Em alta inédita, cartórios dobram registros de mortes pela covid em 20 dias
Os cartórios de registro civil do país tiveram um aumento inédito no número de registros de óbitos pela covid-19 entre os meses de fevereiro e março.
Dados da Arpen Brasil (Associação Brasileira de Registradores de Pessoas Naturais) revelam que foram necessários apenas 20 dias para que o país passasse do patamar médio de mil óbitos diários pela doença para a marca de 2.000.
Segundo números cadastrados até ontem na Central de Informações do Registro Civil, em 22 de fevereiro, o país superou pela primeira vez no ano a média de mil óbitos ocorridos em um dia, alcançando uma taxa móvel de 1.004 mortes.
No dia 14 de março, conseguiu mais do que dobrar a taxa média de mortes naquela data em relação aos anteriores 20 dias: foram 2.018 registros de óbitos.
Como efeito de comparação, para dobrar da média móvel de 500 mortes diárias para mil foram necessários 81 dias (entre os dias 28 de abril e 18 de julho).
Os dados da Arpen ainda tem defasagem e passam por inclusões, já que entre a emissão do documento no cartório, envio das informações e inserção no sistema pode haver um prazo de até 15 dias.
Com os dados cadastrados até ontem, o dia 15 de março era o campeão em mortes pela covid-19 no Brasil, com 2.161 óbitos naquelas 24 horas já registrados. O número, porém, ainda pode crescer.
Os dados dos cartórios apontam as mortes ocorridas no dia e são diferentes dos números apresentados pelo Ministério da Saúde e pelo consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte, que levam em conta as confirmações de óbitos naquela data pelas secretarias estaduais.
Na primeira onda, o Brasil só alcançou média móvel superior a mil mortes diárias em uma data. No dia 18 de julho, ela chegou a 1.003.
Velocidade e colapso
A velocidade nesses últimos dias pode ser explicada pela alta no número de casos em quase todos os estados do país ao mesmo tempo, o que gerou um colapso nas redes de saúde —e que atrasam ou mesmo impedem o tratamento adequado de pacientes com covid-19 em estado grave.
As pessoas que estão nas emergências não estão morrendo à míngua. Essas portas de entrada do sistema de saúde têm equipamentos de ventilação mecânica. Quando é necessário, são usados. Mas, se for comparar o ambiente de uma UTI com o de uma emergência, é bem melhor a UTI. Por isso se batalha para abrir leitos, mas há um limite humano.
Demétrius Montenegro, infectologista e chefe do setor covid do Hospital Oswaldo Cruz, no Recife
"Equipamentos você pode até comprar imediatamente, mas uma equipe especializada para tratar pacientes não se faz da noite para o dia", completa.
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