Mais de 90% em UTIs do RN usaram remédio sem eficácia, diz infectologista
A infectologista Marise Reis, integrante do comitê científico para a covid-19 da Sesap (Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte), disse hoje que mais de 90% dos pacientes internados com a doença em UTIs do estado tomaram a ivermectina.
"Mais de 90% dos doentes que estão internados nas nossas UTIs fizeram uso da ivermectina. Então significa que ela não é capaz de fazer o que promete", afirmou Reis em entrevista à TV Globo.
O remédio não tem eficácia comprovada para combater a covid-19, mas tem seu uso recomendado pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), e faz parte do "kit covid" promovido pelo Ministério da Saúde para tratamento precoce da doença.
A infectologista criticou a defesa do medicamento por parte do prefeito, que é médico, e afirmou que tal conduta é "inaceitável".
"Essa defesa, nesse momento, é um acinte. É um acinte ao conhecimento médico, ao conhecimento científico. É inaceitável", afirmou.
Reis também fez um apelo à população para que não tome a ivermectina e saia de casa como se estivesse protegida contra o coronavírus. Esse comportamento, segundo ela, tende a aumentar os casos da doença.
"Não adianta a população se esconder por trás de um comprimido de ivermectina, achando que ele vai te proteger. Não vai. A literatura já é clara em relação a isso. Não há evidências de que esse medicamento protege contra a covid", declarou.
Estado está em alerta
No sábado (20), o Rio Grande do Norte entrou em estado de alerta após o Ministério da Saúde detectar a circulação de duas novas cepas do coronavírus no estado. As variantes encontradas são a P1, de Manaus, e P2, do Rio de Janeiro.
Segundo a Sesap, elas têm maior poder de transmissão e podem estar associadas ao aumento do número de infectados e à ocupação de leitos da rede de saúde no estado.
Ontem, o prefeito de Natal anunciou novas medidas restritivas para conter o avanço da pandemia. Bares, restaurantes e similares só poderão ficar abertos ao público até às 22h. Consumo de bebidas alcoólicas em espaços e ambientes públicos também fica proibido no horário das 22h e 6h.
"A situação é grave e nós precisamos assumir esse compromisso juntos. Nós, sociedade. É importante a população entender que algo errado está acontecendo. E ela precisa tomar um lugar nisso. O lugar que a população precisa tomar é: eu quero continuar vivo até o final dessa pandemia. Isso é um gesto de amor à vida", afirmou a infectologista Marise Reis.
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