FDA ironiza uso da ivermectina contra covid: 'Pare, você não é um cavalo'
A FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos) dos Estados Unidos ironizou hoje o uso da ivermectina para o tratamento da covid-19. No Brasil, o medicamento é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que desacredita as vacinas, mas apoia um "tratamento precoce".
Em post publicado nas redes sociais, o órgão diz: "Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério, pessoal. Parem com isso". Assim como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a FDA tem o papel de analisar e liberar o uso de medicamentos e vacinas nos Estados Unidos.
A FDA diz que tem registrado inúmeros relatos de pacientes que procuraram ajuda médica e foram hospitalizadas após se automedicar com ivermectina, medicamento usado nos Estados Unidos para tratar ou prevenir parasitas em animais.
"Utilizar qualquer tratamento para covid-19 que não seja aprovado ou autorizado pela FDA pode ser extremamente perigoso e pode causar sérios danos", alerta o órgão.
Nos Estados Unidos, cresce o movimento antivacina, que questiona a segurança dos imunizantes. Uma pesquisa sugere que a resistência à vacinação segue divisões políticas, com quase 30% dos republicanos dizendo que não serão vacinados, em comparação com apenas 4% dos democratas.
A FDA reforça que a ivermectina não é um antiviral, ou seja, um medicamento para tratar vírus. Nos Estados Unidos, há aprovação, em doses específicas, para tratar vermes parasitas em humanos, como piolhos. Há apenas pesquisas iniciais para análise da ivermectina contra covid.
"Tomar doses excessivas desse medicamento é perigoso e pode causar sérios danos", alerta. Mesmo para uso aprovado, a ivermectina pode reagir com outros medicamentos, como anticoagulantes, e causar overdose, convulsão, coma e até a morte.
Há muita desinformação por aí e você pode ter ouvido que não tem problema usar doses maiores de ivermectina. Isso está errado."
Trecho de texto divulgado pela FDA
Segundo a FDA, a preparação de ivermectina para animais e humanos é diferente. "Por um motivo, medicamentos para animais são geralmente altamente concentrados porque são usados em animais grandes como cavalos ou vacas, que podem pesar bem mais do que nós —uma tonelada ou mais. Tais doses altas podem ser extremamente tóxicas em humanos".
A FDA recomenda que as pessoas continuem a seguir as formas efetivas de se proteger contra a covid: usando máscara, praticando o distanciamento social e lavando as mãos com frequência.
Bolsonaro defende medicamento
Em julho, o presidente Bolsonaro voltou a defender o uso da ivermectina para o tratamento da covid. Durante sua live semanal, o presidente fez referência a um artigo produzido por dez pesquisadores de diferentes universidades no Reino Unido e que teve como base oito pesquisas revisadas, nove não revisadas, seis que sequer foram publicadas e uma divulgação independente.
Justamente por ainda não terem passado pelo crivo dos pares, estudos não revisados não são conclusivos e não costumam ser usados para embasar políticas públicas.
Ivermectina reduz mortes por covid em 56%, mostra estudo da universidade de Oxford. Mais cedo ou mais tarde, vai ser comprovado cientificamente o uso da ivermectina."
Presidente Bolsonaro defende uso de medicamento sem eficácia contra covid
O dado de que o uso de ivermectina pode reduzir as mortes por covid-19 em 56% envolve 11 dos 24 estudos, e a pesquisa não esclarece se os artigos que serviram de referência para este percentual foram ou não revisados.
Na live, Bolsonaro também afirmou que o percentual de redução de mortes citado no estudo seria um "sinal" de que metade das mais de 500 mil mortes por covid-19 no Brasil poderiam ter sido evitadas caso o chamado "tratamento precoce" não tivesse sido "politizado".
No entanto, dado o caráter inconclusivo do estudo reconhecido pelos próprios autores, não há como a pesquisa sustentar a afirmação do presidente —o "tratamento precoce" defendido por Bolsonaro refere-se a medicamentos sem eficácia comprovada para a covid-19.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma, em nota publicada em julho do ano passado e atualizada em abril, que não há estudos conclusivos que comprovem o uso da ivermectina contra o coronavírus.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o uso da medicação apenas em ensaios clínicos, já que é inconclusiva a ação da droga em casos de covid. A European Medicines Agency (EMA), agência reguladora da União Europeia, também desaconselha o seu uso fora de ensaios clínicos.
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