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Queiroga defende isolamento e promete a médicos de SP "seguir a ciência"

Queiroga visita a Faculdade de Medicina da USP e enfrenta protesto de estudantes - Marcelo Chello/Estadão Conteúdo
Queiroga visita a Faculdade de Medicina da USP e enfrenta protesto de estudantes Imagem: Marcelo Chello/Estadão Conteúdo

Leonardo Martins e Luís Adorno

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo

25/03/2021 17h58Atualizada em 25/03/2021 19h53

O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se reuniu hoje com chefes do Hospital das Clínicas e do Incor (Instituto do Coração), em São Paulo, e disse aos médicos ser contra o chamado "tratamento precoce" para a covid-19, além de ter apoiado o uso de máscaras e o isolamento social como ferramenta principal no combate à pandemia no país.

O ministro visitou a Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que reúne os dois complexos hospitalares, para pedir ajuda para alinhar um novo protocolo nacional de combate à doença nos hospitais do Brasil.

Presente na reunião, o infectologista Esper Kallás disse que o ministro prometeu "seguir a ciência" em sua gestão na pasta.

"O ministro é técnico, tem conhecimento médico e deixou claro a importância do isolamento social, do uso de máscaras e reconheceu a inexistência de um tratamento precoce para o vírus. Estamos no pior momento da pandemia. Se as coisas continuarem como estão, a previsão do futuro é ainda pior", disse ao UOL o membro do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo.

A reportagem confirmou as declarações de Queiroga com outro médico do Hospital das Clínicas que preferiu não se identificar. O encontro foi realizado de forma presencial e com participações virtuais de outros profissionais da saúde, e durou pouco mais de uma hora.

Apesar de ter se posicionado contra um tratamento precoce na reunião, como já fez outras vezes publicamente antes de assumir o ministério, Queiroga foi descrito como "pouco objetivo" pelos médicos presentes no encontro ao ser questionado se abandonaria de vez a recomendação dos medicamentos de forma oficial no ministério.

Por outro lado, o nome de Queiroga para a pasta foi elogiado pelos médicos, que o veem como uma escolha sensata pela defesa da ciência no governo.

Mas, segundo relatou um dos médicos presentes na reunião, a comunidade médica brasileira não se animará com a gestão Queiroga enquanto ele não colocar em prática as ações que defendeu em privado.

O ministro pediu ajuda ao professor da USP e médico do HC Carlos Carvalho para estruturar um novo protocolo de atendimento nas UTI (Unidades de Terapia Intensiva) do país. Carvalho é descrito como um dos principais especialistas de medicina intensiva do país.

Também foi solicitado por Queiroga os protocolos usados pelos dois hospitais para pacientes leves e moderados infectados pela covid-19. A ideia é usar os métodos dos dois hospitais como padrão para todas unidades do SUS (Sistema Único de Saúde).

Nenhum dos dois hospitais utiliza qualquer forma de tratamento precoce, nem hidroxicloroquina ou ivermectina no tratamento da covid-19.

Pelo menos do HC, o ministro receberá nos próximos dias instruções diferentes das defendidas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), no que diz respeito ao tratamento de pacientes leves.

Isso porque o protocolo dos médicos do hospital aos pacientes com leves graus de infecção, segundo profissionais da saúde da unidade, é repouso, hidratação e antitérmicos em caso de febre ou mal-estar, sem receitar nenhum outro medicamento.

Já para casos mais graves, o tratamento padrão tem entre as recomendações o uso de corticoides, prevenções de tromboembolismo e suporte ventilatório. "Apenas o que a literatura médica recomenda. Nada além disso", disse um médico do hospital à reportagem.

A chegada do ministro na entrada da Faculdade de Medicina da USP, onde fica localizado o Hospital das Clínicas, não foi amistosa. Estudantes recepcionaram Queiroga aos com cartazes e aos gritos de "Bolsonaro genocida, mais vacina e menos cloroquina".

Incentivo à máscara e ao isolamento

Um assessor técnico, que está no Ministério da Saúde desde quando o ministro era Luiz Henrique Mandetta (DEM), afirmou à reportagem que, internamente, a chegada de Queiroga traz um incentivo às medidas de proteção contra a pandemia, o que não existia com Eduardo Pazuello.

De acordo com esse assessor técnico, Queiroga, tecnicamente, está mais alinhado às orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) do que Pazuello e, consequentemente, Bolsonaro.

Com a crescente nos números de casos e de mortes pela covid-19 no país e com seguidas críticas feitas à gestão Bolsonaro, a assessoria técnica da pasta prevê que, agora, um ano atrasado, a Saúde deve começar a ser tratada "de uma maneira aceitável".

Os assessores afirmam que o ministro não conversou detalhadamente com a equipe técnica, mas que já apontou que não deve ter espaço para tratamentos precoces sem comprovação científica, assim como deve ocorrer incentivo ao isolamento social e protocolos estabelecidos pela OMS.