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Sem vacina e com fila para UTI, MS tenta conter casos de 'fungo negro'

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Imagem: Reprodução

Bruna Barbosa

Colaboração para o UOL, em Campo Grande

08/06/2021 04h00Atualizada em 08/06/2021 12h18

A circulação da variante P1, rebatizada de gamma pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em Mato Grosso do Sul, criou um cenário de caos no sistema de saúde do estado.

Até ontem, 264 pacientes aguardavam por uma vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Com a vacinação suspensa por falta de doses e duas suspeitas de mucormicose (doença conhecida por "fungo negro"), se enfrentam os piores dias de pandemia de covid na região.

Um dos pacientes suspeitos morreu. Outro está em tratamento e sob investigação. A Secretaria da Saúde aguarda resultado de análises.

Ao UOL, a secretária-adjunta de Saúde, Crhistinne Maymone, ressaltou que a infecção já é registrada no Brasil antes da chegada do novo coronavírus.

"É uma doença que não é de hoje, agora tem se dado em pacientes imunodeprimidos, principalmente diabéticos. O que precisamos fazer é notificar os hospitais para que se possa fazer o manejo clínico da melhor forma", disse.

O infectologista Paulo Lotufo reforçou que os casos são raros e que não representam risco de pânico. Ele ressaltou que a mucormicose é oportunista e aproveita de alterações imunológicas no organismo.

"O Hospital das Clínicas de São Paulo, que reúne muitos casos de doenças graves, não tem dez casos dessas infecções por ano. A covid-19 altera o epitélio nasal e o fungo pode se aproveitar disso. Aqui no Brasil e no restante do mundo, com exceção da Índia, continua sendo raro", disse.

Algumas características agravam a situação na Índia. "Eles usaram doses de corticoide muito altas, quase todos são diabéticos, mascam muito fumo e também tiveram os banhos com esterco de vaca contra a covid-19", afirmou Lotufo.

Recorde de casos

Em 3 de junho, Mato Grosso do Sul teve o pior dia da pandemia desde o ano passado em relação ao número de pessoas contaminadas. Foram 2.003 casos novos.

"Estávamos com 298.091 pacientes até 5 de junho, dos quais 133.761 foram decorrentes de todo o ano de 2020. Então, praticamente os seis meses deste ano já superaram o ano passado inteiro", comparou.

Entre os mortos, dos 7.072 óbitos registrados até sábado (5), 4.687 aconteceram em 2021.

Por conta do aumento de pacientes com covid-19 em estado grave, alguns pacientes já começaram a ser transferidos para outros estados do Brasil, como São Paulo e Rondônia.

A secretária-adjunta ressaltou que a sociedade também tem participação no descontrole da pandemia.

Para ela, seria necessário "espírito mais coletivo" para enfrentar o problema.

"É o comportamento que vemos no país todo, de continuar fazendo aglomerações, não usar máscara, não fazer distanciamento e não higienizar as mãos. Ou seja, ainda está muito difícil de a sociedade compreender o momento pandêmico", afirmou.

Ela se preocupa com o Dia dos Namorados, que deve provocar novas aglomerações.

Vacinação suspensa

O ritmo de aplicação do imunizante contra a covid-19, que é o mais acelerado no país, precisou ser suspenso no domingo (6), em Mato Grosso do Sul, por conta da falta de novas doses. No entanto, de acordo com a secretária-adjunta, a situação deve ser normalizada amanhã com a chegada de um novo lote da Pfizer, com 30.420 doses.

"Essas vacinas amanhã vão para os municípios e eles já voltam a vacinar. Demoramos menos de 12 horas para levar para as cidades. Sempre somos o primeiro ou o segundo estado na aplicação de doses", afirmou.

Até o momento, 378.054 já receberam a segunda dose da vacina, representando 13,46% da população, segundo o consórcio.