O que falta para a CoronaVac ser utilizada em adolescentes no Brasil?
Resumo da notícia
- Governo de SP já anunciou calendário de vacinação para adolescentes
- Butantan pedirá à Anvisa liberação da CoronaVac para esse público
- Hoje, somente a vacina da Pfizer está liberada para uso em adolescentes
- Imunização de menores, porém, ainda não recebeu aval do Ministério da Saúde
Mesmo sem o aval do PNI (Programa Nacional de Imunização), estados e municípios já anunciam datas para a vacinação de adolescentes contra a covid-19 a partir do final de agosto. E o Instituto Butantan tentará tornar a CoronaVac uma opção para imunizar esse público.
A CoronaVac já teve o uso aprovado em crianças de 3 a 17 anos, na China, e para adolescentes entre 12 e 17 anos, na Indonésia. No Brasil, a vacina só foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para utilização emergencial em adultos.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, os dados das fases 1 e 2 dos estudos da CoronaVac feitos na China com menores de 18 anos já foram enviados à Anvisa. Agora, ele aguarda a chegada de mais dados para submeter à agência um pedido para estender a utilização da vacina em crianças e adolescentes a partir de três anos de idade.
"Uma parte da documentação deve chegar da China até este fim de semana e, com isso, a gente completa a formalização dessa inclusão", disse Covas ontem, durante o anúncio de entrega de doses da CoronaVac. "Esperamos que, a partir daí, a Anvisa analise a documentação. E esperamos que sejam suficientes apenas os dados que vêm da China para que haja essa inclusão no pedido e na autorização de uso emergencial."
Especialistas em imunizantes disseram ao UOL que a Anvisa pode aceitar o estudo da China se ele estiver bem feito e detalhado, indicando informações como efeitos adversos, quantidade utilizada, entre outros pontos. Não há, porém, uma previsão de quando a aprovação pode acontecer.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por sua vez, diz ver com "boa perspectiva a aprovação" da CoronaVac ao menos para adolescentes com 12 anos ou mais.
"Seguro", diz estudo
No final de junho, o estudo sobre a aplicação da CoronaVac em pessoas a partir de três anos foi publicado na revista científica "The Lancet". Ele indicou que o imunizante é "seguro e induz resposta imune" nesse público.
Em nota, a Anvisa disse que "teve acesso ao estudo publicado sobre o uso da vacina em crianças e adolescentes na China, bem como informações prévias enviadas pelo Instituto Butantan".
A agência esclareceu que "a inclusão de uma nova indicação em bula não é automática, pois requer a análise técnica dos resultados dos estudos". "O objetivo desta análise é verificar se os dados sustentam o uso por determinada faixa etária com eficácia e segurança."
Dessa forma, não há como indicar quanto tempo levaria para dizer se aprova ou não a CoronaVac para uma nova faixa etária. "Para esta avaliação, a Anvisa necessitará de dados completos sobre o estudo."
A agência ainda fez a ressalva de que "tem feito uma interlocução constante com os laboratórios e acompanhado os estudos publicados para dar agilidade aos processos."
Até o momento, porém, o Butantan não solicitou a ampliação do uso emergencial da CoronaVac para menores até três anos de idade.
Faltou combinar
O anúncio do governo de São Paulo, no último domingo (11), sobre um calendário para a vacinação de adolescentes foi criticado pelo Ministério da Saúde e por entidades.
O Brasil ainda não terminou de imunizar com ao menos uma dose os adultos que têm mais de 18 anos, algo que o ministério tem projetado para acontecer em setembro.
"O PNI se reúne toda semana com o grupo de secretários estaduais e municipais. Ocorre que alguns secretários tomam deliberações baseadas no entendimento deles e isso, de certa maneira, rompe o pacto tratado no PNI", disse na terça (13) o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Atualmente, o PNI prevê a imunização apenas de adultos. A vacinação de adolescentes ainda está em discussão.
"A decisão que tomamos hoje [terça] é que se mantenha a rigidez do PNI. Se algum secretário entende de maneira divergente, ele apresenta a sua irresignação e o grupo vai deliberar de tal maneira que consigamos avançar", complementou após reunião com governadores.
Por enquanto, só Pfizer
Atualmente, das quatro vacinas disponíveis no país, apenas a da Pfizer está autorizada pela Anvisa para ser utilizada em menores de 18 anos de idade. Contudo, ainda não há a inclusão desse público no PNI.
Para imunizar adolescentes em agosto, como quer o estado de São Paulo, só poderão ser utilizadas doses da Pfizer. Porém, ela é comprada pelo Ministério da Saúde, que, quando envia a vacina aos estados, faz a indicação de qual público deverá recebê-la. Adolescentes ainda não estão no horizonte.
O governo paulista tem própria apenas uma quantidade da CoronaVac. Ele comprou cerca de 30 milhões de doses para utilização exclusivamente em paulistas.
"Claro que, a partir do momento que tenha a inclusão da vacina do Butantan para crianças e adolescentes também, a gente vai rever o nosso calendário", disse ontem a coordenadora do PEI (Programa Estadual de Imunização), Regiane de Paula. "Nesse momento, a vacina da Pfizer é aquela para o calendário [de adolescentes]."
Para a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), há "cunho político" ao anunciar neste momento a vacinação de adolescentes quando o Brasil ainda não encerrou a vacinação de adultos e o PNI ainda não definiu sobre a inclusão de menores de idade.
Amigos, Doria e Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro, têm trocado mensagens nas redes sociais sobre quem vai vacinar adolescentes primeiro, algo que também foi criticado por Queiroga na terça-feira, que defende que se espere uma discussão técnica sobre esse e outros assuntos envolvendo vacinação. "De nada adianta essas discussões em redes sociais, que Fulano de Tal fez isso, que Fulano de Tal fez aquilo. Isso não resolve."
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