Para vacinar adolescentes, Saúde terá que adquirir mais 38,5 mi de doses
O Ministério da Saúde terá que adquirir mais 38,5 milhões de doses para vacinar os adolescentes de 12 a 17 anos contra a covid-19. O levantamento, obtido com exclusividade pelo UOL, é parte de uma pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e USP (Universidade de São Paulo).
Algumas localidades já começaram a vacinar menores de 18 anos, como o estado de Mato Grosso do Sul e a capital do Maranhão, São Luís. O ministro Marcelo Queiroga já indicou ser favorável à imunização do grupo no PNI (Plano Nacional de Imunização). Adolescentes com comorbidades serão os primeiros a serem imunizados, mas só depois da conclusão do envio de ao menos a primeira dose para a população adulta.
Por enquanto, o único imunizante aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a população entre 12 e 17 anos é o da farmacêutica americana Pfizer.
Uma das coordenadoras do estudo, a professora e pesquisadora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ Ligia Bahia comemora a possível inclusão de adolescentes no programa de vacinação.
"Incluir os adolescentes é relevante por dois motivos: amplia-se a imunização populacional e oferece condições mais seguras para o retorno presencial às escolas", diz. "Mas será necessário um planejamento realista para incluir quase 20 milhões de pessoas em um processo de vacinação lento e que passa por interrupções."
População acima de 60 anos
A pesquisa também mostra que aproximadamente 8% dos brasileiros com mais de 60 anos que tomaram a primeira dose das vacinas CoronaVac e AstraZeneca/Oxford não voltaram aos postos de saúde para tomar a segunda dose. Em oito estados, a proporção aumenta e uma em cada dez pessoas nesta faixa etária não voltou para completar o ciclo de imunização.
Estados com menor procura pela 2ª dose:
Bahia - 14,8%
Sergipe - 14,5%
Ceará - 14,4%
Rio de Janeiro - 13,6%
Pará - 11,7%
Pernambuco - 10,8%
Amazonas - 10,1%
Minas Gerais - 10%
Em todo o Brasil, 2,5 milhões de pessoas acima de 60 anos não retornaram para a segunda aplicação, "passado o intervalo de tempo preconizado", diz o estudo —o equivalente a 8,4% desse público.
Um dos autores da pesquisa, o professor da Faculdade de Medicina da USP Mário Scheffer diz que a baixa cobertura vacinal com duas doses "deixa de conferir proteção maior contra casos graves de covid para milhões de brasileiros e está associada com a persistência do elevado número de óbitos".
"O retorno mais seguro das atividades econômicas e sociais também dependerá de alta cobertura vacinal com segunda dose", afirma.
Ainda faltam campanhas e busca ativa das prefeituras para resgatar tanto aqueles que não vacinaram quanto os que não voltaram para a segunda dose
Mario Scheffer, professor e pesquisador da USP
Mais 182 milhões de doses
O estudo indica ainda que o Brasil precisa aplicar mais 182 milhões de doses para conseguir vacinar completamente toda a população acima de 18 anos contra a covid-19 —ou seja, sem contar os 38,5 milhões de doses que seriam destinados aos adolescentes.
Se a meta do governo for imunizar 90% dos brasileiros com duas doses, seriam necessários 151 milhões. "Isso exigiria a aplicação de cerca de um milhão de doses diárias até 31 de dezembro", diz a pesquisa.
"Não se sabe exatamente qual é a porcentagem de pessoas que precisam estar vacinadas antes que a população possa ser considerada protegida", continuam os autores. "Tal definição requer respostas, ainda não totalmente disponíveis, sobre quanto tempo dura a proteção de cada um dos imunizantes e quão eficazes são as vacinas contra novas variantes do vírus."
Scheffer diz que a velocidade da vacinação "é inadequada ao cenário epidemiológico atual, ainda com muitas mortes, níveis altos de transmissão e circulação de variantes do vírus".
Ele destaca que, além de manter o volume de aplicações diárias, é necessário não atrasar as entregas.
Quantos já se vacinaram?
Mais de seis meses após o início da vacinação, cerca de 62,3 milhões, ou 39% de brasileiros adultos, ainda não tinham tomado nenhuma dose da vacina, segundo os pesquisadores. Cerca de 58,7 milhões receberam a primeira dose e apenas 38,9 milhões estão com o esquema de vacinação completa: tomaram a dose única da vacina da Janssen ou as duas doses das demais vacinas.
O número é um pouco abaixo do informado pelo consórcio de veículos de imprensa (39,3 milhões com vacinação completa, até ontem), que também apura o ritmo de vacinação no Brasil. Enquanto o consórcio de imprensa consulta as secretarias estaduais de saúde, a pesquisa da USP e da UFRJ recolheu os dados do painel de vacinação do Ministério da Saúde.
"76% da população elegível ainda não está completamente imunizada contra a covid no país", afirma o estudo.
Além de Sheffer e Ligia Bahia, participaram do estudo Guilherme Loureiro Werneck e Jéssica Pronestino de Lima Moreira, ambos do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ.
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