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Médicos relatam pressão por 'kit covid' na Prevent Senior, diz TV

Em julho do ano passado, Prevent Senior já enviava "kit covid" para pacientes com suspeita de terem contraído o novo coronavírus - Arquivo pessoal
Em julho do ano passado, Prevent Senior já enviava "kit covid" para pacientes com suspeita de terem contraído o novo coronavírus Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

12/04/2021 14h23

Médicos que trabalharam durante a pandemia na rede de hospitais da Prevent Senior relatam que sofriam pressão de diretores das unidades de saúde para prescreverem medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. Em um dos relatos feitos à GloboNews, um profissional afirma que foi chamado à diretoria por ter deixado de prescrever remédios do chamado "kit covid" por apenas um dia.

A reportagem da emissora de TV também ouviu médicos que afirmaram terem sido obrigados a dar plantão mesmo infectados pelo novo coronavírus, o que contraria determinações dos conselhos de medicina de todo o país. A rede Prevent Senior também é uma das maiores operadas de saúde do país e concentra suas unidades próprias na cidade de São Paulo.

"Eu deixei de prescrever por um único dia acreditando nisso e acabei sendo chamado à diretoria com orientações bem claras de que eu deveria prescrever a medicação e o que ficava implícito era que se não prescrevesse a medicação você estaria fora do hospital. Voltei a prescrever a medicação por ter sido obrigado a prescrever", resumiu um médico que não quis se identificar por medo de represálias.

"A autonomia, na verdade, é zero, você não tem escolha de deixar de prescrever a medicação. Se você não prescreve, você vai ser demitido", acrescentou. "Eu não prescreveria isso para os meus pais, por que estou prescrevendo para outras pessoas?", indagou o profissional.

Uma outra médica, que afirmou ter se demitido por não concordar com as práticas, disse que diretores dos hospitais alteram a prescrição dos médicos para incluírem medicamentos do "kit covid".

"A gente não tem escolha, não", resumiu a médica.

Entre os remédios que compõem o "kit covid", estão a hidroxicloroquina, amplamente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a azitromicina, a ivermectina e a flutamida, indicada apenas para câncer de próstata.

prevent senior - Reprodução/GloboNews - Reprodução/GloboNews
Mensagem obtida pela GloboNews mostra instrução de diretor da Prevent Senior para não comunicar tratamento a pacientes e familiares
Imagem: Reprodução/GloboNews

Ainda segundo mensagens obtidas pela reportagem de grupos de diretores e médicos da Prevent Senior no WhatsApp, no início da pandemia a operadora de saúde instruiu os profissionais a utilizarem a hidroxicloroquina e a azitromicina em pacientes com covid-19. No entanto, um diretor afirmou que o tratamento não era para ser comunicado aos pacientes nem aos familiares.

Plantão infectado

Dois médicos entrevistados pela GloboNews também relataram a obrigação de trabalharem mesmo estando infectados com o novo coronavírus. A orientação dos superiores teria sido de dar plantão se os sintomas da covid-19 não eram graves.

"Aconteceu algumas vezes, inclusive comigo. Eu estava com covid, tive o diagnóstico, enviei a mensagem para o meu coordenador, avisando que estava com covid, mandei o exame para ele, ele pediu que eu fosse para o plantão mesmo assim para repetir esse exame lá", afirmou, se referindo a uma unidade da rede Prevent Senior.

"O exame foi feito lá também, confirmou novamente que estava com covid, mas ele pediu para eu continuar trabalhando mesmo assim. Não tinha escolha de poder ir para casa e continuei realmente trabalhando com um covid", acrescentou o médico.

"Kit covid" em casa e investigação no MP-SP

Conhecida por adotar o tratamento da covid-19 com remédios sem eficácia comprovada, a rede Prevent Senior já enviava o kit covid" em casa para pacientes com suspeita de terem contraído o novo coronavírus em julho do ano passado. Além de hidroxicloroquina e azitromicina, o pacote continha comprimidos de vitaminas e zinco.

Recentemente, há pouco mais de duas semanas, a operadora de saúde virou alvo de uma investigação do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) por uma denúncia anônima sobre a prescrição da Flutamida, medicamento indicado para combater o câncer de próstata.

A rádio CBN detalhou a denúncia feita ao MP-SP e afirmou que ela se baseia em prints de conversas feitas por celular, que envolvem o médico Rodrigo Esper. Ele teria escrito para outros médicos: "enfatizo a importância da prescrição da Flutamida, de 250 mg, de 8 em 8 horas, para todos os pacientes que internarem. Estamos muito animados com a melhora dos pacientes".

Outro lado

Sobre a reportagem da GloboNews, a Prevent Senior negou por meio de nota que tenha coagido médicos a trabalharem com covid-19, e afirmou sobre a prescrição do "kit covid" que "dá aos médicos a prerrogativa de adotar os procedimentos que julgarem necessários".