Passaporte da vacina mira 'fujões' da 2ª dose e não livra de cuidados
Proposto pelo prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB) como forma de incentivar a vacinação em São Paulo, o chamado "passaporte da vacina" não pode ser visto como alternativa ou "liberação" de outras medidas restritivas contra a circulação do novo coronavírus, alertam especialistas ouvidos pelo UOL.
Avaliada como positiva, a medida que pretende exigir que eventos de grande porte cobrem de seus frequentadores o comprovante de imunização contra a covid-19 ainda não tem data definida para entrar em vigor. Para bares e restaurantes, essa medida será opcional.
O plano da gestão municipal é lançar, até o começo da semana que vem, um aplicativo com as informações vacinais do cidadão, mas pessoas de outras cidades ou sem acesso à internet poderão utilizar a carteira física fornecida pelo serviço de saúde.
A exigência será que as pessoas estejam com o esquema vacinal em dia. Então, se o cidadão tomou apenas uma dose e ainda não chegou a data para a segunda, não há problema. Mas, se estiver atrasado, pode ser impedido de entrar nos locais. Os lugares que desrespeitarem a medida podem ser multados.
Por ser de transmissão respiratória, de pessoa para pessoa, qualquer medida que estimule a imunização é bem-vinda. A gente sabe que a vacinação não é um problema no Brasil, se houver vacinas, mas há uma alta evasão da segunda dose. Esta medida pode ajudar.
Rachel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
Diante do crescimento do número de pessoas infectadas com a variante delta, a prefeitura tenta, ainda, contornar o alto número de faltosos para a segunda dose. Para médicos, porém, a exigência não faz diferença, por si só, e não pode virar "salvo-conduto" para aglomerações.
A médica sanitarista Sylvana Medeiros, ex-secretária de Saúde de Maceió, lembra, no entanto, que, para funcionar como estratégia de saúde pública, a exigência tem de ser muito bem explicada à população.
De acordo com a gestão de Nunes, a medida, apesar de haver multa para os eventos, pretende ser mais educativa, como a Lei Antifumo.
É preciso tomar o cuidado para que não se dê uma falsa impressão de que a pessoa que tem o passaporte esteja liberado das outras medidas, como uso de máscara e distanciamento, porque não está. Tem de deixar muito claro isso: não liberou geral. É passaporte para que se crie ambientes mais seguros, mas não para que a pessoa esteja livre de qualquer situação.
Sylvana Medeiros, médica sanitarista
"É importante lembrar que ela é um complemento. Nós sabemos que as vacinas funcionam e protegem, mas quem é vacinado também transmite. Então, ela é só mais um artifício", completa Stucchi.
O infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, também defende a medida, mas destaca os empecilhos práticos. "Como a gente vai fiscalizar? E se chegar uma pessoa na porta do cinema que não tomou e diz que esqueceu o comprovante?", questiona.
É muito mais uma intenção do que algo que trará um resultado prático. Mas, levando isso em consideração, acho que ainda vale porque, infelizmente, ainda existem os recalcitrantes e os que falam mal. É uma medida acertada do ponto de vista pedagógico.
Evaldo Stanislau, infectologista do HC-SP
Ajuda com os atrasados da segunda dose
Medidas como essa já estão está sendo adotadas por diversos países e regiões ao redor do mundo, como a União Europeia e o estado de Nova York, nos Estados Unidos, e até no Brasil, como Guarulhos, na Grande São Paulo.
Enquanto por lá a exigência do passaporte visa os que se recusam deliberadamente a tomar os imunizantes, por aqui as autoridades veem o "passaporte da vacina" como uma medida de reforço que pode ajudar a lembrar sobre as datas da segunda dose.
Com tradição em vacinação, mais de 90% dos brasileiros já tomaram ou pretendem tomar a vacina, como mostra pesquisa Datafolha. A cidade de São Paulo, por exemplo, já superou 100% da população vacinada em algumas faixas etárias por causa do "turismo da vacina".
Até ontem de manhã, havia 210 mil pessoas com o esquema vacinal atrasado na capital paulista. No Brasil, estima-se que eles somem cerca de 8 milhões.
"Muitas pessoas por desinformação, saúde ou esquecimento, não estão indo tomar [a segunda dose]. Isso pode mobilizar as pessoas a garantir que estejam com a imunidade completa", avalia Medeiros.
"É importante lembrar que só a primeira dose de qualquer uma das vacinas, fora a de dose única [Janssen], não nos dá nenhuma segurança", alerta Stucchi. "Isso é para a covid-19 no geral, mas em especial com a circulação da variante delta. Por isso, fica o apelo: a gente precisa completar a imunização, independentemente do fabricante."
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