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Covid: Rio Grande do Sul ultrapassa Amazonas e registra semana mais mortal

19.mar.2021 - Fila de espera na emergência do hospital da Restinga, na zona sul de Porto Alegre, que sofre com superlotação - EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
19.mar.2021 - Fila de espera na emergência do hospital da Restinga, na zona sul de Porto Alegre, que sofre com superlotação Imagem: EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

14/04/2021 04h00

A explosão de casos de covid-19 ocorridas em março deste ano levou o Rio Grande do Sul a ter proporcionalmente a semana com maior mortalidade pela doença entre todos os estados do país, superando inclusive os óbitos somados na semana que houve falta de oxigênio em hospitais do Amazonas, em janeiro.

Na semana entre 14 e 21 de março, foram 2.262 mortes registradas no estado do Sul, segundo dados dos cartórios de registro civil. Isso dá uma uma média de 19,8 mortes por 100 mil habitantes.

Na semana recorde de óbitos no Amazonas, de 10 a 16 de janeiro deste ano, foram 710 mortes registradas no estado, resultando em uma média de 16,9 mortes para cada 100 mil moradores —a segunda semana com maior mortalidade já registrada no país até aqui pela covid-19. O estado, por sinal, enfrenta queda em internações e mortes desde fevereiro.

O UOL levantou a situação de todos os estados para saber, proporcionalmente, quando foram os picos da pandemia desde março de 2020. Os dados levam em conta as informações contidas na causa de morte dos registros de óbitos entregues aos cartórios. O levantamento foi feito até a última semana completa de março (21-27 de março).

Dos 26 estados mais o Distrito Federal, 16 deles registraram seus picos de mortes na segunda onda da doença, agora em 2021.

No ranking dos dez estados com maiores mortalidades, os nove primeiros foram marcas registradas em 2021. Os cinco primeiros (RS, AM, RO, SP e GO) são de quatro regiões diferentes do país —apenas estados do Nordeste não aparecem.

Conjunção de fatores

Segundo o virologista e doutor em genética e biologia molecular Fernando Spilki, da Universidade Feevale (RS), o Rio Grande do Sul viveu uma situação dramática em março por uma conjuntura de fatores.

"A gente não teve reportado aqui a falta do suprimento de oxigênio em larga escala, como o Amazonas. Mas nós tivemos por muito tempo um índice de superlotação de UTIs [Unidades de Terapia Intensiva] muito grande, passando até em 25% a mais em algumas localidades, mesmo com o incremento do número de leitos", afirma.

Outro ponto que ele cita tem como base estudos genômicos da circulação da variante P.1, que é mais transmissível e, possivelmente, causa infecções mais graves. "Ao que tudo indica, houve o impacto da chegada dessa cepa com mais força em janeiro, crescendo durante os meses de fevereiro e março", explica.

Um terceiro ponto é que o distanciamento social não foi feito de forma completa, com algumas atividades seguindo com 100% de funcionamento.

Houve também problema de uma atitude de parte da população de negacionismo. Então a gente teve problemas que permitiram, por exemplo, a variante P.1 e outras linhagens do vírus se disseminarem, e o número de casos foi muito alto.
Fernando Spilki, virologista

Desde o fim de fevereiro, o Rio Grande do Sul tem a classificação de situação gravíssima de contágio. No entanto, foram impostas apenas algumas restrições aos serviços não essenciais —como a restaurantes e bares.

A percepção dos médicos que atuam no estado é que em fevereiro houve um aumento sem precedentes da covid-19, de forma muito mais intensa e rápida que na primeira onda.

A realidade se alterou de maneira drástica, caótica, com explosão no número de casos. E isso foi sentido em todas as perspectivas: dos relatos de quem trabalha no setor de diagnóstico --com alta expressiva na procura por testagem--, até a ocupação dos leitos.
Guilherme Barcellos, médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Puxado pela marca de óbitos do Rio Grande do Sul, a região Sul teve, em março, mais mortes do que nascimentos.

Fernando Spilki explica que, apesar de o Rio Grande do Sul assistir a uma queda no número de casos e mortes, ainda está longe de ter níveis seguros. "A gente deveria talvez ter mais cautela em relação às questões de flexibilizações porque ainda estamos com um número alto de casos reportados por semana."