Estamos perto de ponto de não retorno, diz médico sobre pandemia no Brasil
O médico e neurocientista Miguel Nicolelis afirmou hoje que o Brasil está se aproximando de um ponto de não retorno, quando há um colapso no sistema de saúde e no sistema funerário. Segundo o especialista, nesse cenário, o Brasil pode demorar anos para solucionar a pandemia do novo coronavírus. A declaração foi dada em entrevista à GloboNews.
"Apesar do sistema público de saúde distribuído, de termos dobrado o número de UTIs e aumentado o número de médicos, tivemos um colapso nacional. Evoluímos rapidamente para uma situação que chamo de 'não retorno'. É quando colapsam os hospitais e começa a não ter como enterrar seus mortos, a questão para solucionar a pandemia passa de meses para anos", explicou ele.
"É uma tempestade perfeita. Você vê uma confluência de parâmetros que fazem o seu modelo de gestão sair de qualquer controle possível."
Nicolelis ainda lembrou que o Brasil se aproxima do inverno. "Vamos ter pico de outras viroses respiratórias, que vai colocar ainda mais pressão no sistema de saúde."
Segundo ele, a solução é uma força-tarefa de salvação nacional formada por representantes da sociedade civil, comunidade científica, fórum de governadores, associação de prefeitos e outras instituições "dispostas a entrar em operação para tomar uma decisão nacional em conjunto".
Nicolelis também criticou a comissão anticovid criada pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido). "Não adianta só comissão com políticos pra inglês ver. Tem que ter corpo científico que já lidou com pandemia, que sabe o que fazer pra tomar decisões em questão de horas.
Não pode ficar nesse lero lero político do Brasil. Isso joga para o lado do vírus."
Miguel Nicolelis, médico e neurocientista
Segundo o especialista, o Brasil pode ver os indicadores da covid-19 piorarem nos meses de abril e maio —o país viveu o pior mês da pandemia em março, quando 66 mil pessoas morreram.
"Em janeiro, soltamos uma previsão dizendo que, se não entrássemos em lockdown nacional e ampliássemos a vacinação, nós teríamos em março o que estamos vendo. A preocupação é grande porque não conseguimos ver sinal de alívio", afirmou ele. "Os números estão aumentando para abril, que provavelmente será pior do que março".
Nicolelis ainda ressaltou que a diferença entre o número de nascimentos e óbitos, em março, está caindo. "Em março, a diferença caiu pela metade em relação ao ano passado e dois terços em relação a 2019", disse. "O número de mortos cresce tanto que está chegando numa diferença de só 50 mil. É um efeito demográfico".
Nicolelis alerta para a possibilidade do Brasil registrar mais mortes do que nascimentos em abril ou maio. "Seria algo inédito na história do país".
Ele ainda relembrou um alerta que está sendo feito há semanas: o do colapso funerário: "[O colapso] pode levar a uma eclosão secundária de infecções bacterianas, contaminações de solo e do lençol freático por falta de manejo dos corpos das vítimas". Nicolelis também citou contaminações que podem acontecer na cadeia alimentar.
Ele acrescenta que, sem um lockdown nacional e aumento da vacinação, os próximos meses da pandemia serão piores em relação ao número de casos, internações e mortes.
"O governo pode espernear, mas sem lockdown de 21 a 40 dias, não vamos segurar a onda só com 1 milhão de doses de vacina por dia". Segundo ele, a vacinação em massa, mesmo bem-feita, não coíbe a taxa de transmissão do vírus.
A analogia que eu faço é que o adulto da casa tem que tomar decisões, mas tem que achar o adulto primeiro".
Miguel Nicolelis, médico e neurocientista
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