Acham que é brincadeira, diz jovem de 17 anos que foi internado por covid
Depois de ficar quase uma semana internado com 50% do pulmão prejudicado por causa da covid-19, o estudante Lucas Jeff dos Santos, 17, não consegue acreditar quando vê, nas redes sociais, seus amigos jovens se encontrando, "dando rolê" ou, até mesmo, indo para alguma festa.
"As pessoas são malucas. Não sabem o que essa doença é, não sabem o que ela faz com a gente", disse ao UOL.
Jeff, como é conhecido pelos amigos de escola, e sua mãe Patrícia dos Santos, 43, suspeitam que a sua contaminação se deu por meio de um familiar que, num domingo de março, foi almoçar na casa da família na zona leste da cidade de São Paulo. O que era para ser uma confraternização "inofensiva", diz Patrícia, quase terminou "no pior".
No dia, o parente de Lucas foi visitar a família infectado, mas ainda não sabia. Ele havia notado sintomas da doença, como mal-estar e dor de cabeça, e prontamente atribuiu a um "resfriado".
"Quando ele [o familiar] disse que estava com sintomas de resfriado, eu não acreditei. Nós ficamos desesperados. Passei álcool na casa toda, deixei a casa aberta. Perguntei: 'como você veio com sintomas pra cá? Você não lê notícias? Como você sabe que não é covid?'", diz Patrícia. "Aferi a oxigenação [do familiar] e estava baixa. Aí começou a cair a ficha dele."
A saturação considerada ideal por médicos infectologistas é maior que 95%. Especialistas orientam que, em caso de infecção por covid-19 e saturação abaixo disso, o paciente procure um hospital.
O parente fez um teste rápido de farmácia, que normalmente não responde se a pessoa está infectada ou não, e indica apenas se a pessoa já teve a doença. O resultado foi um "falso-alívio": deu negativo.
Mesmo assim, a doença foi implacável. Em dois dias, derrubou o familiar, que passou mal em casa e teve de ser levado a um hospital de ambulância, onde foi diagnosticado com covid-19 num teste PCR e acabou intubado em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital particular de São Paulo.
Enquanto o quadro do familiar evoluía, Lucas apresentou os primeiros sintomas —três dias depois do encontro. "Me sentia mole, com febre, dor de cabeça... Fiz o teste e, pronto, deu positivo, com 5% de comprometimento dos pulmões, mas fui pra casa", lembra.
Também em dois dias, o jovem de 17 anos piorou, mostrando que a doença, de fato, atinge todas as idades "Tive febre muito alta e falta de ar, minha saturação chegou em 93%. O comprometimento do pulmão piorou para 15%, os médicos sugeriram internar por precaução, mas como minha mãe teria de ficar no hospital comigo, exposta a covid, decidi ir para casa com antibiótico."
O remédio não teve o efeito esperado e, mais dois dias depois, o jeito foi voltar ao hospital, pela terceira vez. A tomografia apontou um comprometimento ainda maior, de 50% dos pulmões.
Eu, como mãe, fiquei bem abalada. Fiquei com muito medo. É uma doença que escutamos muita notícia ruim, fiquei muito chocada quando decidiram internar. Pior de tudo foi que os médicos estavam inseguros em como estava evoluindo nele que é tão jovem. Os enfermeiros diziam que era um dos primeiros casos que viam tão jovem e comprometido tanto assim.
Patrícia dos Santos, mãe
O jeito que Lucas arrumou para suportar o impacto psicológico da doença foi pensar positivo. "Minha cabeça sempre foi de pensar positivo. Mas é inevitável pensar em coisa pior, de morrer. Você tem um pensamento de choque. Foi difícil."
Após cinco dias internados na enfermaria, entre idas e vindas de febre, Lucas finalmente recebeu alta e terminou o tratamento em casa.
A pessoa acha que essa doença é brincadeira. Todo mundo está cansado, mas as pessoas têm de esforçar ao máximo para se proteger. No final do ano passado, todo mundo relaxou. Pessoas estão saindo agora aos montes, indo em balada. As pessoas são malucas. Não sabem o que essa doença é.
Lucas Jeff dos Santos, estudante
O pai de Jeff também havia sido contaminado, há alguns meses, e ficou internado. Os dois estão bem —assim como o parente. "Nós só temos que agradecer a Deus. Eu sempre digo isso para eles: só agradeçam a Deus", conclui Patrícia.
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