Líder do governo ameaça 'enquadrar' Anvisa; órgão lamenta 'frase infeliz'
Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR) fez críticas à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ao comentar sobre a aprovação de vacinas contra covid-19. Para Barros, a agência não percebe a emergência da pandemia e precisa ser "enquadrada".
"Estou trabalhando. Eu opero com formação de maioria. O que eu apresentar para enquadrar a Anvisa, passa aqui na Câmara feito um rojão. Eu vou tomar providências, vou agir contra a falta de percepção da Anvisa sobre o momento de emergência que nós vivemos. O problema não está na Saúde, está na Anvisa. Nós vamos enquadrar", disparou Barros, em entrevista ao Estadão.
O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, disse que a declaração de Ricardo Barros foi infeliz e deixou os servidores da agência insatisfeitos.
"Ninguém nos arrancou de casa para fazer nosso trabalho, mas precisamos ter um mínimo de tranquilidade. E infelizmente a declaração do Ricardo Barros foi muito infeliz. Tenho uma coletividade de servidores profundamente consternados com isso que aconteceu. Peço que, se é de conhecimento alguma ilegalidade, que façam logo o suposto enquadramento judicial, para que possamos nos defender. Mas não acrescenta nada isso", afirmou Barra Tores em entrevista à CNN Brasil.
As críticas de Barros surgiram quando ele comentou sobre uma mudança recente da Anvisa: agora os testes da fase 3 não precisam ser feitos no Brasil. De acordo com o deputado, a agência só fez essa mudança porque já havia uma pressão de parlamentares. E apesar da alteração, a Anvisa ainda acrescentou demandas.
"Eles tiraram a fase 3 e colocaram um monte de exigências. Eles não entenderam ainda. Estão fora da casinha, não sabem que estamos numa pandemia, que precisamos de coisas urgentes, que precisamos facilitar a vida das pessoas. É só exigência. Não é possível que tenha 11 vacinas aprovadas em agências no mundo inteiro e nós só temos duas, e eles não estão nem aí com o problema. (...) Tiraram a fase 3 e colocaram mais dez gravetos no lugar. Querem enganar quem? Estão achando que sou trouxa?", questionou.
Mais tarde, em entrevista à CNN Brasil, Barros voltou a criticar a Anvisa, mas de forma menos incisiva.
A própria Anvisa, ao retirar ontem [a exigência sobre] a fase 3, reconheceu que estava com medidas excessivas para a aprovação. Tenho certeza de que ela simplificará ainda mais o processo, sem abrir mão da segurança, para que o Brasil possa avançar na vacinação. Ricardo Barros, líder do governo na Câmara
Barra Torres foi perguntado se a mudança aconteceu devido à pressão do Congresso ou de farmacêuticas — afinal, a alteração favorece a aprovação da vacina Sputnik V, que será produzida no Brasil pela União Química, empresa que tem relação próxima com o governo federal. O diretor da Anvisa negou que isso tenha influenciado.
"Se resgatarem a primeira entrevista coletiva de um órgão federal sobre a epidemia, em 17 de janeiro de 2020, no auditório da Anvisa, eu disse 'nada está escrito na pedra'. Essa doença é mutável. Vem lançando desafios em maré crescente. É necessário ajustes na normatização e vamos fazer quantas vezes forem necessárias. Veja que, com essa flexibilização, a gente deixa de exigir estudo de fase 3 no Brasil, mas não abre mão do estudo. Pode ser em outro país, desde que tenhamos acesso a esses dados. Não é modificação feita por alguém que não está nem aí, como disse o Ricardo Barros. É modificação de quem está revendo seus atos diuturnamente", respondeu.
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