Produção é mais importante do que compra de vacinas, diz vice da Fiocruz
Dois milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca chegam amanhã ao Brasil, anunciou o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Marco Aurélio Krieger, durante o UOL Entrevista, conduzido por Diogo Schelp, colunista do UOL, e pelo repórter Lucas Borges Teixeira. No entanto, Krieger alertou que mais importante do que a compra de vacinas é a necessidade de produção por completo no Brasil.
Se a gente hoje quiser comprar mais vacina, não vai conseguir. Os números que estão sendo ofertados em vários acordos são muito menores que a capacidade que vai ser disponibilizada por Fiocruz e Butantan. É o momento de pensarmos na produção estratégica de alguns insumos porque vimos a competição global em todos os momentos da pandemia.
Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz
O IFA é o ingrediente farmacêutico ativo e permite a produção da vacina contra a covid-19.
A remessa será enviada pelo Instituto Serum, da Índia, e deve chegar a São Paulo na manhã de terça-feira (23). Na sequência, as doses serão encaminhadas a Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, onde serão rotuladas antes de serem entregues ao Ministério da Saúde.
Ainda segundo Krieger, até o final de semana, será entregue mais uma parte significativa de insumos farmacêuticos "para fechar o quantitativo de 15 milhões de doses".
Estamos num momento onde esses principais obstáculos estão sendo superados. A gente tem certeza de que no próximo mês e em abril teremos um grande quantitativo que vai colocar o Brasil numa posição de destaque em relação à entrega de vacinas para a população.
Nesta semana, chegam ao Brasil dois lotes do IFA para a produção de 12 milhões de doses da vacina contra a covid-19.
'Vacina 100% nacional deve ser produzida no 1º semestre'
Ontem, a Fiocruz anunciou que até março deve ser assinado o contrato com a farmacêutica AstraZeneca que detalha a transferência de tecnologia para a produção do IFA da vacina Oxford no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos).
Até então, as vacinas da Fiocruz são produzidas pelo IFA importado do laboratório WuXi Biologics, na China.
Krieger projetou que, com a transferência de tecnologia, ainda no primeiro semestre o Brasil conseguirá produzir a vacina sozinho, sem dependência de outros países. Ele declarou que o processo deve ter início ainda em abril.
Esse sempre foi o nosso objetivo. Incorporando ao máximo a tecnologia de produção, a gente espera ainda no primeiro semestre ter a produção 100% nacional. Estamos muito confiantes. O início é mais delicado, temos que fazer com todo o cuidado porque estamos oferecendo um produto que tem que ter um selo de qualidade muito grande.
A partir do momento em que a transferência de tecnologia for feita, ainda há um rigoroso processo de controle de qualidade.
Essa situação em que estamos atualmente, em que o mundo todo está, é um problema global.
'É importante saber que temos uma luz no fim do túnel'
É muito importante que a gente saber que temos uma luz no fim do túnel, que a gente saiba que a vacina é mais uma ferramenta no enfrentamento da pandemia."
O vice da Fiocruz observou que, mesmo com a vacina sendo aplicada, é necessário manter o uso de máscaras e higienização das mãos, e que a situação da pandemia no Brasil tende a arrefecer enquanto a vacinação for avançando.
Tenho certeza que em abril, maio, junho, estaremos com esses números próximos, finalizando muito próximos de 100 milhões de doses distribuídas e mais de 70 milhões de doses vacinadas, só com esta vacina. Lembrando que tem muitas outras iniciativas importantes também."
Neste mês, um estudo publicado na revista The Lancet mostra que a vacina de Oxford/AstraZeneca reduz em 67% a transmissão do novo coronavírus e tem 82,4% de eficácia após a aplicação da segunda dose, seguindo o intervalo indicado pela farmacêutica.
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