Quadrilha que desviou R$ 300 mi da Saúde lavou dinheiro com bens de luxo
Quadrilha acusada de desviar mais de R$ 300 milhões dos cofres públicos —inclusive de hospitais de campanha montados para combater a pandemia da covid-19— lavou dinheiro adquirindo bens de luxo, segundo investigação realizada pela Polícia Federal. As informações foram divulgadas pelo "Fantástico", da TV Globo.
De acordo com a PF, Nicolas André Moraes, de 32 anos, considerado um dos maiores pecuaristas do Pará, é o operador da quadrilha. Ele foi preso em setembro do ano passado, mas recebeu o benefício da prisão domiciliar pouco tempo depois. A Polícia Federal conseguiu novas provas contra Nicolas e, nesta semana, pediu sua prisão preventiva.
O nome dele aparece na lista de alvos da Operação SOS, deflagrada na quarta-feira (18). A operação busca esclarecer fatos relacionados aos crimes de organização criminosa e lavagem de capitais apontados no decorrer das apurações. (Assista ao vídeo abaixo)
É uma quadrilha que vem atuando há bastante tempo. De 2019 para cá, [a quadrilha] encontrou a possibilidade de praticar esse tipo de crime Delegado da Polícia Federal José Neto, em entrevista ao "Fantástico"
As investigações revelaram que Nicolas tinha trânsito livre junto à cúpula do governo do Pará, e que quatro Organizações Sociais indicadas por ele fecharam contratos fraudulentos com valores que chegam a R$ 1,2 bi. Elas passaram a gerenciar cinco hospitais regionais e quatro hospitais de campanha montados para enfrentar a pandemia da covid-19.
Ainda de acordo com as investigações, o governo estadual efetuava repasses de verba a essas organizações, que subcontratavam outras empresas para prestarem serviços nas unidades de saúde geridas pelo grupo criminoso, prática conhecida como "quarteirização".
Depois disso, os serviços subcontratados eram superfaturados ou sequer eram prestados, permitindo que a verba que deveria ser destinada à compra de bens ou serviços retornasse para os integrantes da organização criminosa através de um complexo esquema de lavagem de dinheiro.
Os investigadores descobriram que pelo menos R$ 300 milhões foram desviados pela quadrilha, e usados na compra de carros de luxo, aviões, cabeças de gado e fazendas.
"Não são raros os diálogos aí, em que o desvio era superior a 50% daquilo que era repassado. Eles estavam mais preocupados em desviar esses recursos da Saúde para compra de gado, de fazenda, de carros e aviões, do que efetivamente utilizar nos hospitais", acrescentou o delegado.
À TV Globo, a assessoria do governo do Pará disse que "o estado rompeu com as Organizações Sociais, que não mantém mais nenhum contrato com elas". Disse também que "os órgãos públicos apoiam todas as investigações para que a verdade seja esclarecida". Já a defesa de Nicolas disse considerar a medida de prisão preventiva "excessiva e desnecessária", e que fará "a manifestação adequada e responsável nos autos".
Operação SOS
Cerca de 400 policiais federais, além de servidores da Receita Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União), cumpriram 95 mandados de busca e apreensão, 54 de prisão temporária e seis de prisão preventiva, expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal. Mandados foram cumpridos em oito estados: Pará, São Paulo, Goiás, Ceará, Amazonas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso.
Além dos mandados de busca e apreensão, e prisão, foi determinada a suspensão das atividades de duas empresas utilizadas para lavagem de capitais, o sequestro de bens móveis e imóveis pertencentes ao principal operador financeiro do esquema, avaliados em mais de R$ 150 milhões.
Também foi determinado bloqueio de valores presentes nas contas bancárias das pessoas físicas e jurídicas investigadas que, somados podem alcançar mais de R$ 800 milhões.
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