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Em alta inédita, cartórios dobram registros de mortes pela covid em 20 dias

Cemitério de Vila Formosa, na zona leste da cidade de São Paulo, em meio à pandemia - ROBSON ROCHA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO
Cemitério de Vila Formosa, na zona leste da cidade de São Paulo, em meio à pandemia Imagem: ROBSON ROCHA/AGÊNCIA F8/ESTADÃO CONTEÚDO

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

26/03/2021 04h00

Os cartórios de registro civil do país tiveram um aumento inédito no número de registros de óbitos pela covid-19 entre os meses de fevereiro e março.

Dados da Arpen Brasil (Associação Brasileira de Registradores de Pessoas Naturais) revelam que foram necessários apenas 20 dias para que o país passasse do patamar médio de mil óbitos diários pela doença para a marca de 2.000.

Segundo números cadastrados até ontem na Central de Informações do Registro Civil, em 22 de fevereiro, o país superou pela primeira vez no ano a média de mil óbitos ocorridos em um dia, alcançando uma taxa móvel de 1.004 mortes.

No dia 14 de março, conseguiu mais do que dobrar a taxa média de mortes naquela data em relação aos anteriores 20 dias: foram 2.018 registros de óbitos.

Como efeito de comparação, para dobrar da média móvel de 500 mortes diárias para mil foram necessários 81 dias (entre os dias 28 de abril e 18 de julho).

Os dados da Arpen ainda tem defasagem e passam por inclusões, já que entre a emissão do documento no cartório, envio das informações e inserção no sistema pode haver um prazo de até 15 dias.

Com os dados cadastrados até ontem, o dia 15 de março era o campeão em mortes pela covid-19 no Brasil, com 2.161 óbitos naquelas 24 horas já registrados. O número, porém, ainda pode crescer.

Os dados dos cartórios apontam as mortes ocorridas no dia e são diferentes dos números apresentados pelo Ministério da Saúde e pelo consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte, que levam em conta as confirmações de óbitos naquela data pelas secretarias estaduais.

Na primeira onda, o Brasil só alcançou média móvel superior a mil mortes diárias em uma data. No dia 18 de julho, ela chegou a 1.003.

Velocidade e colapso

A velocidade nesses últimos dias pode ser explicada pela alta no número de casos em quase todos os estados do país ao mesmo tempo, o que gerou um colapso nas redes de saúde —e que atrasam ou mesmo impedem o tratamento adequado de pacientes com covid-19 em estado grave.

As pessoas que estão nas emergências não estão morrendo à míngua. Essas portas de entrada do sistema de saúde têm equipamentos de ventilação mecânica. Quando é necessário, são usados. Mas, se for comparar o ambiente de uma UTI com o de uma emergência, é bem melhor a UTI. Por isso se batalha para abrir leitos, mas há um limite humano.
Demétrius Montenegro, infectologista e chefe do setor covid do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife

"Equipamentos você pode até comprar imediatamente, mas uma equipe especializada para tratar pacientes não se faz da noite para o dia", completa.