Com covid, Brasil tem 1º semestre com mortalidade 53% maior do que em 2019
O Brasil registrou, no primeiro semestre de 2021, um número de mortes pelo menos 53% acima do mesmo período de 2019, último ano antes da pandemia de covid-19. Se comparado a 2020, a alta no primeiro semestre chegou a 38%.
Os dados estão no sistema de registro civil e constam do Portal da Transparência da Arpen Brasil (Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais). Nesses dois anos, a estimativa é que a população brasileira tenha crescido 1,4%.
Até o dia 30 de junho, foram 962.503 registros de óbitos no país, segundo os dados inseridos até ontem. Os números de junho ainda podem ter acréscimos, já que há registros que chegam com atrasos. Dessas mortes, 322 mil foram confirmadas ou suspeitas de covid-19.
Em 2019, quando não havia casos de covid-19 no país, foram quase 626 mil óbitos nos seis primeiros meses do ano. Em 2020, já com a covid-19, houve 696 mil mortes na primeira metade do ano.
Até ontem, somando os registros já inseridos desse início de julho, o ano de 2021 já registra 1 milhão de óbitos. "Esse número é chocante. O número de mortes de covid-19 por si só já era, mas esse excesso de mortes foi mais que o esperado", afirma o pesquisador, médico e neurocientista Miguel Nicolelis.
Pico em março e abril
A partir de março, o país registrou uma grande aceleração no número de mortes. Naquele mês, 188 mil brasileiros foram a óbito, uma alta de 92% em relação ao número de 2019 e de 75% em relação a 2020. Em abril, foram 187 mil mortes.
Março e abril foram os meses mais mortíferos da história da nossa República. Isso ainda não caiu no inconsciente coletivo da sociedade, na minha opinião.
Miguel Nicolelis, neurocientista
Segundo Nicolelis, a covid-19 também causou "efeitos colaterais" com outras mortes. "O excesso de mortes, claro, veio pelos óbitos de covid-19; mas temos também todas as outras doenças que afetam os brasileiros e que, com o colapso hospitalar, não tiveram acesso aos serviços de saúde. Tivemos problemas de toda ordem em procedimentos, internações em UTI [Unidades de Terapia Intensiva]", diz.
Para ele, o país errou em vários aspectos. "O Brasil tem 13,2% das mortes do mundo, mas nossa população é bem menor, de 2,7%. Ou seja, temos praticamente cinco vezes mais mortes que a média. Neste ano, fomos ainda pior e, para completar, tivemos a demora na compra de vacina", afirma.
Nós falhamos! Foi falta total de planejamento, de reconhecimento da gravidade e, agora, a falta de compra de vacinas no momento certo.
Miguel Nicolelis, neurocientista
Para o pesquisador, ainda é cedo para comemorar qualquer vitória sobre a pandemia devido à queda no número de casos e mortes das últimas semanas.
"A média móvel hoje é equivalente ao pico do final de julho, na primeira onda. Cantar vitória neste momento é um erro, estão entrando outras variáveis: temos o risco com a chegada da variante Delta, que vai disputar com a nossa Gamma. Se ela se sobrepuser, teremos sérios problemas. Além disso, temos uma velocidade baixa da vacinação em segunda dose e não sabemos a proteção que ela confere a essa variante", diz.
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