Maranhão não deve ser única porta de entrada de cepa indiana, diz Nicolelis
O médico e neurocientista Miguel Nicolelis disse hoje, durante participação no UOL Entrevista, que o Brasil deveria ter feito um controle mais rígido de entrada nos aeroportos internacionais e que o Maranhão "não deve ser a única porta de entrada" no país da cepa indiana (B.1.617.2) do novo coronavírus. O estado confirmou ontem os seis primeiros casos no país.
"A grande preocupação era evitar que essa variante chegasse ao Brasil porque tem causado um estrago tremendo na Índia. A identificação desses primeiros casos no Maranhão sugere que, primeiro: não deve ser a única porta de entrada; imagino outros relatos nos próximos dias, mas gera uma preocupação muito grande porque é uma variação de interesse", afirmou Nicolelis durante a entrevista conduzida pelas jornalistas Fabíola Cidral e Lúcia Helena. "No Reino Unido está causando problemas sérios e não temos todas as informações das consequências que ela pode causar se se espalhar por aqui."
Segundo o governo do Maranhão, os contaminados foram seis tripulantes do navio Shandong da Zhi, que veio da África do Sul e foi fretado pela Vale para entregar minério de ferro em São Luís.
"Meu medo é que a gente menospreze o que aconteceu na Índia, o vírus venha com variantes embutidas, e o sistema brasileiro já colapsado não dê conta", disse.
Falta de rastreamento
Nicolelis criticou a falta de um rastreamento de contatos pelo Brasil, o que, segundo ele, aumenta o risco de novos casos da variante se espalharem mais rapidamente.
"Eu não sei se esse navio parou em outros portos antes do Maranhão, não temos notícia. Não temos notícias se outros tripulantes desceram desse navio. Como o Brasil renunciou a fazer rastreamento de casos, uma das medidas que os países que lidaram bem com a pandemia mostraram ser vital, nós não sabemos. Não tenho ideia se essas 100 pessoas contataram outras 100 pessoas", disse.
Se você tem uma porta de entrada, um porto, um aeroporto conectado a um hub rodoviário, é uma questão de dias para você espalhar uma nova variante.
Nicolelis relembrou que a variante que surgiu na Califórnia, nos Estados Unidos, chegou antes em Minas Gerais do que na Costa Leste norte-americana porque os aeroportos do Brasil continuaram abertos.
O médico citou que, no início da pandemia, participou de um estudo que mostrou que o não fechamento dos aeroportos internacionais brasileiros, em março do ano passado, foi decisivo para espalhar o vírus pelo Brasil.
"A cidade de São Paulo, próxima ao aeroporto de Guarulhos, o maior do Brasil, que detém o maior hub rodoviário do país, nas primeiras três semanas contribuiu com 85% do espalhamento de casos. A gente está ignorando lições que vêm de 1918, da pandemia de influenza. O Brasil recebeu o vírus da influenza por um navio mercante que chegou em Pernambuco, daí explodiu no país. Nunca fechamos o espaço aéreo da maneira correta", afirmou.
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