de confiança em você.
Alexandre Kalil, prefeito de BH