Criador do álcool gel: 'Brasil é vítima da gestão muito ruim de Bolsonaro'
Didier Pittet, médico-chefe do serviço de prevenção e controle de infecções do Hospital Universitário e da Faculdade de Medicina de Genebra, e conhecido como criador do álcool em gel, disse que a má gestão da crise provocada pelo novo coronavírus no Brasil levou a mais mortes.
"Os erros na má gestão dessa crise se pagam em mortes, e o Brasil é vítima da gestão muito ruim de Jair Bolsonaro", disse ele, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Na pior semana da pandemia no Brasil, o país somou 25% das mortes no mundo no período entre 15 e 21 de março. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que, no total, 60,2 mil pessoas foram vítimas da covid-19 no planeta nesse período —15,6 mil delas apenas no Brasil.
Em sua avaliação, "Jair Bolsonaro infelizmente se fez de esperto com a doença e influenciou mau comportamento, assim como Donald Trump nos EUA". Ontem, o mandatário disse que o Brasil "vem dando exemplo" no combate à pandemia — a fala veio no dia seguinte ao recorde na média de óbitos por covid-19 no país.
Presidente da missão independente criada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para avaliar a gestão da crise e antecipação de riscos pandêmicos, Pittet prepara com sua equipe uma análise sobre a rapidez, pertinência e proporcionalidade da resposta do país à crise, com comparação internacional. O relatório será divulgado no mês que vem.
Um dos indicadores que ele usa é o excesso de mortalidade (diferença entre a mortalidade observada e a mortalidade esperada, levando em conta a estrutura demográfica de cada país).
"Excesso de mortes teve em todos os países. Mas, quando a gestão da crise não é boa, tem uma repercussão bem além dos mais idosos e mais vulneráveis", disse Pittet. "Pudemos demonstrar que o excesso de mortalidade, o dado mais confiável para comparar, é encontrado em todas as classes de idades quando a gestão é ruim", explicou.
Segundo ele, embora tenha estudo menos o Brasil que outros países, dados intermediários para o relatório apontam excesso de mortalidade a partir da idade adulta no Brasil, nos Estados Unidos, na Índia e também no Reino Unido em menor quantidade, ou seja, sem concentração apenas entre pessoas mais idosas.
Em sua avaliação, trata-se de um excesso generalizado e que poderia ter sido evitado. O médico também ressaltou que as pessoas que pegaram a doença e sobreviveram ficam muitas vezes com sequelas.
Pittet apontou os Estados Unidos como o país que pior administrou a crise da covid-19 entre os desenvolvidos — são mais de 542 mil mortos e 29 milhões de casos no total.
Ele avalia quem um retorno mais ou menos à vida normal não acontecerá antes da metade do ano que vem na Europa. O médico diz ainda que "o mundo inteiro precisa reagir", sempre seguindo as orientações sanitárias, como uso de máscara, lavagem das mãos, uso do álcool em gel e mantendo distanciamento social. Em sua opinião, o vírus não vai desaparecer: "Pouco a pouco vamos ter mais anticorpos e haverá menos propagação rápida do vírus, mas ele vai estar por aqui."
Pittet é tido como uma das personalidades que ajudou a democratizar o uso do gel para limpar as mãos nos últimos anos — criou o gel com a "intenção de propagá-lo ao máximo", sem buscar patente, o que o teria tornado milionário. Ele estima que o gel salva de 5 milhões a 8 milhões de vidas apenas nos hospitais.
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