Governo conversa com indústria veterinária para acelerar produção de vacina
O governo federal conversa com a indústria de saúde animal para que o setor produza insumos de vacinas de uso humano contra a covid-19 em fábricas destinadas a produtos veterinários. O objetivo é tentar acelerar a disponibilidade de imunizantes no país.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento trata com o Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal) sobre a possibilidade, com o apoio do relator da comissão sobre a covid-19 no Senado, senador Wellington Fagundes (PL-MT), também médico veterinário.
A ideia é usar linhas de produção de ao menos três plantas com as estruturas mais avançadas para evitar o escape de vírus atualmente destinadas a vacinas contra a febre aftosa. Outro ponto visto como vantagem é que a indústria veterinária já domina a tecnologia para o preparo de vacinas feitas com o vírus inativado partindo de uma semente de cultivo de células, em processo semelhante ao usado na CoronaVac. Entre as empresas interessadas estariam Ourofino, Ceva e MSD Saúde Animal.
A estimativa do vice-presidente executivo do Sindan, Emílio Carlos Salani, é que a indústria consiga entregar os primeiros lotes de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) para vacinas do tipo em cerca de 90 dias com base em tratativas com o Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac, por exemplo. O prazo depende, porém, de negociações com as empresas, adequações necessárias nas fábricas, transferência de tecnologias e da obtenção de todas as devidas certificações, entre outros pontos.
Hoje à tarde, o Sindan e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) têm reunião agendada para tratar do assunto. Na semana passada, Fagundes participou de reuniões também com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para incentivar a discussão. O senador afirma que as respostas têm sido positivas.
A produção de insumos pela indústria de saúde animal não precisaria, em princípio, de investimentos públicos e não afetaria a oferta de outros produtos para o setor agropecuário. Atualmente, a indústria tem capacidade nominal de produzir até 500 milhões de doses de vacinas contra a febre aftosa, sendo que a demanda é de 300 milhões, segundo Salani.
Fagundes defende que as empresas veterinários contam com um parque tecnológico extremamente desenvolvido no país e com nível de segurança que precisaria de poucas adaptações para produzir os insumos de vacinas para uso humano. A produção nacional de IFA faria o Brasil depender menos de importações e poderia baratear custos, argumentam os entusiastas da iniciativa.
Procurado pelo UOL na sexta (26), o Ministério da Agricultura disse que o assunto está sendo tratado pelo Ministério da Saúde. Este, por sua vez, pediu que entrasse em contato com a Anvisa. A agência informou que está "avaliando todas as estratégias para ampliar as vacinas disponíveis, sem abandonar os pilares da qualidade, eficácia e segurança".
O tema foi discutido também hoje pela manhã em audiência pública no Senado. A diretora da Anvisa Meiruze Freitas afirmou que todas as possibilidades devem ser avaliadas.
"Vamos avaliar essa questão da produção, em especial a transferência de tecnologia do Insumo Farmacêutico Ativo, verificar quais são as provas de compatibilidade que precisam ser feitas com o insumo farmacêutico que realizou os estudos clínicos que a gente conhece e também as questões relacionadas ao envase e à formulação, que são mais específicas para utilização em humanos. Então, eu queria colocar que estamos abertos e vamos avaliar todas as possibilidades, considerando o potencial que o Brasil tem dentro do parque de produção de vacinas no âmbito veterinário", disse.
Hoje, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Guilherme Leal, colocou a pasta à disposição para apoio no que for necessário.
O secretário de pesquisa e formação científica do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcelo Morales, afirmou já ter prospectado com a Ourofino a possibilidade de a empresa não só atuar na produção de insumos para vacinas com o vírus inativado, mas também para vacinas com proteínas recombinantes, tecnologia utilizada em outros imunizantes.
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