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Com vacinação liberada, idosos não conseguem se imunizar no litoral de SP

Posto de Saúde no Rio do Ouro, bairro de Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo - Luis Gava/PMC
Posto de Saúde no Rio do Ouro, bairro de Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo Imagem: Luis Gava/PMC

Ana Paula Bimbati e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

21/05/2021 04h00

A dona de casa Telma Farias, 61, estava ansiosa para a chegada do 6 de maio, quando sua faixa etária foi liberada para a vacinação contra a covid-19. Dias antes, fez o cadastro no aplicativo da Prefeitura de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, para receber a primeira dose. No entanto, duas semanas depois, ela segue sem ter recebido o imunizante.

"Minha filha já entrou em contato pelo telefone, foi no posto de saúde mais de duas vezes, mas eles dizem que precisa esperar", conta a dona de casa, que tem mantido o isolamento para evitar a disseminação do coronavírus.

Como Telma, outros idosos da cidade litorânea estão reclamando nas páginas da prefeitura nas redes sociais, visto que a imunização do grupo de comorbidades, liberado posteriormente, já está acontecendo. A administração municipal diz que o governo não enviou as doses necessárias para o público. A Secretaria Estadual da Saúde nega e culpa o município por falta de organização.

Uma comerciante de 61 anos passa pela mesma situação que Telma. "Todos os dias eu olho o aplicativo com a esperança que minha mãe seja chamada. O pior de tudo é ver outras pessoas sendo vacinadas com uma idade inferior [mas por comorbidade] e minha mãe ainda não", desabafou a filha, que não quis ter o nome divulgado.

A mãe da auxiliar administrativo Camila Pieri, além de ter 61 anos, tem pressão alta e problema no pulmão, mas seguiu sem vacina até fazer reclamações nas redes sociais do município. Depois de mais de uma semana de questionamentos, a equipe do prefeito Aguilar Júnior (MDB) enviou uma mensagem dizendo que sua mãe poderia se vacinar no dia seguinte.

A reportagem também recebeu relatos de idosos que, depois de muita insistência, indo ao longo de uma semana até a UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro conseguiram receber o imunizante.

A aposentada Neusa Sousa, 61 não teve a mesma sorte. Ela liga todos os dias no 156 da prefeitura, mas a resposta é sempre a mesma: é preciso aguardar.

Me sinto triste e impotente, porque em outras cidades do Vale do Paraíba não tem esse tal aplicativo. É só chegar, se for a faixa etária, e apresentar o comprovante de residência para tomar a vacina.
Neusa Sousa, aposentada

app  - Reprodução - Reprodução
Aplicativo 156 de Caraguá é usado para agendamento de vacina contra covid-19
Imagem: Reprodução

De acordo com levantamento do governo estadual, o município registrou, até ontem, 363 mortes por covid-19 e 13.695 casos confirmados da doença.

O que diz a prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Caraguatatuba informou que tem "seguido rigorosamente" as determinações do governo estadual, mas que a quantidade de doses enviadas não é suficiente. "O governo estadual tem ciência da situação, já que foram enviados inúmeros ofícios e comunicados solicitando o envio de mais de doses ao município", afirmou.

O município afirmou que os moradores devem fazer o cadastro no aplicativo para evitar aglomeração e aguardar o agendamento com data, horário e local. Segundo a prefeitura, 18,1 mil dos 22 mil idosos do município tomaram a primeira dose do imunizante.

No sábado (22), a cidade vai realizar um mutirão para vacinar pessoas de 50 a 59 anos com comorbidades.

O que diz o estado

Ao UOL, o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que é "mentira" que o estado não enviou as doses para Caraguá e que, se ainda há idosos que não conseguiram se vacinar, é um problema de "desorganização municipal".

"Nós sempre enviamos o contingente total [de vacinas] referente a cada grupo aos municípios. Para 60 anos, já foi enviado a todos. Mas a distribuição local é do município. Se [a cidade] não seguir as recomendações, é falta de organização municipal. Essas pessoas já deveriam estar vacinadas", declarou o secretário.

Em abril, o Ministério da Saúde passou a recomendar que os estados e municípios não guardassem mais a segunda dose das vacinas e aplicassem todo o contingente disponível. Como a janela da CoronaVac é considerada curta, o estado de São Paulo não seguiu esta recomendação e ainda pede que as cidades sigam reservando a segunda aplicação.

"Acontece que muitos não fazem isso. Nosso envio é feito com o contingente determinado para cada grupo, está lá especificado [nos lotes]. Se eles usam primeira dose para segunda dose, isso [faltar doses] acontece", afirmou Goringhteyn.

Segundo a Secretaria da Saúde, a equipe do PEI (Programa Estadual de Imunização) faz as projeções de avanços de novos grupos de acordo com as confirmações de remessas enviadas pelo Ministério da Saúde e das entregas das fabricantes.

O governo diz que, de acordo com dados reportados pela própria Prefeitura de Caraguatatuba, há um "saldo de 7.900 doses que deveriam ter sido administradas pelo município".